terça-feira, 17 de outubro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 75

 


Continuando...

       - Agora estou aliviado.

       - Cadê a força do soldado norte americano?

       - Não se trata de força, de preparação. Isso nós temos. E armas também, que é fundamental. Aqui, me parece, estamos lidando com forças ocultas. Contra isso não temos preparação.

       - O senhor acha que isso é coisa do diabo?

       - Eu não estou falando isso. Nem sei se realmente existe essa figura diabólica. Eu estou falando de um plano espiritual, onde se manipula a energia, energia essa que pode ser usada para o bem ou para o mal. Muita gente diz que tem uma energia do bem e outra do mal, mas, pelo que li, em alguns livros que chegaram às minhas mãos, a energia é a mesma, sendo apenas manipulada para ser usada numa coisa legal ou não. Quem faz bom uso, colhe coisa boa, mas quem usa para prejudicar alguém, vai colher coisa ruim que lançou contra outra pessoa. A coisa boa vai e volta. Assim como a coisa ruim também.  

         - Nunca li nada a respeito. Então não posso dizer nada sobre isso. Na verdade, nunca ouvi ninguém falando a respeito. Isso é religião?

        - Sim e não. É ciência. Ação e reação. Mas é religião também. Acho que é tudo junto. Sei lá, Mohammed!  Ficou isso na minha cabeça! Nem sei se é bem assim, mas se não for, está perto de ser.

        Enquanto os dois conversavam, já sentados um de frente para o outro, Rachid continuou orando para Alá. Nesse momento já estava de joelhos e murmurava alguma prece, difícil de ser ouvida por qualquer ser humano normal. Parecia que falava mais para si mesmo, do que para alguma entidade. Depois curvava o corpo até encostar a testa no chão. E assim ficou por um bom tempo. Até que de repente se levantou, quase num pulo, e foi caminhando ao encontro do amigo Mohammed e do sargento, se postando em frente deles.

         O bate papo dos dois estava tão interessante que eles nem perceberam a presença de Rachid, que por educação não interrompeu a conversa, preferindo sentar-se do outro lado, quase de frente para eles.

         - Sargento, tem uma coisa estranha que me parece em sonho. Já sonhei três vezes. Sabe que parece um filme? Como o senhor falou em reencarnação, vê se tem alguma coisa a ver com isso.

        - Como é? Pode contar. Se parece filme, é longo.

        - Um pouquinho. Mas eu vou encurtar.

        - Então conta, Mohammed. Acho que tempo é o que mais nos sobra.

        Mohammed sorriu para Téo, cruzou as pernas numa posição muito característica dos iogues e se preparou para narrar o seu sonho.

 

        - Era o ano de 1943, na Alemanha. A segunda guerra mundial não dava nenhum sinal que ia acabar. A perseguição continuava ferrenha contra os judeus. As notícias que chegavam era que a Alemanha estava dominando o mundo. Não tinha país nenhum que conseguisse barrar o poderio bélico germânico.

          Numa cidade do interior tinha uma família que vivia numa pequena propriedade rural, bem afastada de outras moradias. Era uma família curiosa, composta de quatro pessoas. O pai era alemão, de família influente na política e nas forças armadas e a esposa era de origem judia, filha de pai banqueiro.

          Logo depois que teve início à perseguição aos judeus, a família mudou-se para essa região. – Sargento.

         - O que foi, Mohammed?

         - Não me lembro do nome da cidade. Acho que é alguma coisa começando com D.

         - Depois você procura num mapa e vê às cidades que começam com a letra D. Você disse que o lugar era no interior da Alemanha, então procura alguma cidade com D, no interior. Mas continua falando e esquece o nome. Estou ficando curioso com a sua história.

         - Está bem. Se sairmos daqui vivos, eu vou procurar saber.

         - Deixa de pessimismo, Mohammed. Nós vamos sair daqui sãos e salvos. Pensamento positivo.  

         - Continuando: Até o início de 1943, estava tudo bem. Ninguém nas imediações suspeitava deles. O senhor Carl conseguiu tirar o sobrenome da esposa deixando apenas o seu. Só que o filho mais velho, de nome Joseph descobriu a sua origem, por um acaso, e passou a não aceitar essa perseguição racial. Com dezesseis anos já tinha a mente aberta contra os desmandos do regime nazista. Quando morava em Berlin tinha alguns amigos judeus e com os quais continuou mantendo contato por um período não muito longo. Contato esse sem o conhecimento dos pais, claro! se soubessem, com certeza teriam que levantar acampamento e procurar outro pouso. O senhor Carl, mesmo com a proteção de parentes, como um general bem próximo de Hitler, não poderia se arriscar.

           O menino se comunicava por meio de cartas pelo menos com dois amigos. Mas de repente parou de receber respostas de suas cartas. Isso o levou a ficar muito preocupado. Já era visível o seu abatimento. Começou a se esquivar de conversas com os pais e a irmã. Andava pelos cantos amuado, até que a sua mãe percebendo que o filho andava retraído e, preocupada, chamou-o para conversar.

          - Joseph o que está havendo? Tenho observado você muito pelos cantos, com uma expressão um tanto preocupada.

         - Nada não, mãe.

         - Nada não? Você acha que não conheço você? Se não abrir o seu coração para mim, vou falar com o seu pai.

         - Não. O pai não, mãe.

         - Então fala.

............Continua Semana que vem!

 

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