terça-feira, 12 de setembro de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 70

 


 Continuando...

            Amim estava decidido a encontrar a entrada do esconderijo dos americanos, que apenas Ali conhecia. Seria uma missão quase impossível, sabia sem sombra de dúvida, mas alguma coisa no seu íntimo dizia que ia encontra-lo. Quase se rastejando, com a sua lanterna iluminando cada pedacinho daquelas ruínas, ele não deixou de levantar qualquer pedaço de parede que resistira ao bombardeio e não virara pó. E assim foi incansável. Só parava para pedir ajuda a Alá. Quando já   estava se sentindo esgotado, encontrou uma grande pedra rachada ao meio. Quando direcionou o foco de luz para cima dela, viu no meio da rachadura um pedaço de madeira, por baixo. Ansioso arrastou uma parte da pedra, que deixou visível a metade de uma tábua. Ao perceber que ali podia ser a entrada do porão, ficou radiante. Rapidamente retirou a outra metade e então, sem perceber, pulou de alegria, pois apareceu finalmente a entrada para o esconderijo dos ianques. Acenou para os amigos, mas como estava escuro ninguém percebeu. Gritar, ele não podia. Mesmo tendo feito a varredura naquela área de duzentos ou mais metros quadrados, podia aparecer alguém. Ou ser escutado pelos inimigos que estavam dentro do porão. A única opção seria ia até aos amigos. E foi assim que fez. A ansiedade era tanta que se esqueceu de proteger-se de algum fogo inimigo, que porventura estivesse mesmo distante, observando os seus passos. Mas para a sua sorte, a área estava livre de americanos ou qualquer outro inimigo. Chegou a passos largos, quase correndo, junto do chefe.

           - Kalled! Achei o lugar! A entrada do esconderijo dos inimigos!

           - Calma, Amim. Está ofegante. Tem certeza? Abriu para ver se é mesmo a entrada?

          - Não. Mas tenho certeza que é ali. Não tenho dúvida. Estava bem protegida por uma grande pedra. Por sorte nossa, quando bombardeamos uma bomba caiu em cima dela e partiu-a ao meio. Só não estou entendendo quem cobriu aquela portinhola com aquela pedra. Porque tinha gente aqui fora lutando contra Ali e Mustafá.

         - Ou fugiram, ou morreram.  Mas com certeza não voltaram para o esconderijo.

         - Mas como você sabe, Kalled?

         - Amim... – fez uma pausa e olhou o amigo com desdém – Você pode imaginar alguém entrando no porão e depois puxando uma pedra grande, como você disse, para cima da portinhola?  Faça-me um favor! Amim, pensa! Só pode ter sido os que estavam do lado de fora! Pelo amor de Alá!

         Amim a princípio ficou amuado, mas levantou a cabeça e deixou escapar um sorriso sem graça. Teve vontade de responder alguma coisa, entretanto àquela hora, não era propícia para um bate-boca; além do mais, com certeza, poderia sofrer uma dura represália do seu chefe, que era uma pessoa que não levava desaforo para casa. Como conhecia-o há muito tempo, sabia que a punição para esse tipo de caso, que chamava de insubordinação, seria a morte. Então preferiu engolir palavra por palavra dita por ele.

          O silêncio ficou girando entre os quatros milicianos. Os três não estavam entendendo a causa pelo qual o chefe não tomava nenhuma iniciativa. Kalled, com a mão no queixo, olhava para o céu perdido em pensamentos. Mas nenhum dos seus comandados teve coragem de interrompê-lo. Depois de cinco minutos, que parecia uma eternidade, é que o chefe resolveu sair do mutismo:

          - Eu não vou sair daqui sem me vingar de todos. Já pensei muito a respeito dos ianques. Eu sei que eram quatro, mais os garotos. Pensei, pensei muito. Aquela tampa pode ser uma armadilha. Quem me garante que não instalaram uma bomba nela?

          Amim não quis interromper o que o chefe falara, mas levantou um braço pedindo permissão para falar. Como Kalled tinha feito a pergunta e ficara em silêncio, permitiu então que o subordinado expusesse alguma dúvida.

          - Chefe. Acho que o senhor está certo. É um risco grande levantarmos aquela portinhola. Mas podemos jogar uma granada em cima dela. Se tiver com alguma bomba, vai explodir com a gente distante. O que o senhor acha?

          Kalled sorriu e permitiu que ele mesmo lança-se a granada. Amim então pegou uma que um dos amigos lhe oferecia e, antes de caminhar até onde estava a portinhola, sorriu um sorriso cheio de orgulho. Acendeu a sua lanterna e foi iluminando o caminho até o destino final. Olhou com cuidado o local e examinou-o atentamente. Colocou a granada na rachadura da pedra e concluiu que ali seria o melhor ponto. Depois achou que não precisava, era só jogá-la e sair correndo. Quando ia tirar o grampo, desistiu no meio do caminho. Estava visivelmente tenso. A dúvida abraçou-o. Esfregou as mãos e olhou na direção dos companheiros, deixando claro que queria pedir ajuda, mas como não via ninguém, percebeu que não tinha outra saída a não ser resolver sozinho a questão.

          O tempo foi passando e ele ali em pé sem saber o que fazer. Uma questão simples, mas que o deixava indeciso. –“Nunca aconteceu isso! – pensava aborrecido. De repente decidiu por introduzir a granada entre as duas bandas da pedra. Tinha que ser rápido para se proteger dos estilhaços lançados pela explosão. Apontou o facho de luz da lanterna para onde ia correr e voltou com o lume para cima da pedra. Tirou com cuidado a trava da granada e quando ia colocá-la no local que escolhera, escapuliu da sua mão. Pegou-a com rapidez, colocou-a no lugar determinado e saiu dali correndo. Mas o pobre diabo tropeçou em uma pedra que estava no caminho e caiu a pouco metros da portinhola. Tentou se levantar, mas a explosão pegou-o pelas costas. Foi morte instantânea. O impacto da explosão gerou uma chuva de destroços, pedaços do seu corpo e outros materiais, lançados para todos os lados. O que restou do seu corpo, foi quase nada.   

          Os três amigos, que estavam bem protegidos, nada sofreram. Como todos ficaram encolhidos e com o rosto encostado no chão, não viram quando Amim fora atingido e perdera a vida. Não saíram de imediato de onde estavam, aguardaram alguns minutos até a poeira baixar um pouco. 

.......Continua Semana que vem!

 

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