terça-feira, 22 de agosto de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 67

 


 Continuando...

          - O que houve sargento? – perguntou segurando no seu braço.

          Téo olhou para o amigo, mas não teve forças para responder, apenas mandou-lhe um olhar triste e medroso. Mohammed não entendeu o que estava se passando com ele. Com gentileza puxou-o e convidou-o a sentar-se um pouco. Téo aceitou a sugestão do menino e sentou-se, encostando-se à parede fria do metal, mas em seguida fechou os olhos e mergulhou em pensamentos. Depois de alguns minutos nesse estado, abriu os olhos e disse:

          - Mohammed, está acontecendo alguma coisa estranha comigo. De repente bateu um medo, que não estou entendendo. Não é medo daqueles bandidos, isso eu tenho certeza. Tive a nítida impressão que não vou conseguir sair daqui desse labirinto.

          - Calma sargento. Não fica assim não. Nós vamos sair daqui sim, pode ter certeza. Isso que o senhor está sentindo é desgaste emocional. Em pouco tempo o senhor perdeu três amigos. Isso foi uma carga muito pesada para o senhor.

          - Talvez. Mas tem alguma coisa de sobrenatural.

          - Fantasma?

          - Se é fantasma, eu não sei. Só sei que continuo arrepiado dos pés à cabeça. Isso não é legal. Perdi os três amigos e agora tem também o seu amigo que desapareceu, sem deixar nenhum sinal.

          - Isso é... – falou Mohammed pensativo. Depois olhou para o teto do túnel, alisou o queixo e completou o que tinha começado a falar:

          - Sargento eu sinto também umas coisas estranhas, mas estou otimista. Tenho certeza que vamos achar o meu amigo Rachid e encontrar o caminho da saída. Não podemos ficar pessimista não. Vamos levantar e ir em frente. O senhor sempre me pareceu uma pessoa forte e valente.

          Até que com essas palavras, que pareceram mágicas, o sargento esboçou um leve sorriso e, antes que o menino falasse mais alguma coisa, já estava de pé. E como por encanto, já parecia outra pessoa. Aí sorriu com vontade para o menino e estendeu-lhe rapidamente o braço e esperou que ele o segurasse, puxando-o em seguida. Mohammed em segundos já estava de pé. Bateu no ombro do sargento e disse entre risos:

          - É sargento, o senhor renasceu! O senhor é uma nova pessoa! Graças a Deus! O que foi que aconteceu? Não precisa nem responder, porque acho que nem o senhor vai saber dizer, não é? Vamos em frente?

          - Vamos Mohammed. Vamos. Acho que não vou saber mesmo, responder à pergunta que você me fez. Então vamos.

         - É assim que se fala, sargento. Vamos procurar Rachid e depois encontrar a saída desse lugar misterioso.

        - Você falou certo: misterioso. Esse lugar é muito estranho mesmo.  

        Recomeçaram a caminhar, deram os primeiros passos, mas por incrível que pareça não saíam do lugar. Olharam-se e tentaram forçar os passos, mas os pés não obedeceram. Conseguiam até levantá-los, entretanto o que acontecia era inexplicável: não iam para à frente e voltavam sempre para a mesma posição. Depois de algum tempo de luta, outro fato estranho: de repente começaram a ser arrastados por alguma força desconhecida. O tempo foi curto nesse transporte. Mas quando pararam, perceberam que os pés não tocavam no chão. - Levitação? – falou baixinho, Téo.

        Como chegou, à força estranha sumiu. Perceberam então que podiam controlar novamente às suas vontades. Movimentaram-se livremente. Com uma expressão de incredulidade, Mohammed olhou para Téo e falou:

        - Sargento. Fala para mim: não aconteceu nada aqui, não foi? Estamos sonhando, não é?

       O sargento respondeu com a mesma cara de incredulidade:

        - Mohammed eu não quero acreditar em nada que aconteceu aqui. Pode ter sido um delírio.

        - Mas nós dois deliramos juntos? Sonhamos juntos também?

        - Mohammed... - Téo deu uma pausa, pensando no que ia responder. Depois de alguns segundos continuou. – Mohammed eu falei que podia ter sido um delírio, mas acho que não foi. Também não sei o que aconteceu. Isso tudo foge ao meu conhecimento. Sabe o que senti? – Mohammed balançou a cabeça negando. – Eu senti que eu levitei. Alguma força que desconheço tirou a gente do chão.

        - Sargento, mas existe isso? Já ouvi falar em levitação, mas nunca vi ninguém tirar os pés do chão sem ser ajudado por outra pessoa. Ou então pulando.

       - Nem eu. Nem eu tinha visto, mas vi agora. Você levitou e eu também.

       - Que coisa de doido, sargento!

       - Vamos aproveitar que estamos livres e vamos em frente.

       - Acho melhor. Senão vou ficar maluco, só em pensar nessas coisas que aconteceram.

      Mal eles deram os primeiros passos, Téo parou repentinamente e segurou o braço do menino. Mohammed não entendeu, mas parou na mesma hora. Olhou para ele para perguntar o que tinha havido. Viu que ele apontava para o fundo do túnel.

        - O que é aquilo, sargento?

        - Sei lá. Que coisa estranha. Não parece uma porção de ondas?

        - Não sei. Nunca vi onda nenhuma.

        - Você nunca foi ao mar?

        - Eu nunca. Nunca vi onda nenhuma.

        - Mohammed, está parecendo várias ondas, uma em cima da outra.

        - Se a onda do mar é assim, até que é bonita.

        - No mar é bonita, mas aqui é muito estranho.

        - Sargento, a gente vai até lá, ou vamos ficar aqui parados?

        - Não sei.

        - Está com medo, sargento?

        - Medo? Não. Vamos chamar de cautela.

        - Sargento, eu estou achando que podemos ir até lá. Se alguém ou alguma coisa quisesse fazer algum mal contra a gente, já tinha feito. Se essas ondas tivessem vindo até a gente, já estávamos mortos. O senhor não acha?

        - É meu amigo, você tem razão. Se essa água toda tivesse vindo até nós, já tínhamos nos afogados. Vamos em frente.

        A cada passo, as ondas recuavam, recuavam até desaparecer por completo. Os dois se olharam com um ar de alívio, respiraram fundo, ao mesmo tempo, parecendo que aquilo tinha sido combinado. Isso foi motivo de risos espontâneos. Quem visse aquelas duas pessoas juntas, juraria que eram velhos amigos, tal a afinidade que explodia a olhos vistos.

 ..........Continua na Semana que vem!

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