terça-feira, 1 de agosto de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 64

 


Continuando...

             Enquanto pensava, engolia a saliva, que teimava em querer sair pelos cantos da boca.

             Após um longo período ali parado, sem conseguir mexer um músculo sequer, com muito esforço, conseguiu levantar um braço e apontar para o fundo da sala. Parecia que queria mostrar para alguém o que estava vendo. De repente tinha esquecido que não estava com o amigo Mohammed. Ou foi causado por um movimento involuntário, gerado pelo medo que comandava a sua vontade. Porque o que ele queria mesmo era sair dali correndo, sem mesmo olhar para trás.

           Para onde o seu dedo apontava, tinha uma imensa imagem, com aproximadamente três metros de altura, talhada num mármore branco, e, de cada lado, mais três estátuas menores, medindo aproximadamente dois metros de altura. Nem a imagem do centro e nem as das laterais tinham as formas do rosto definidas. Parecia que vestiam roupas para viagens espaciais. Rachid olhava e não entendia muito bem o que via. Até conseguia identificar essas roupas, pois já tinha visto numa revista uns astronautas americanos com esse tipo de indumentária. Mas parecia um pouco diferente. Do jeito que estava nervoso, não conseguia saber onde estava a diferença. A única certeza que tinha naquele momento era que estava muito assustado.

             Depois de cansar de passar os olhos por aquelas esculturas, sem perceber, os seus movimentos foram voltando. Como num passe de mágica, já estava novamente normal, podendo se movimentar livremente. Já os nervos, continuavam em frangalhos. A primeira coisa que fez, foi andar para trás até sentir as costas na parede metálica, tão fria quanto à morte. Com o toque do corpo, o susto foi o maior que já tivera: instantaneamente abriram-se várias gavetas pelas paredes laterais, emitindo um som parecido com uma máquina de furar, em velocidade máxima. Colocou as mãos nas orelhas tentando se livrar daquele som infernal. Até que o silêncio retornou em segundos, mas deixando um assobio no seu ouvido, mas que também foi cessando lentamente até sumir por completo.

               Rachid já estava refeito. Olhava para aquelas gavetas abertas, porém não identificava o que elas continham. Todas, ele contou uma por uma, em número de trinta, sendo quinze de cada lado, aguçava a sua curiosidade. Com os passos tímidos foi se aproximando. Na primeira que se chegou, quase caiu de susto, pois uma luz azulada vestiu-o dos pés à cabeça. Como num flash o medo foi embora. Sentiu uma felicidade nunca antes sentida, brotar dentro de si. A luz como chegou, foi embora. Aproximou-se mais da gaveta e olhou para dentro. Dessa vez não se assustou com o que viu. Dentro de um pote de vidro transparente tinha um feto, boiando dentro de um liquido, também, transparente. Observou que na borda do pote tinha alguma coisa parecida com letras. Não identificou o que poderia estar escrito, com cinco caracteres desconhecido. Passou para a segunda gaveta e tinha outro feto. Nesse a inscrição era diferente da primeira. Correu por todas às trintas gavetas e constatou que em todas elas continham fetos, com inscrições diferentes. Não conseguiu fazer nenhuma comparação, com a língua que falava e nem com o português, que o amigo Mohammed tinha mostrado.

            Depois de olhar a última gaveta, as luzes, que não conseguiu ver de onde saíam e que iluminavam as laterais, se apagaram. Mas imediatamente no centro do salão um facho de luz esverdeada caiu do teto, iluminando uma circunferência com aproximadamente um metro de raio. Rachid ficou hipnotizado e foi caminhando até ficar no centro dessa circunferência. De repente vários pontos de luz, em formato de cone, começaram a girar pelo salão. As cores foram variando, somente permanecendo verde a que o envolvia. Ele apreciava aquele festival de cores maravilhado. Enquanto transferia o seu olhar de um cone para o outro, percebeu que dentro de cada um, ia sendo moldada uma figura humana, que se esticava ininterruptamente até ficar na altura de aproximadamente dois metros.

          Um detalhe chamou a sua atenção, que o levou a suspeitar que não se tratasse de seres humanos: eram pessoas magras, com braços longos e dedos muito compridos, rosto afilado, quase sem boca, com nariz pequeno e olhos grandes. Não saiam de dentro do cone de luz, mas falavam alguma coisa que o menino não entendia. Era um som parecido com um assobio e era assim que se comunicavam, entre si.

          A tranquilidade que sentira antes foi se acabando. Os seres se movimentaram ao seu redor, mas nunca saindo de dentro do cone, como estivessem executando algum ritual. Parecia que dançavam embalados por alguma música, mas que ele não conseguia ouvir. Depois de muito rodarem pela sala e em torno dele, pararam próximo das estátuas e ali ficaram até que a luz projetada em cada um deles foi desaparecendo lentamente até sumir de vez. Não ficou nenhum vestígio das criaturas.

          O único local que continuava iluminado era onde ele estava. Rachid olhava para todos os lados, mas não via mais nada. Nem as estátuas e nem as gavetas eram vistas. Parecia que só existia ele e aquela luz verde que o envolvia. Tentou se movimentar dentro daquele espaço iluminado, mas não conseguiu nem levantar um pé sequer. Então pensou em erguer os braços, aí, para sua surpresa, eles levantaram-se sozinhos, parecendo flutuar.  Tentou abaixá-los, entretanto uma força contrária ergueu-o mais ainda. Sentiu que aquele pequeno espaço que ocupava, era uma prisão. Mal pensou nisso, o tom de luz esverdeada foi ficando mais intenso. De repente começou a sentir o seu corpo ir crescendo. A sensação era que estava com mais de um metro e oitenta de altura. As roupas foram se rasgando e caindo. Os sapatos saíram dos seus pés, sem que percebesse. Estava se sentindo outra pessoa. Teve vontade de gritar, mas não conseguiu. Tentou sair de dentro do cone iluminado, porém uma força que desconhecia o empurrava para o centro do ponto de luz. A luta era acirrada entre ele e o desconhecido, que não o deixava avançar nem um centímetro. Depois de muitas tentativas de sair dali, desistiu, devido ao cansaço. Aí, como num passe de mágica, a luz verde se apagou e uma luz clara, como o dia, iluminou todo o salão. Rachid se sentiu solto, pois as barras de luz já não o prendiam mais. Olhou para si e se viu uma pessoa mais velha, talvez com trinta anos ou mais um pouco. As roupas que vestia, era de um tecido que desconhecia. O calçado também era diferente, parecia uma película que envolvia os seus pés. Era confortável e protegia-os. Mas não tinha a sensação de pisar no chão. Na realidade a sensação era de flutuação. Era isso, flutuava. A princípio se sentiu bem, entretanto alguma coisa invadiu o seu cérebro, mudando completamente o bem-estar, em desconforto. Esse desconforto virou medo. Esse vilão, que é às vezes a rede de proteção, e na maioria das vezes toda a causa do insucesso do homem, voltou com tudo. Causou logo a aceleração do coração e a sensação de pânico. Sem percebe foi recuando até encostar as costas na parede fria. Com os olhos esbugalhados, ainda deu uma olhada pelo salão e percebeu que realmente tinha sumido as gavetas e as esculturas. Já o salão estava tão claro, que achou que o sol estava ali dentro. O que aconteceu comigo? Pensou, enquanto tentava se olhar. Depois de se examinar até onde a sua vista conseguia chegar, se virou e viu no reflexo da parede, o seu rosto. Ficou assustado com o que viu. Nunca pensou que um dia fosse ter barba igual a um talibã. Mas será que sou eu mesmo? Pensou e se virou para olhar o salão. Mas mais uma vez o local ficou às escuras. Porém não demorou muito e uma luz tênue foi descendo do teto e começou a aparecer o nosso sistema solar flutuando no espaço. Em seguida foi dado um destaque ao planeta Júpiter, com as suas luas circulando ao seu redor. Depois as luas foram sumindo até ficar apenas uma. Rachid olhava, mas não entendia o que aquilo queria dizer. Mas achou bonito, aquela dança dos planetas. O sol no centro - teve a sensação que os raios solares chegavam até ele - parecia real.  Cada planeta tinha embaixo o seu nome. Ficou emocionado quando viu a Terra: aquela bola azul onde morava.  Estava impressionado com aquilo tudo.  Não se lembrava de ter visto algo parecido na vida. O pouco tempo que frequentou a escola, com certeza, não fora apresentado ao sistema solar, só ficou sabendo porque ecoou dentro da sua cabeça a revelação. A terra, não sabia que era tão bonita. Para ele, a Terra era esse lugar terrível que morava que só vivia em guerra e onde perdeu os pais, muitos parentes e amigos. Como podia ser um planeta tão bonito e tão ruim para se viver? Pensava, com a incredulidade brilhando nos seus olhos. Mas de repente lembrou-se de Alá, e pediu desculpas por acreditar tão pouco nas pessoas. Entretanto, erguendo as mãos postas, falou baixinho, só para ele e seu Deus ouvir:

          - Alá. No senhor eu não tenho dúvida alguma. Acredito de olhos fechados. Eu sei que tudo que acontece aqui é porque o Senhor depois vai punir essas pessoas que fazem tanta maldade. O Senhor vai permitir que eu faça, algum dia, justiça com as minhas próprias mãos. Vou punir um por um dos ianques. 

...........Continua Semana que vem!

 

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