terça-feira, 7 de março de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 43

 


Continuando...

            Enquanto os dois em silêncio se embriagavam de energias emanadas dos astros, não tão longe dali duas sombras deslizavam pela noite. Parecia que tinham endereço certo. Caminhavam na direção dos escombros, onde se encontravam os dois. Iam com passos firmes, mas com pisadas que não causavam praticamente qualquer ruído que os denunciassem. As armas, cuidadosamente envolvidas em graxas, para que não reluzissem com a claridade da lua, presas debaixo dos braços, já estavam devidamente prontas para entrarem em ação. E duas granadas presas na cintura de cada um deles, completava o traje da dupla. Terroristas ou simples ladrões? Ainda não se sabia.  

            O que caminhava um pouco mais à frente, já banhado pela luz da lua, já se aproximando dos escombros, parou, pendurou a arma no ombro e pegou uma das granadas, com uma determinação que supunha-se que iria arremessa-la. Mas com o mesmo gesto que tirou da cintura, colocou de volta. Depois sinalizou para o companheiro e voltou a caminhar, agora mais vagarosamente, seguido pelo parceiro que acompanhava todos os seus movimentos, sem se perder nos passos, até chegarem nos escombros. Cuidadosamente penetraram alguns metros até encontrarem o que restou de uma parede, com mais ou menos um metro de altura, que conseguira se manter de pé. Com mais um gesto de mão, o que parecia comandar, mandou o outro arriar-se atrás de uma outra parede, um pouco menor, que ficava há quase cinco metros de distância, mas que não dava para se perderem de vista.

           Téo de repente se sentiu incomodado, mas não sabia o motivo causador daquele desconforto. Mas tinha certeza que o que estava a caminho não ia tardar a chegar. Sempre foi assim, e agora não ia ser diferente. Era só ficar atento e esperar. Logo, logo algo de ruim ia acontecer. Era uma questão de tempo. Todos às vezes que assim se sentiu, o mundo parecia que ia desabar na sua cabeça. E sempre desabou. Já que estava sentindo a mesma coisa, não tinha dúvida.

           Os seus pensamentos foram interrompidos. Alguma coisa sacudiu-o. Quem ou o quê, não sabia dizer. Mal ameaçou se levantar, sentiu que alguma força o empurrou para baixo. Tentou levantar-se novamente, mas essa força invisível forçou-o, até que o jogou no chão pedregoso. Aquilo era um fato novo. Nunca tinha acontecido. A sensação que sentira era de que duas mãos de tamanho descomunal tinham pousado nos seus ombros. Resolveu então aceitar o que estava acontecendo e ficar atento. E esperar.

           De onde estava, pouco dava para ver ao redor. A área era muito grande. Todos aqueles escombros, eram de várias casas. Com cuidado colocou-se de joelhos, meteu a mão no bolso, retirou uma touca negra e enfiou-a na cabeça, ficando apenas com os olhos de fora. Depois se colocou de cócoras e em seguida esticou-se até ficar numa posição que pudesse fazer uma varredura com os olhos até onde lhe fosse permitido visualizar. A princípio não viu nada que pudesse se preocupar. Mas estava com uma pulga atrás da orelha. Quando ficava assim, sabia que alguma coisa estava prestes a acontecer. Onde estava tinha uma proteção de duas meias paredes. Ali estava bem colocado. Olhou para Mohammed e notou que a posição dele era mais vulnerável. Abaixou-se e rastejou até onde estava o amigo, que continuava viajando nas estrelas, alheio a todo e qualquer acontecimento que pudesse estar acontecendo nas imediações. O universo fazia parte da sua intimidade. Caminhava no céu, como se estivesse caminhando na sua casa, entre familiares, mesmo que não se lembrasse de já ter tido uma casa, ou mesmo uma família. De repente procurava no firmamento a sua morada, por que muitas vezes tivera a sensação que a sua casa era em qualquer uma daquelas estrelas, menos ali por onde perambulava, dias e noites, sem saber quem era e com um único objetivo, que era manter-se vivo.

        A cara dele, como dizem, era de paisagem. O seu estado era de êxtase. Ninguém conseguiria adivinhar em que planeta, estrela ou qualquer ponto do cosmo que estivesse pousado com a sua nave.

          Nesse momento um leve som chegou até aos ouvidos de Téo. Ele, não querendo assustar o menino falou baixinho:

            - Mohammed. Não fale nada. Silêncio, ok?

            O garoto apenas virou o pescoço na direção do sargento e não emitiu nenhum som. Ele já estava acostumado com a adversidade, se é que alguém fica acostumado, e com isso – parece - tinha abolido o susto. Qualquer situação adversa, ele não deixava transparecer qualquer emoção. Ou conseguia esconder muito bem os sentimentos. O menino era uma incógnita.

           Téo se aproximou ao máximo dele e falou baixinho, quase imperceptível, na sua orelha:

            - Acho que estamos com companhia. Procura ficar deitado e depois se arrasta até aquele ponto ali – apontado na direção de pedras e tijolos amontoados. 

.........Continua Semana que vem!

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário