terça-feira, 14 de março de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 44

 


Continuando...

          Mohammed continuou sem falar nada e seguiu a orientação do sargento. A ligeireza dele surpreendeu Téo. O menino deslizava feito uma cobra, parecendo realmente um animal peçonhento em busca da sua presa. Em frações de segundos já estava protegido e com a atenção voltada para identificar a localização do suposto inimigo.  Ou talvez inimigos. Téo chegou logo atrás e se postou também na posição de reconhecimento. Protegido pela escuridão esticou um pouco o corpo, sacou um binóculo para visão noturna, e com a cabeça ainda coberta pela touca negra, pôde fazer uma varredura pelos escombros. Na primeira olhada, nada viu de anormal. Mas aquilo não lhe deixou confortável. Então continuou a olhar ponto por ponto.

          Naquela montoeira de entulho era difícil identificar qualquer presença de pessoas. E o silêncio também não contribuía para facilitar a localização de algum inimigo. Como era paciente, ficou à espera de qualquer deslize dos milicianos ou ladrões comuns naquela região. Apoiou a sua arma, devidamente camuflada para não brilhar com a luminosidade lunar, em cima de uma viga feita de tijolos dobrados e procurou controlar até a sua respiração.

          Téo olhou para Mohammed e fez um sinal, com um dedo perpendicular aos lábios, pedindo silêncio total. O menino só fez um sinal de cabeça confirmando o pedido.

         As duas figuras continuavam no mesmo lugar. O que esperavam ninguém sabia. Mas as armas estavam preparadas para entrar em ação a qualquer momento. Um deles, o primeiro que ali tinha chegado e que parecia que comandava, de minuto a minuto olhava para trás de si, parecendo que esperava alguém. E assim o tempo foi passando sem eles saírem da posição de origem. Mas o cansaço da espera começou a incomodar o segundo, que tirou a arma do ombro e apoiou-a em uma pedra ao lado, e depois se sentou, encostando às costas na meia parede. Depois esticou as pernas, pegou uma granada e escondeu-a na sua grande mão. O amigo vendo o que ele fez, sinalizou mandando-o levantar-se. Entretanto ele apenas bateu com a mão e permaneceu na mesma posição. O outro tentou se controlar para não falar, mas a voz saiu fugindo ao seu controle. Foi um som baixo, entretanto com o silêncio que abraçava o lugar, quem fosse preparado com certeza ouviria. E esse foi o caso: Téo escutou. Não conseguiu entender, mas agora tinha certeza que realmente tinha a presença inimiga bem próxima. Olhou para Mohammed, que imediatamente, colocando um dedo na orelha, sinalizou que tinha ouvido. O sargento sabia que naquele momento não podia emitir qualquer som, então preferiu não pedir para que o menino dissesse o que tinha escutado. Voltou sua atenção para a direção de onde tinha vindo à voz do suposto miliciano ou de algum ladrão que agia nas imediações, durante a noite. Com o seu binóculo nos olhos, voltou a vigiar ponto por ponto dos escombros. A sua atenção era fundamental para interceptar qualquer tentativa dos invasores.

          Enquanto Téo ficava de guarda, Mohammed sacou um pequeno punhal que trazia escondido na sola da sua botina. Sem o sargento perceber, colocou a arma presa nos dentes e saiu se arrastando entre pedras e tijolos. O silêncio era a sua maior arma. Sem o bandido perceber, Mohammed já estava ao seu lado. Já com o punhal na mão, aguardando o momento exato para agir, esperou pacientemente para ouvir o que conversavam. Não sabia quantos eram. Ficou de orelha em pé. O que parecia o chefe, dizia quase sussurrando:

          - Por Alá. Tira ás costas daí e fica de joelho, com a arma engatilhada, esperando Kalled. Quando ele chegar, a gente acaba com todos os americanos. A informação está precisa, é aqui mesmo. A passagem para o porão deve estar lá na frente. Não sei exatamente o lugar, mas vamos achar.

          - Estou esgotado. Tenho que descansar. Depois que Kalled chegar, aí sim, a gente faz o trabalho. Ontem foi duro, estou cansado. Mas vamos nos vingar dos americanos. Tenha paciência. Vamos acabar com todos, inclusive com aqueles garotos. Mas me deixa ficar sentado mais um pouquinho, preciso pegar fôlego.   

          - Ok. Mas não podemos matar os dois garotos não.

          - Eu sei. Só os infiéis. Mas como vamos livrar a cara de um deles?  Tem dois lá dentro, Ali.

  .....Continua Semana que vem!

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