terça-feira, 21 de março de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 45

 


Continuando...

         O amigo não respondeu de imediato, parecia pensativo. Alisou a barba algumas vezes e em seguida olhou para a arma, mas voltou a passar a mão na barba novamente. Depois desse ritual todo, encostou a arma na testa e ficou assim durante alguns minutos, enquanto o amigo, olhando para ele, esperava alguma resposta para a sua dúvida.

           Ali finalmente, depois desse silêncio prolongado, tentou arranjar uma solução para o impasse. Realmente estava num beco sem saída. Mesmo assim tentou dar uma resposta ao companheiro de armas.

          - Mustafa... – tentando falar o mais baixo possível – acho que não vamos ter alternativa. Vamos jogar algumas granadas dentro do porão. Mas como vamos salvar um deles?

         - Mas Kalled falou que o garoto é importante.

         - Ué, mas você mesmo disse que temos que matar os dois!

         - Ali, eu falei, mas acabei de voltar atrás. Qualquer coisa que Kalled fala a gente tem que obedecer. Se a gente matar o garoto, acho que ele nos mata.

         - Tenho certeza disso. Eu só falei aquilo, porque não tinha o que responder. Então vamos esperar Kalled, no silêncio total. Chega de falar.

        - Tudo bem, Ali. Vou aproveitar para descansar mais um pouco.

        E o silêncio voltou a reinar entre os escombros.

        Mohammed continuava quase colado ao terrorista Mustafa. Estava pensativo, mergulhado na dúvida. Não sabia se deveria eliminar logo aquele terrorista. Sabia – pensava - que deixar para depois, poderia pôr em risco a sua vida e a dos outros, pois o terceiro elemento, de nome Kalled, chegaria a qualquer momento. Concentrou-se e mentalmente ficou desenhando o bote certeiro para eliminar Mustafa.

        Téo continuava atento observando, com o seu binóculo, qualquer movimento que por ventura se escorregasse pela noite. Depois de quase trinta minutos de uma observação constante, não havia constatado ainda nenhum sinal físico de qualquer pessoa, nos vinte metros, aproximado, à sua frente. Era paciente e ali ficaria até que o inimigo desse às caras, aí poderia agir com precisão.

        O sargento tinha uma audição apurada e aliava isso ao possante binóculo de que não se desgrudava nunca. Pela distância, sabia que havia algum cochicho, só não conseguia entender o que falavam. Mas por outro lado, conseguia determinar a direção que saía o som. Tinha certeza que para onde mirava o binóculo tinha alguém de carne e osso. A sua atenção estava voltada para a aquele ponto. Entretanto isso não queria dizer que a sua retaguarda estaria desprotegida. Isso de jeito nenhum aconteceria, tendo em vista com a sua audição bem treinada, não deixava som algum, ao seu redor, passar despercebido, tanto que ouviu um movimento vindo de onde estivera Mohammed, pois tinha ouvido quando o menino sumira sorrateiramente. E ainda mais quando parou não tão distante dali.

         Mal o menino chegou, ele, quase sussurrando, perguntou:

         - Para onde você foi, Mohammed?

         - Fui até onde estava um dos homens. Agora só devemos nos preocupar com um, o outro já não está mais entre a gente.

        - O que aconteceu com ele? – perguntou curioso.

         - Nesse momento, ele já deve estar nos braços de Alá. 

         Mohammed, antes que o sargento perguntasse mais alguma coisa, fez um gesto com a mão no pescoço, como se tivesse degolando alguém. O sargento olhou para ele com uma bruta interrogação no olhar. Mas devido à situação que estavam envolvidos, preferiu naquele momento se calar, deixando a conversa para depois que tivessem resolvido aquele problema.

          O menino então, aproveitando o silêncio de Téo, falou bem baixinho:

           - Sargento, temos que nos livrar do outro o mais rápido possível. Está para chegar mais um homem. Parece ser o chefe. Eu não sei a que grupo pertencem. Desconfio que sejam milicianos. Já que matamos um chefe da milícia local... São vingativos. Vamos fazer o seguinte: eu vou voltar por aqui e o senhor vai pelo outro lado. Ele – espichou um pouco a cabeça, para olhar um determinado ponto, e prosseguiu – está naquela meia parede lá a, mais ou menos, quinze, vinte metros daqui. Eu vou distraí-lo e o senhor dá cabo dele, certo?

           Téo estava abismado com tanta firmeza e destreza do menino. Olhava-o com muita curiosidade. De repente um pensamento invadiu a sua cabeça: - Será que esse garoto foi preparado por algum grupo guerrilheiro?

           Enquanto ruminava essa pergunta, o menino, já que ele não respondia a sua pergunta, perguntou de novo:

          - Então sargento, o senhor escutou o que eu perguntei?

          Aí sim é que o sargento voltou à realidade que os envolvia, parecendo que estivera em algum lugar longe dali. Deu um meio sorriso e respondeu:

          - Tudo bem. Eu entendi o que você falou. Me diz uma coisa: quanto tempo até chegar onde você esteve?

          - Com precisão, não sei. Eu fui me arrastando. O senhor vai saber quando lá chegar. Não é perto.

         O sargento levantou o polegar dando o seu ok. Por sua vez Mohammed levantou o seu, mas depois falou baixinho:

          - Senhor, já estou indo.

          Falou e se jogou no chão, e foi se arrastando feito uma serpente. Téo foi em seguida, também ao encontro do outro homem. Não saiu se arrastando como o menino, mas procurou ir o mais baixo possível, para não ser descoberto.

  .......Continua Semana que vem!

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