Continuando...
- Então qual foi a sua escolha religiosa?
- Mohammed, primeiro, antes de escolher uma, comecei a ler sobre várias religiões. Mas já havia lido bastante a Torá e o Alcorão. A primeira que me atraiu muito foi o Budismo. Comecei a frequentar um templo. Mas um ano depois fui para o catolicismo. Ali fiquei mais um ano, quando caiu na minha mão a vida de Gandhi. Aí fiquei vidrado pela sua trajetória. Sua vida foi fantástica. Um ser humano daquele quilate, não se encontra pelas esquinas, não.
O meu pai e a minha mãe ficavam na arquibancada apreciando as minhas escolhas, sem se intrometerem. Quando emitiam qualquer comentário, era por mim solicitado. E assim eu fui conhecendo vários templos e igrejas por alguns anos, até que finalmente optei por uma religião, ou melhor voltei: catolicismo.
- Então o senhor é católico?
- Não.
- Ué!
- Ué! Digo eu! Porque pensei que fosse definitivo o catolicismo, mas não foi. Encontrei o Espiritismo. Depois fui para a Umbanda. Fiquei mais tempo, porque essa religião não é preconceituosa, ou não deveria ser. É uma religião brasileira.
- Sargento, nunca ouvi falar nessas duas religiões, Espiritismo e Umbanda. Então, agora pelo jeito o senhor é da Umbanda!
- Não. Optei por ser apenas um Cristão. Quando vou ao Brasil, procuro um centro espírita e um terreiro de Umbanda, que são cristãos. Vou também à igreja católica, à protestante. Vou aonde falam e fazem o bem. Mohammed, não existe religião ruim. Existe pessoa ruim. A culpa é sempre do homem, essa é a verdade. Você pode escolher qualquer religião e seguir. Mas presta a atenção em quem é o dirigente. Observa o caráter dele. Se ele falar mal de outra religião, se levanta e vai embora. Sabe por quê? Ninguém é dono da verdade. É só observar: Jesus não falava mal de ninguém. Gandhi não falava mal de ninguém e de religião nenhuma, pelo contrário, ainda fazia preces de outras religiões. Escolhe uma e vai em frente.
- Eu nem desconfio qual foi a minha religião. Na verdade, nem sei se tive alguma. Mas descobri uma coisa: Jesus é o máximo.
- Ué! Você conhece Jesus? Conseguiu se lembrar dele, já é um bom começo, Mohammed. E você acredita em Deus, Alá?
- Claro sargento. Acredito, sem dúvidas.
- Como você acha que é Deus?
- Não é fácil defini-lo. Dizer como ele é, é impossível. Sei que Ele não tem uma forma definida, mas tem a cara de tudo que existe. Do que vemos e até do que não vemos.
- Interessante essa definição. Voltando a Jesus. Você conseguiu se lembrar Dele...
- Não sargento. Não me lembrei, não. Nunca vi nenhuma foto Dele.
- Nem eu e nem ninguém. Não existe nenhum registro de um rosto. E como você diz que o conheceu?
- Eu o conheci pela bíblia, que um missionário me deu. Li de cabo a rabo. Os seus ensinamentos me deixaram fascinado. Acho que um dia vou ser cristão. Mas tenho que sair desse lugar primeiro. Ser cristão aqui é ir para a cruz. Acho que não tenho vocação para ser mártir, não! Eu hein!
O sargento gostou da colocação de Mohammed e caiu na gargalhada. O som foi tão alto que acabou acordando os soldados e o amigo do menino, Rachid, e todos reclamaram em uníssono:
- Puxa! Quero dormir! Que barulho é esse? – parecia um coro bem ensaiado.
Até o soldado John, que ainda estava debilitado, conseguiu soltar o seu protesto.
Téo instantaneamente engoliu a gargalhada, mas continuou rindo baixinho, acompanhado do menino. Ficaram os dois, por algum tempo, sem conseguir estancar o riso. Com muito esforço foi serenando até voltar o silêncio total, ou quase, pois o trio que reclamou, roncava harmoniosamente, se é que se pode colocar harmonia num ronco. Suportar alguém roncando do seu lado é um ato heroico. Mas o outro lado da moeda também pesa, quando você não é um mero coadjuvante, mas sim o titular a ganhar o ronco do ano.
Para suportar o ronco é só você dormir antes do roncador mor. Se bem que qualquer tipo de ronco é o caus. Um jeito rápido de se conseguir dormir, depois que o roncador profissional estiver na ativa, é só encher os ouvidos de algodão. Simples assim!
.....Continua Semana que vem!
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