terça-feira, 22 de novembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 28

 


Continuando...

           Viu quando as antenas dela começam a se mexer de um lado para o outro, naquele ritmo lento. Começou a questionar a vida da barata:

           - Será que ela sente cheiro por ali? Nunca pensei nisso antes. Podia procurar algum conhecedor de barata e conversar sobre isso. E de repente sobre outras coisas também.

           Recentemente ouvi alguém falar que se tiver uma guerra atômica, a barata é o único ser vivo que vai resistir às radiações. Interessante isso. Comecei a sentir inveja dela. De repente vida de barata não é tão ruim assim. Por que todo mundo sente tanto nojo dela? Dizem logo: é porque é um bicho sujo, que só vive em lugar imundo! Agora já começo a discordar: e essa que estou vendo aqui agora? Limpinha, limpinha! Não cheira mal. Na verdade, não tem cheiro de barata. Será que a barata fedorenta está por aqui, desde a formação da Terra? Uma certeza eu tenho, essa parecida com Matt apareceu só aqui em casa. Acho até que ela nasceu ali dentro do tijolo. A mãe botou um ovo, foi embora e logo depois o pedreiro fez aquela parede e aprisionou-o ali. Que coisa triste.

         Eu acabei de pensar nas outras baratas e me deu nojo. Me lembrei que ao pisar nelas, sai aquele troço esbranquiçado de dentro delas. Já viu coisa mais nojenta que isso? Não. Que Deus me desculpe, mas quando vejo um rato, me dá um nojo duplicado. Rato é um nojo imbatível!

          Olha só, a barata consegue sair totalmente de dentro do buraco do tijolo. Ela é maior do que eu pensava: tem aproximadamente cinco centímetros. Maior do que a maioria das outras marrons. E ela continua na mesma marcha lenta. Mas já está subindo no cano que está vazando. Estou atento, e vou tomando conta de cada movimento dela. Alguém pode achar que eu estou morrendo de amores pela barata, mas não é isso. Eu só estou com inveja de um ser que é tão desprezado, mas que pode ser melhor do que eu. Se jogarem uma bomba aqui pertinho, eu vou morrer com certeza, mas ela não. Ela deve continuar a mexer as suas antenas, só que não vai ter mais ninguém para olhar. Estou com inveja, essa é a verdade.

           Meu pai está de volta, com ele veio uma serra, uma peça igual a que tinha rachado, fita para vedar e uma cola. Ele olha pra mim, estica o braço e manda que eu segure tudo. Só que ele não me deu tempo de avisá-lo sobre a barata. A primeira coisa que fez, foi pegá-la e amassa-la com dois dedos. Está me dando uma dor tão grande, que tenho até vontade de chorar. Olha só aonde cheguei! Eu chorar por causa de uma barata! Mas vou confessar que nesse instante realmente estou com vontade de chorar. Só que de repente o nojo voltou. Aquele nojo que eu sentia por barata. Aquela massa branca, viscosa e fedorenta que saiu de dentro dessa albina, deu um nó nas minhas tripas. Barata é tudo igual! Nunca pensei que fosse achar isso! Sabe de uma coisa, eu já estava até pensando em dar um nome para ela: Eva. Eva. Eva. 

.........Continua Semana que vem!

 

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