terça-feira, 15 de novembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 27

 


Continuando...

            Téo examinou o soldado John e percebeu que ele não estava totalmente apagado. Ouviu quando ele sussurrou alguma coisa, mas não conseguiu entender. Mas respirou aliviado, achando que o soldado não estava tão mal assim.  Então mandou Peter pegá-lo por uma axila, que ele pegaria pela outra. Os dois então conseguiram levantá-lo, mas fazendo muita força. Ele de pé, enquanto era quase arrastado, sorriu. Pelo menos não demonstrou que estivesse sentindo dor. Depois voltou a ficar sério e de repente chorou, chorou bastante.

          Peter ficou penalizado com o estado deprimente do amigo e teve vontade de chorar também. De repente passou pela sua cabeça que ele é que poderia estar ali no lugar dele. Os tiros, um que matou o soldado Apache e o outro que feriu John, poderiam ter pegado nele. Sem perceber, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.  

           O magricelo, com os sentimentos a flor da pele, enquanto ajudava o sargento a levar John para o esconderijo dos meninos, sem perceber, teve os pensamentos mergulhados num passado não tão distante assim, tendo em vista a sua idade, 25 anos, mas para ele nove, dez anos era bastante tempo. O passado e o presente se misturando.

 

             Peter tinha dezesseis anos. Estava na sua casa, nos Estados Unidos, junto da sua mãe e do seu pai. A mãe reclamava com o pai que a pia da cozinha estava entupida. Ele e o pai tentavam desobstruir a tubulação, mas não conseguiam. O pai foi para o lado de fora da casa e notou que na direção da pia aparecia uma grande mancha úmida, que, com certeza, era de um vazamento de água limpa ou do entupimento. Lá foi seu Walter quebrar a parede para descobrir o vazamento. John sentou-se ao seu lado e ficou observando o pai trabalhar. Depois de quase uma hora num quebra-quebra finalmente ele encontrou a causa daquela umidade: uma conexão na tubulação que alimentava a pia de água estava rachada. O pai então foi até a cozinha para fechar o registro geral e pegar outra conexão para substituir pela danificada. 

 

           Peter ficou ali olhando o tubo que estava vazando, enquanto esperava seu Walter voltar. Era apenas um curioso, já que não sabia nada, nada sobre hidráulica, mas ia ficar olhando para aprender. De repente notou alguma coisa se movendo por trás do cano. Parecia dois fios de linha balançando de um lado para outro. Aproximou-se mais e tentou ver por trás do tubo: o que acabara de ver, a princípio, deu-lhe nojo. Era uma coisa, que estava cansado de ver, desde que tinha nascido. E sabia que ia continuar a ver pelo resto da sua vida. Só que àquela devia ser o único exemplar. 

 

          O arrastar por trás da tubulação, era lento. O bicho parecia que não tinha forças suficientes para caminhar mais rápido. Na verdade, ele ainda não tinha saído de dentro do buraco de um tijolo. Só tinha colocado meio corpo para fora. E ele ficou ansioso para que saísse completamente. Sentiu um impulso de ajuda-lo, mas acabou desistindo. Achou melhor ficar torcendo para o bicho conseguir sozinho. Custou um pouquinho, mas saiu. Era uma barata albina. Nunca tinha visto. Coitada. – pensou. De repente veio na sua cabeça a imagem do seu amigo Matt. Rapidamente fez um paralelo entre os dois e ficou com mais pena da barata. Um sentimento de culpa acometeu-o imediatamente. O amigo também era albino. Mas não era uma barata. Lembrou-se do apelido: barata descascada. – Puxa! Sempre chamei o Matt de barata sem perceber! – Fez uma expressão de culpa. Entretanto ao olhar para a barata, um sorriso meio sem graça apareceu nos seus lábios. Tentou corrigir o que tinha pensado, vendo pelo lado humanitário: - Matt é meu amigo. Somos amigos desde sempre, mas só que ele tem muito mais condições de sobreviver, do que ela. Por isso tenho mais pena da barata. Que vida difícil tem essa barata, meu Deus! 

.........Continua Semana que vem!

 

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