terça-feira, 8 de novembro de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 26

 


 Continuando...

            O menino não fez nenhum comentário, esperou que o próprio sargento fizesse, entretanto ele preferiu se calar, não teceu comentário algum sobre a arma, e mudou o rumo da prosa:

          - Mohammed, onde fica o esconderijo de vocês?   

          - Fica do outro lado da cidade. É perto. Para variar é numa casa que foi bombardeada. É a nossa mansão. Eu falei que é mansão, porque soubemos que já foi uma bela propriedade, de gente rica. A gente só chama de mansão.

          - Então vamos pra sua mansão. Peter você vai me ajudar a levantar John.

          - Sim sargento.

          O soldado magricela que estava mais próximo de John, tentou ergue-lo sozinho, mas faltou força. Então pediu para que ele o ajudasse a erguê-lo, porém ele nada respondeu. Do jeito que estava, com a cabeça arriada, assim permaneceu. Peter então pediu ajuda ao sargento, que ainda conversava com Mohammed.

          - Sargento. John está muito estranho. Eu não consegui erguê-lo. O senhor pode me ajudar?

           - Peter, eu não mandei você levantá-lo sozinho! Me espera!

           - Eu sei, sargento. Só fui tentar, pra testar a minha força. Mas ele está muito pesado. Esse grandalhão pesa muito.

         Sargento, olha só o jeito dele. Estou preocupado porque ele não está se movendo.

          - Não está se movendo? Mas ele estava até conversando. Só estava sentindo dor. Me deixa dar uma olhada.

           O soldado John, com a tentativa do soldado Peter de levantá-lo, tinha ficado de barriga para baixo. O sargento então colocou-o de barriga para cima e encostou-o novamente no muro. Mas o que ele viu, não gostou nem um pouquinho: a cara de John estava inchada e muito vermelha, e ainda por cima, para piorar o quadro, do canto da boca escorria um liquido viscoso, meio esverdeado. Téo assustou-se mais ainda quando encostou a mão na testa do soldado.

          - Peter, ele está ardendo em febre! Já está inconsciente! Daqui a pouco ele pode ter uma convulsão! Olha na mochila de Apache e pega o antitérmico.

          - Mas sargento, já disse que não tem remédio nenhum! A mochila está vazia!

           - Esqueci. Temos que fazer alguma coisa.

          Com a agitação dos dois, Rachid indaga a Mohammed:

           - Mohammed, o que está havendo? O que eles falaram?

           - Eles estão preocupados com o soldado. Disse que ele está inconsciente, devido à febre que está muito alta.

           - E o que é que temos com isso? Vamos embora e deixa eles se virarem sozinhos.  

           - Não posso. Se eu sair, ele pode atirar em mim.

           - Atira nada. E eu estou com as duas metralhadoras dos milicianos. Se tentarem, eu atiro. Mas acho que não vai ser preciso, eles estão mais preocupados com o amigo. Essa é a hora. 

           - De repente você está com a razão. Vamos sair de fininho. Mas não pega nas armas.

          Mal começam a se mover procurando não chamar a atenção, uma voz ecoou a pouca distância das suas orelhas:

           - Para onde vocês pensam que vão? Podem parar por aí mesmo. E virem-se devagar. Isso. Podem voltar para cá.

           - Mas sargento, a gente só ia ver se o caminho está livre. Tudo bem. Quer que a gente fique aqui pertinho de vocês, a gente fica.

           - Estou sabendo. Conta outra. Vocês têm algum medicamento para combater a febre?

          - Temos sim. Mas vocês não têm um remédio desses simples de se achar? Até aqui, que falta tudo, tem esse medicamento.

          - Apache deve ter perdido, Mohammed.

          - Então vamos embora, sargento. Já ficamos aqui mais tempo que o necessário. Vamos para o nosso esconderijo.   

          - Tudo bem, mas me passa as armas que o seu amigo esconde aí na mochila.

          - Mas sargento... Vamos Rachid, entrega as armas para o sargento. Eu pedi para você deixa-las por aqui.

          - Mohammed!

          - Sem discussão. O soldado está doido para meter umas balas em nós dois.

          Rachid bem contrariado abriu a mochila e pegou as duas metralhadoras, entregando-as ao sargento, enquanto o magricela, com a sua arma engatilhada, acompanhava todos os seus movimentos.

  .......Continua na Semana que vem!

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