Continuando...
- Eu não me lembro direito. Dizem que fiquei três meses dormindo.
- E os seus pais? – interrogou-o outro soldado de nome Peter: um magricela com quase dois metros de altura, que mais parecia uma vara de bambu.
O menino olhou-o, e antes de responder, passou as costas da mão em um dos olhos, enxugando uma lágrima que acabara de escorrer. Depois passou no outro olho, aí sim é que foi falar:
- Eu não sei. Não consigo me lembrar. Eu falei que era brasileiro, mas também não tenho certeza. Nem meu nome eu sei.
- Você está com amnésia. Tem muito tempo? – perguntou o quarto soldado, um baixinho troncudo, mais conhecido como apache.
O menino ficou por alguns segundos sem responder, enquanto passava os olhos por aqueles corpos espalhados pelo chão. Téo teve a sensação que ele já estava acostumado com aquela cena de sangue, visto que olhava sem demonstrar qualquer emoção. Depois do silêncio, ele disse:
- Acho que já tem um ano. Eu só sei da minha vida, quando abri o olho no hospital. Parece que já nasci com esse tamanho.
O soldado magricela de nome Peter, aproximou-se de Téo e cochichou no seu ouvido:
- Sargento, eu acho que esse garoto está inventando essa história toda. Ele deve ser um terrorista. Ele só tem cara de criança. Vamos leva-lo com a gente. Lá, querendo ou não querendo, ele vai falar tudo. A amnésia dele vai sair correndo!
O amigo coçou a cabeça, sem tirar os olhos do menino e falou baixinho na sua orelha:
- Peter. Peter. Você sabe que o seu método o comando não vai aceitar. Nem eu. Eu sei que esse menino é suspeito, e que não temos nenhuma alternativa, a não ser leva-lo preso. Sei que ele é muito esperto. De bobo não tem nada. E que não podemos tirar o olho de cima dele, nem por um segundo. Sei de tudo, Peter. Mas não posso aceitar tortura. Acho que não é terrorista, mas também não devemos facilitar. Viu como John quase deu cabo dele? E ainda continua com vontade. Mas vai ficar na vontade. Esquece Peter. Temos que recolher logo essas armas daqui.
- E os corpos?
- Ficam onde estão.
- Eu sei. Estou falando sobre a identificação.
- Um destacamento da OTAN depois faz o reconhecimento deles. Se fossem americanos, pegávamos a identificação de cada um. É melhor a gente sair daqui, para não termos surpresas. O garoto vai com a gente.
- Está bem. Apache, John, vamos pegar essas armas, antes que sejam recolhidas pelos terroristas. E vamos sair logo daqui para não sermos surpreendidos.
O sargento Téo pegou uma metralhadora que ainda estava dependurada no ombro do garoto e entregou-a a Apache. Depois mandou que o garoto seguisse na sua frente. O menino fez cara feia, mas obedeceu. E os cinco foram caminhando, e pulando os corpos, para sair dali e pegar a direção do centro da capital, Cabul.
A periferia em que os quatro soldados e o menino estavam era um local muito perigoso. Eles sabiam disso e a atenção era sempre dobrada. Não era à toa que de vez em quando algum destacamento era pego de surpresa, como aquele que não tinha sobrado nenhuma viva alma para contar a história. Eram mais de quinze corpos mutilados por bombas e tiros.
O menino de repente parou. Téo então o empurrou com a ponta da metralhadora, mas ele fincou pé, virou-se e falou baixinho:
- Está vendo aqueles escombros? Aquele lá à esquerda.
- O que é que tem?
- Tem gente de tocaia. Vão nos pegar.
Téo a princípio duvidou. Mas por via das dúvidas, chamou os seus comandados:
- Apache, John, Peter. Venham até aqui, mas devagar. Menino eu estou com a arma engatilhada. Se forem seus amigos, o primeiro a tombar vai ser você.
- Se fossem meus amigos eu ia avisar? Eu nem conheço quem está lá.
- Como é que você sabe que tem gente de tocaia?
- Eu sinto o cheiro de bandidos. Me acostumei na convivência com eles. Eles têm um cheiro que sinto a quilômetros.
- Quem são eles? São Talibãs?
- Não. Por aqui não tem Talibã. Tem ladrões espalhados por tudo que é lugar. E tem muitos milicianos também. Esses não têm ideologia. Só querem dinheiro. Lutam para quem der mais.
- Você conhece esse tipo de gente e assim mesmo vende armas para eles?
- Não. Eu nem conheço eles. Eu vendo para uma pessoa, que nem sei o nome. Mas é para sobreviver. Só para não morrer de fome. Além do mais, a maioria das armas já está inutilizada mesmo! Essas daí, - apontando para algumas metralhadoras retorcidas - vão recolher para quê?
...........Continua semana que vem!
Boa Noite meu amigo 🙌
ResponderExcluirÓtima semana para você 👍
valeu meu amigo. Gratidão.
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