Continuando...
NA GUERRA
O dia amanheceu cheio de poeira avermelhada. Um menino corria pela rua e olhava os vários corpos que jaziam estendidos, sem nenhum resto de vida, vitimados por um atentado, talvez de madrugada.
- Stop! – gritou um soldado americano, enquanto apontava uma metralhadora na direção do menino, que parou instantaneamente.
Olhos arregalados mirava o soldado que estava a apenas poucos metros à sua frente. O grandalhão, mesmo com o olhar apavorado do menino, preparou a sua arma para atirar, mas foi travado pelo colega, que pressentiu o que ia acontecer. Falou alguma coisa e colocou a mão em cima da arma, pressionando-a para baixo. Disse mais alguma coisa, próximo a sua orelha, e caminhou em direção ao menino, que ainda estava estatelado no meio de alguns cadáveres. Parou na sua frente e falou em inglês, perguntando o que ele estava fazendo ali no meio daqueles soldados mortos.
O menino entendeu o que ele perguntara, não sentiu qualquer ameaça na sua voz, esboçando um sorriso, falou:
- Puxa!
O soldado sorriu também e falou em português:
- Ué! Você falou em português! Mas você entendeu o que eu perguntei?
- Sim.
- Você é Afegão, não é?
- Não. Sou brasileiro.
- Eu também. Meio brasileiro. – Téo falou batendo levemente no peito.
- Verdade? Puxa vida! Eu pensei que hoje fosse morrer!
- Foi milagre. Nem sei como consegui que o amigo não atirasse em você. Não sei por que fiz isso, mas parece que estava adivinhando que você era da terra da minha mãe. Sou brasileiro, mas tenho a cidadania americana também.
- Acho que nasci de novo.
- O que é que você está fazendo aqui e pegando essas armas?
O menino abaixou a cabeça e parecia que pensava em alguma coisa. Talvez uma desculpa. Depois levantou-a, parecendo que já tinha a resposta na ponta da língua. Mas a voz não saiu e os seus olhos encheram-se de lágrimas. O soldado parecia comovido com a cena, já o outro, que estivera prestes a atirar, gritou, em inglês, para ele, ainda com a arma apontado para o menino. Téo então levantou o braço direito pedindo para que ele esperasse. Depois de algum tempo virou-se e falou para o amigo:
- Calma John. Calma. Descobri que o menino é brasileiro.
- Verdade Téo? Mas porque ele está pegando essas armas?
- Isso eu vou saber agora.
- Resolve isso logo, porque temos que sair daqui. Vamos pegar essas armas e ir em frente.
- Tudo bem, John.
Téo, já que o menino continuava calado, preso a uma forte emoção, foi até ele e pegou-o pelo braço e retirou-o do meio dos soldados mortos. Depois fez novamente a pergunta, aí o menino, parecendo mais equilibrado, respondeu:
- Estou recolhendo as armas que eu posso pegar para vendê-las.
- Ué! Vendê-las?
Nisso o grandalhão do John, que tinha se mantido afastado, gritou:
- Téo, o que o menino está falando? Não estou entendo nada!
- Você não está entendendo, porque ele está falando em português.
- Ele não fala em inglês, não?
- Vem até aqui e pergunta a ele!
John levantou de novo o cano da metralhadora na direção do menino e se juntou a Téo, seguido de outros dois soldados. Sem deixar de apontar a arma, mirou-o de cima a baixo, falou entre dentes:
- Aí menino, não gostei de você. Te acho estranho. Por um acaso fala a minha língua?
O garoto encarou-o com altivez e respondeu:
- Claro que falo. Não só o inglês e o português, como também três línguas faladas aqui: farsi, pashtu e dari.
- Téo, o garoto é letrado! – falou com deboche - Quantos anos você tem?
- Não sei bem. Depois do atentado, muita coisa fugiu da minha cabeça.
- Que atentado? – Téo perguntou curioso.
........Continua Semana que vem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário