terça-feira, 24 de maio de 2022

A Minha Casa Não é Essa - Parte 02

 


Continuando...

            Após a alta, foi para os Estados Unidos da América e por lá continuou, por alguns meses, tratando do ferimento na perna. Depois que o ferimento cicatrizou completamente, mesmo assim ficou impossibilitado de voltar para a guerra, devido a problemas psíquicos. Então como os seus pais tinham vindo morar no Brasil, resolveu também vir para o Rio de Janeiro, onde nasceu. Mas a sua tristeza aumentou logo ao chegar. Com poucos dias de regresso, o seu pai caiu doente. Foram apenas dois meses que ficou ao seu lado. O óbito foi rápido. Ele se achou responsável pela morte do seu John. Desde que fora para a guerra, o pai entristecera profundamente. Mesmo com o seu regresso, o seu John não foi o mesmo homem. Téo vivia martirizado por isso, sem conseguir se perdoar. A mãe tentava demovê-lo dessa culpa, mas ele não conseguia tira-la de cima dos ombros.

             - Coisas da vida! Alá quis assim! Você tem que viver Teozinho! – dizia ela quase que diariamente, mas os seus argumentos não surtiam nenhum efeito.

            Uma montoeira de pensamentos invadia a sua cabeça ao mesmo tempo. A maioria não fazia o menor sentido. Parecia que chegava só para deixa-lo fora de controle. Quando isso acontecia, a sua mãe sugeria que fosse dar uma volta pela redondeza para se distrair. Mas, mais uma vez, o ânimo não o ajudou naquele momento. Não conseguia abrir a porta e pisar na calçada. Então voltou para a janela, único local que conseguia chegar, mas com algumas restrições – às vezes ficava por trás da cortina -, e ficou olhando para ver o vai e vem dos moradores. Mas como era domingo, o movimento era quase nenhum. Ele sabia, porque todo domingo era a mesma coisa: ficar ali debruçado na janela esperando alguém passar. Ia para ali constantemente querendo encher a cabeça com imagens vivas, porém os seus pensamentos era um vai e vem ininterrupto de gente não tão viva assim.

            Seus olhos se perdiam pela rua, enquanto a sua cabeça se encontrava nos pesadelos. E esse era um quadro constante. Parecia que viver deprimido era uma normalidade. Mas não era sua escolha. Lutava, com a ajuda da mãe, para sair daquele quadro depressivo. Diariamente usava alguns medicamentos, mas que apenas minimizava o seu quadro, funcionando apenas como um paliativo, onde alternavam momentos tristes com menos tristes. Alegria, agora era uma mera desconhecida. Contudo, mesmo nos momentos de crise aguda, jamais passou pela sua cabeça a hipótese de dar cabo da própria vida. Ele respeitava a sua vida acima de tudo. Sabia que existia um inimigo a ser eliminado, para viver em paz, só que não sabia que inimigo era esse.

            Enquanto pensava mais do que olhava, conseguiu perceber um movimento na rua que chamou a sua atenção. Naquele instante o soldado despertou dentro de si. Notara duas pessoas atravessando a rua. Analisando rapidamente, viu que não eram do lugar. Achou muito suspeito aquelas duas pessoas caminhando por ali, num domingo, como todos os outros, invariavelmente deserto. Seguiu-as com o olhar de lince, até que, ao terminar de atravessar a rua, se encostaram numa velha amendoeira, encravada numa minúscula praça, que fora feita para preservá-la. 

            Téo não deixava escapar nenhum movimento da dupla. Percebeu nitidamente que os dois estranhos não estavam tranquilos, pois olhavam insistentemente para os lados. Pareciam preocupados com alguma coisa. Conversavam quase ao pé do ouvido. Um parecia um garoto, que não conseguiu ver direito o seu rosto, e que não devia passar dos quinze anos, e um homem de barba comprida, deixando a amostra apenas parte do rosto, sendo que os olhos estavam cobertos por um chapéu de abas largas, estilo cowboy. Aquilo tudo pareceu muito suspeito. Se bem que para ele todo e qualquer movimento que fugisse a normalidade era sempre motivo de suspeição. Para sobreviver numa guerra tem que estar sempre atento e desconfiando de tudo. E assim foi o tempo que levou em combate em terras Afegãs.

................... Continua semana que vem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário