terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Vila do Prazer - Parte 2

 


 Continuando...

         O seu salário minguado, mais o do aluguel, era direcionado quase todo para a construção. Sobrevivia apenas com o necessário, para não morrer de fome e pagar o aluguel da pensão. Mas finalmente estava pronta a sua vila, e em pouco tempo a sua vida mudou radicalmente. Dos aluguéis das cinco casas dava quase para viver como um rei.

         Não era uma construção de luxo, longe disso, eram paredes que de tão finas se ouvia a respiração do outro vizinho e mais o que fizesse. Entretanto isso não gerava reclamações dos inquilinos, muito pelo contrário parecia que viviam satisfeitos com a troca de intimidades. Conversavam, às vezes, sem precisar sair de casa. Isso já era uma forma de demonstrar satisfação. Em pouco tempo morando ali, todos se sentiam como sendo de uma mesma família. E isso foi passando ao longo dos anos com novos moradores que chegavam.  

         NOS DIAS ATUAIS

         A região tinha virado um bairro. Lugar sossegado e bem seguro. Hoje em dia, é raro se viver sem a companhia do medo. Mas ali não, continuou como sempre fora: um lugar pacífico e familiar.  Voltando para a vila, ali então, quem não conhecia, arriscava em dizer que era uma mesma família que morava nas cinco casas. Mas na verdade, não existia nenhum parentesco entre eles.

         Depois de muitos anos, onde os moradores só saiam dali depois da morte, a casa 3, pela primeira vez, ficou um bom tempo desocupada. O João, da casa 01, neto do senhor Joaquim, ficou preocupado pela demora. Alguns pretendentes chegavam para olhar, mas a desistência vinha quase que imediatamente, pois achavam que as casas germinadas eram uma invasão de privacidade. Até que depois de alguns meses, apareceu um casal de idosos, senhor Alfredo, de 85 anos, e dona Hermelinda, de 82 anos, que gostaram de cara da habitação e nem se incomodaram em ouvir a conversa dos vizinhos das casas dois e quatro. Se sentiram saudosos, lembrando dos três filhos, que perderam. Ecoou as brigas e conversar deles nos ouvidos, principalmente de dona Hermelinda. Uma lágrima distraída escorregou pela sua face. As conversas dos vizinhos iam brincar na sua saudade, iam trazer o eco dos seus filhos. Tinha aprendido, com o tempo, que o sofrimento não traria uma saudade sorridente. De vez em quando uma chama que queimava a sua alma, o tempo atiçava. O carro incendiando ainda queimava o seu amor. Mas lutava, ela e o marido, por ir apagando a fogueira, cuidando de outros filhos que não geraram. E os anos foram diminuindo as labaredas, entretanto a fogueira não apagou de todo. E, eles sabiam, que jamais as chamas se extinguiriam por completo.

...........Continua semana que vem!

 

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