quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Vila do Prazer - Parte 3

 


Continuando...

          Se instalaram na casa 03 na semana seguinte. Foi uma recepção meio morna, só de longe. Era um bater de mãos. Às vezes um oi que se perdia na distância. Mas o casal não abriu mão do sorriso, desde o dia que chegou. E os dias iam caminhando sem aproximações. Dona Hermelinda e seu Alfredo escutavam cochichos, mesmo sem querer ouvir, a respeito da velhice dos dois. Mesmo chateados, respondiam com sorrisos. E esse bom humor acabou contagiando os vizinhos, que voltaram a irradiar um pouco de alegria.

          As saídas, que eram diárias, passou também a não fazer mais parte dos mexericos. E assim os dias foram passando. Até que Demerval e Rosilda, os moradores da casa quatro, começaram a prestar atenção nos ruídos e gemidos vindo dos novos vizinhos, que, invariavelmente, começavam às 21 horas. Depois de alguns dias, resolveram comentar com os outros moradores, menos os da casa 01. Ali morava João, que era o proprietário, e a sua família. Logo no dia seguinte, por volta de 21 horas, lá estavam eles atentos para o desenrolar do que chamaram de noite festiva.

            A vizinhança realmente tinha absorvido um pouco do bom humor do casal. E a sexualidade começou a deixar também todos muito intrigados e, porque não dizer, com água na boca. A Vera, da casa dois, não conseguia entender como ela e o marido, que estavam na faixa dos quarenta anos, tinham um apetite sexual tão morno. Quando conseguiam duas vezes na semana, era motivo de festa. Já os da casa 04, Demerval e Rosilda, que estavam mais para o inverno, com seus 55 e 52 anos, não se conformavam com aquela situação. Faziam sexo uma vez por semana, enquanto os novos vizinhos, com 85 e 82 anos, bem mais velhos do que eles, faziam todo dia. Como podia isso?

            A performance dos velhinhos já fazia parte do cotidiano dos moradores da vila. O horário da ralação do casal, já estava cronometrado. Ninguém olhava mais para o relógio: o início nunca passava das 21 horas mesmo. Acertavam até os seus relógios, pelo encontro amoroso do casal. Era uma pontualidade britânica. Com o tempo, até a orelha na parede da casa 3, não foi mais necessário encostar, para se sentirem participando da orgia diária. Devido a espessura das paredes, tinham até a sensação de vê-los trocando de roupas. Só os da casa cinco é que ainda precisavam, para entrar no clima, colar os ouvidos na parede da casa quatro, de Demerval e Rosilda. 

............Continua semana que vem!

 

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