terça-feira, 20 de julho de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 35

 


Continuando...

        Karen ainda continuava com pouca firmeza nas pernas, contudo a sensibilidade começava a voltar. A dormência já diminuíra bastante, segundo ela. Só não conseguia ainda se apoiar. Mas isso foi motivo suficiente para Bordélo inspirar profundamente e expirar com força. Karen sorriu e perguntou:

          - O que foi Bordélo?

          - O que foi? Você ainda pergunta? Poxa, eu estava preocupado com a quase total insensibilidade das suas pernas! Agora com essa notícia e com o susto que passamos estou completamente aliviado. Quer coisa melhor? Agora é só voltar pra terra firme e esquecer o que passamos.

         - Se Deus quiser! E tenho que agradecer a você por ter me salvado. Eu não tinha mais nenhuma esperança. Você me encontrar viva, foi puro milagre.

        - Acho que sim. Acho não, tenho certeza. Ficar esse tempo todo com a metade do corpo dentro de uma barraca e com os pés presos, só mesmo milagre de Deus. Você foi preservada, por algum motivo. Qual o motivo? Não sabemos.

         Karen, temos que voltar para a margem do rio. Vamos fazer o seguinte: você vai boiar e eu vou conduzi-la por entre essas pedras que estão bem juntas. Vou mantê-la o mais próximo possível de mim. Não vai ter erro.  O difícil já passou.

        - Estou tranquila agora. Já posso boiar?

        - Já. Vou soltá-la e você pode boiar.

          Cuidadosamente Bordélo foi soltando a amiga. Durante algum tempo ficou segurando-a pelos braços, até que boiasse. Quando ela conseguiu flutuar, ele liberou-a acreditando que estava tudo sobre controle. Só que a corda excedente que trazia presa na sua cintura se soltou e a correnteza arrastou-a, deixando-a pendurada no meio da cachoeira. Aconteceu muito rápido, não dando tempo para que ele a segurasse novamente pelo braço. O tranco que ele recebeu com o mergulho de Karen, foi bem forte. E para ela também não foi fácil. Além do puxão, o seu corpo foi jogado de encontro às pedras ocultas pelas águas barrentas. Com o impacto, ficou atordoada e sentindo muita dor pelo corpo. Parecia que nenhum osso resistira ao impacto e se quebrara.

          Bordélo quase entrou em pânico com o incidente, mas conseguiu se controlar, depois de muito pedido a Deus para que se tranquilizasse e clareasse os seus pensamentos. O momento era muito grave. Ia precisar de muito controle emocional para tentar salvar Karen. Não sabia como ela estava, pois não tinha nenhuma visão sua. A única certeza era que ela continuava presa a ele. Então chamou por ela, procurando demonstrar tranquilidade, pedindo para que procurasse ficar calma, pois ia resgatá-la. Mas Karen não respondeu ao seu chamado. Depois de chamar mais algumas vezes, acabou gritando. Mas nada de receber resposta.

        O descontrole começou a se exteriorizar. De repente já não conseguia mais pensar no que fazer. Gritou desesperado por ela várias vezes. Como o silêncio persistia, começou a chorar, achando que tinha perdido a amiga. Não sabe o tempo que chorou, mas o pranto foi aliviando a sua dor e com isso a calma foi voltando, sem que ele percebesse, e com ela a lucidez.

          A pressão na cintura, causada pelo peso de Karen, continuava.  Então tentou puxa-la, mas a força contrária que a água fazia, não permitiu que a trouxesse. O que fazer? Olhou para onde a água mergulhava. Viu que a única solução seria ir até a borda da cachoeira. Mas quando pensou nisso, o corpo todo tremeu. Porém sabia que com medo ou sem medo, teria que se arriscar. Era vencer o medo e ir até a borda ou não conseguir salvar Karen. - Vou salvá-la de qualquer jeito. – falou para si.

         Antes de enviar o sinal para os amigos, tinha que achar uma forma de aliviar a pressão que o peso dela estava causando na sua cintura, porque a sensação que tinha era de estar sendo enforcado pela barriga.

 .................Continua semana que vem!!

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