terça-feira, 13 de julho de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 34

 


 Continuando...

           Bordélo mantinha Karen enlaçada por um dos seus braços e se encostou o máximo que pode na pedra, a fim de proteger-se e à Karen. Enquanto isso os amigos traziam a corda bem esticada para dar sustentação aos dois. Eles tremiam mais de medo do que de frio. Com o barulho crescente eles fecharam os olhos e rezaram. Não tinha mais o que fazer.

          A árvore parecia um cavalo xucro enfurecido. Um tronco, que menos de duas pessoas não conseguiriam abraçar, vinha se chocando com as pedras que encontrava pela frente. Muitas não conseguiam resistir ao impacto e eram arremessadas para longe do seu caminho.  A sua direção era a grande pedra, onde estavam Karen e Bordélo. Os amigos viraram os rostos para não verem o desfecho desse momento, talvez trágico.

         Bordélo, num impulso, beijou o rosto da amiga. Nesse instante abriu os olhos e olhou rio acima. Ficou petrificado ao ver, há alguns metros de distância, a raiz da árvore que com certeza, iria se chocar com a pedra e jogá-los para dentro da cachoeira. Viu e sentiu o seu final e da amiga. Fechou os olhos e esperou pelo impacto. Mas a mão de Deus se interpôs entre eles e o jequitibá gigante mudou a sua direção. O barulho causado por ele, ao mergulhar na cachoeira, parecia a explosão de uma bomba, de alto poder destrutível.  Para Karen e Bordélo, aquilo pareceu o fim dos tempos. A sensação, depois comentada por eles, era a de que iriam ser tragados, engolidos por um imenso buraco. Sentiram que o mundo estava se acabando naquele momento. E que não tinham outra coisa a fazer, senão rezar.

          O barulho ecoou por todo aquele vale parecendo que jamais findaria. E os dois, com os corações a ponto de sair pela boca, continuaram enlaçados, com a sensação de que ali estava o último abraço de suas vidas. Os olhos ainda fechados, não acreditavam que ainda pudessem estar vivos.

         Na margem, Luiz e Luiza também se abraçavam esbanjando felicidade, ao verem que a árvore não tocara nos amigos. E André, que compartilhara os momentos de pura tensão, olhava para o céu, fazia o sinal da cruz, deixando escapar um leve sorriso. Parecia que tudo voltara ao normal. Depois do estrondo, a sensação era a de que, ali, pousara o silêncio, mesmo em meio ao barulho causado pela enxurrada. Pelo caos vivenciado naquele instante o rio parecia que tinha apenas algumas corredeiras. A enchente, pela ótica deles, estava mais para um córrego deslizando suas águas por cima de um capim rasteiro, silenciosamente.

        Luiz, de onde estava, via os dois ainda abraçados e colados na pedra. Ele então deu um leve puxão na corda, para chamar Bordélo, que imediatamente olhou. Luiz levantou o seu polegar e o amigo sinalizou confirmando que estava tudo bem.

....................Continua semana que vem!

 

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