terça-feira, 15 de junho de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 30

 


Continuando...

            Naquele momento já tinha corda suficiente para se jogar de corpo e alma naquela incerta aventura. Antes de pegar a correnteza, olhou para o céu, fez um sinal da cruz e, colocando um dos pés numa pedra atrás de si, deu um impulso e foi na direção que o levaria ao seu destino. Foi mais rápido que o esperado. E por onde passava o seu corpo, um rastro de sangue coloria a água. Ele não previra que havia algumas pedras pontiagudas submersas, há alguns centímetros abaixo da lâmina d’água. Aí é que foi perceber, porque ali a correnteza era mais branda. Como navalha as pedras rasgavam o seu peito. Mas a vontade era tanta de chegar ao seu destino, que via o sangue se destacar na água barrenta e não se dava conta que não era o rio que sangrava.

             A ansiedade que o arrastava fazia com que ao passar por essas pedras, impulsionasse mais o corpo. E por conta disso, quase se chocou com a grande pedra. Por sorte Luiz percebendo a velocidade que ele descia, puxou rapidamente a corda. Com isso evitou que ele se chocasse e eventualmente fosse engolido pela cachoeira. O tranco foi grande, ao ponto de deixa-lo um pouco sem ar. Ficou até meio desnorteado, mas percebeu que estava há alguns centímetros da pedra. E que se não fosse por essa intervenção do amigo, com certeza teria se chocado violentamente. Pensou na burrice que tinha feito, então tremeu dos pés à cabeça.  

          Bordélo conseguiu se segurar. Por sorte a pedra era irregular e bem áspera. Olhou para o alto e balbuciou alguma coisa. Não deu para se saber o que disse, mas supõe-se que tenha agradecido a Deus por estar vivo, pois respirou fundo e fez o sinal da cruz. Em seguida olhou em direção aos amigos e sinalizou dizendo que estava tudo bem. Depois pediu mais um pouco de corda.

          Os três estavam apreensivos. O susto foi grande. Depois de refeito, André avisou para Luiz e Luiza que ia ceder mais corda, mas que eles controlassem e fossem soltando aos poucos. E assim foi feito. Bordélo com mais corda, foi girando em torno da pedra até sumir das vistas dos amigos. O tempo foi passando nervoso. Nada de Bordélo dar as caras. Só não ficaram desesperados, porque Luiz, como o combinado, dava um puxão na corda e Bordélo respondia. Mas de repente ele apareceu. Os amigos quando o viram, respiraram aliviados. Ele gesticulava, mas não conseguia falar nada. Eles percebendo a sua aflição, gritaram:

        - O que houve Bordélo?

          Ele não conseguiu responder. Parecia engasgado. E continuava gesticulando. Luiza então falou para Luiz:

       - Luiz, ele deve estar passando mal! Temos que fazer alguma coisa, vamos puxa-lo!

          Mas mal começaram a recolher a corda, Bordélo conseguiu gritar o mais alto que pode, aliado a gesticulação, com medo que não o ouvissem.

        - Não puxem! Ela está aqui! Gente! Ela está viva! Karen está viva! Vamos tirá-la daqui! Me deem mais corda!

..................Continua semana que vem!

 

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