terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 13

 


Continuando...

            André mesmo com toda segurança que tinha no que fazia, sentiu um dedo de preocupação. Analisou a situação e viu que não ia ser fácil chegar até a primeira árvore. A distância até ela não era pouca. Então só encontrou uma solução: lançar a corda de modo a enlaçar o seu tronco. De repente esticou um olhar triste para cima do morro, na direção da pequena árvore salvadora, e percebeu que se tivesse deixado a corda presa nela, seria muito mais fácil sair dali. Por pura distração complicou a sua vida e a de Luiza.  Agora tinha que se preparar para encarar muito trabalho pela frente, até chegar à trilha. Mas não ia esmorecer. Arregaçar as mangas e pôr mãos à obra era o que restava fazer. 

           A primeira providência foi descer da árvore, pegar uma pedra que estava na sua base para amarrar na ponta da corda e lançá-la até a outra árvore. A princípio ia subir e fazer o trabalho lá de cima, mas pensou e achou melhor arremessá-la dali de baixo. Então pediu à Luiza para jogar uma ponta da corda. Rapidamente amarrou a pedra na corda e lançou-a. Nessa primeira tentativa não logrou êxito. Então tentou a segunda, a terceira e somente na quarta vez é que conseguiu que a corda se enrolasse no tronco. E milagrosamente ficar presa. Deu alguns bons puxões e ela não soltou. Por precaução amarrou uma outra na sua cintura, depois no tronco da árvore, e foi descendo cuidadosamente até ficar de frente para essa segunda árvore; dali até se segurar no seu tronco foi um pulo. Para chegar até a terceira árvore foi muito mais fácil. Quando percebeu já estava a um passo do seu tão esperado destino.

           Até a trilha era realmente uns poucos metros, mas como a formação de toda aquela encosta era de terra fofa e cheia de pedras soltas, tinha que descartar também a subida, mais uma vez, pelo chão. Então, como única alternativa, escalou a árvore, mas manteve a corda amarrada à cintura.

             Um galho ou outro fazia sombra em alguns trechos da trilha. André então procurou o que tivesse o tronco mais grosso e que ficasse bem em cima do caminho. Escolheu um, que achou o melhor, pois quase encostava o ramo no morro.  Depois que se esgueirou entre os galhos, antes de pular, gritou para que Luiza soltasse um pouco mais a corda. Aquele salto, para ele, foi o melhor da sua vida. Já em terreno firme, recolheu toda a corda e foi resgatar a amiga.

           

 Luiza, após relembrar essa aventura, em que pôs em risco sua vida, voltou à realidade e viu-se mais uma vez arriscando-a novamente, agora, na montanha Ita-Ita, e pensou no seu pai. Sabia que ele só ficava tranquilo quando ela voltava para casa. Contudo nunca a proibiu de fazer o que gostava, ainda mais na companhia de André, pessoa que estimava como se fosse um filho.  A sensação de que o pai estava ali na sua frente era real. Olhou ternamente para ele e uma lágrima desceu pelo seu rosto. Tentou esticar a mão para alcançá-lo, mas foi em vão, pois a imagem foi arrastada pelo vento, e as lágrimas então brotaram com mais intensidade. Depois de algum tempo assim chorosa, com a cabeça baixa, lembrou-se de André e gritou, assim ela pensou, nervosamente:

          - André! Estou aqui! Venha me salvar! Agora quero descer! Vem logo!

          O que ela recebeu como resposta foi o silêncio.

          André não ouviu o seu chamado. Além do pedido de socorro ter saído da garganta de Luiza quase se arrastando, um grito quase mudo, ele continuava ao sabor do vento, que continuava a castiga-lo rigorosamente.

                   Naquele momento estava bem pior o seu estado de saúde, físico e mental. O seu olhar e pensamento, no geral, não tinha uma direção definida. Estava tudo muito confuso. Os olhos ficavam mais fechados do que abertos. Mas esporadicamente mirava aquela vastidão verde, sem, no entanto, atinar o que seria aquilo. Na verdade, do jeito que estava se sentindo, aquilo não representava nada, nada para ele.  Completamente atordoado, com dor por todo o corpo, olhava sem nada ver. Não conseguia entender o que era aquela imagem de destruição bem próximo, a alguns metros. Aquele caos não representava, no momento, coisa alguma.

.................Continua semana que vem!

 

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