terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Nos Escaninhos do Coração - Parte 11

 


Continuando...

               Em movimento de novo, teve a intuição de que Luiza não estava longe dali. Achou que a sua voz, que chegou abafada, não viera do fundo do abismo. - Mas de onde viera então? – pensou. Tinha que continuar descendo. Entretanto esqueceu de perguntar se a quantidade de corda daria para essa empreitada. E a resposta seria não.  Dispunha apenas de mais 50 metros. Mas por sorte não chegou a descer muito, pois logo seus pés tocaram em um ponto firme.  Só que não deu para ver onde estava pisando, porque a vegetação engolira seus pés e pernas. Mas como já tinha os pés apoiados, arriscou meter as mãos no meio da vegetação e afastá-la feito uma cortina. E qual não foi a sua surpresa: se deparou com um buraco mergulhado na escuridão. Estava ele na porta de uma caverna, que não conseguia ver nada no seu interior. Então ficou parado para tentar acostumar-se com aquele breu. Depois foi entrando com cuidado, pisando num terreno sem ver o chão. Foi indo bem devagarzinho. Então deu-se conta que nunca estivera num lugar tão escuro e silenciosamente enervante. Ali - pensou - talvez conseguisse gritar por Luiza e ser ouvido por ela mais facilmente. Então virou-se para a saída da caverna e gritou:

            - Luiza, onde está você?

            E imediatamente veio a resposta:

            - André! Graças a Deus! Estou aqui! Estou aqui! Não precisa gritar tão alto!

            - Onde?

            - Aqui dentro desse buraco. Estou mais para o fundo.

            - Puxa! Graças a Deus! Estou indo.  

            - Mas venha com cuidado. Eu estou com a perna presa, acho que é numa pedra. Vem com cuidado se não você pode me pisar.

               - Deixa que vou clarear com o meu celular. Você está sem o seu?

               - Ele deve ter caído.

               André ligou o celular e clareou a caverna. Avistou, logo a frente, Luiza estirada no chão. Foi caminhando com cuidado, pois não sabia se o chão da gruta era firme. Por precaução parou e jogou a ponta da corda até ela e pediu-lhe para que se amarrasse. Depois se aproximou, ajoelhou ao seu lado, deu-lhe um abraço e falou emocionado:

               - Caramba, Luiza! Eu pensei que tivesse perdido você para sempre! Não faça mais isso comigo, não!

               Ela olhou-o, com os olhos cheios d’água, e disse inundada de emoção:

               - Que bom te ver, André. Eu nem sei como me salvei. Por sorte apareceu essa gruta no caminho. Como caí aqui dentro, não sei. Parece que fui sugada. Estranho isso. Eu nem sei a altura que tem esse despenhadeiro... Ufa! Graças a Deus! E agora, graças também a você.

               - Esquece isso. Agora já passou. Vou tirá-la daqui. Onde está a sua corda?

               - Não sei. Deve ter caído por aí.

               - Então se levante e vamos sair daqui.

               - Não dá André. O meu pé está preso debaixo de alguma pedra.

               - Então vou dar uma olhada.

               Ele sem falar mais nada, foi olhar o pé de Luiza. Arriou e fez uma análise rápida. Constatou que ele tinha entrado por debaixo de uma pedra, mas que aparentemente estava em perfeito estado. Com cuidado tentou vira-lo, mas não conseguiu.  Puxou-o, mas também não deu em nada. Com uma análise mais profunda, verificou que ele havia entrado em um buraco no chão. Estava surpreso pelo fato de não ter nenhuma quebradura e nem escoriações. Só que não entendeu como o pé dela entrou ali e ficou intacto. 

             Depois de tentar e tentar tirá-lo, sem sucesso, começou a ficar nervoso. Estava suando feito bica, causado pelo calor reinante, somado ao nervosismo. Mas procurou não deixar Luiza perceber. Ficou pensativo olhando para a maldita pedra. E nada de encontrar um jeito de removê-la com as mãos. - Com uma ferramenta seria tão fácil! – pensou balançando a cabeça e torcendo a boca. E ele tinha a ferramenta que resolveria o problema, só que ela estava na mochila, que tinha deixado lá na trilha. Luiza olhava para o amigo, parado feito uma estátua, sem entender o que estava acontecendo com ele, então perguntou:

               - André, o que é que está acontecendo? Estou aqui no maior sufoco e você aí parado!  Me tira daqui!

               - Calma Luiza. Estou pensando em como arrancar essa pedra daí, sem te machucar.  A droga é que deixei todas as ferramentas lá em cima.

               - Você vai subir?

               - Só se não tiver jeito mesmo. 

               - Então tenta primeiro tirá-la com as mãos. Balança ela com força, se doer eu aviso.    

                Ele olhou-a com uma expressão que achava aquilo perda de tempo.  Ficou pensativo e disse:

               - Será? Já tentei.

               - Faz de novo, com mais força.

               - É. Como não temos nada a perder, vou tentar. Se não conseguir, vou subir e pegar a ferramenta.

               Quando ia metendo a mão na pedra, parou de repente e, apontando para o fundo da gruta, disse:

                - Luiza, você está vendo aquele dois pontos de luz brilhando lá no fundo?

               Ela olhou e ficou assustada. Depois com a voz trêmula perguntou:

                - André o que será aquilo? Estou com medo. É um bicho. Só pode ser. E se for perigoso?

               - Fica calma. Vou iluminar pra ver o que é.

                Ele virou o facho de luz na direção dos pontos brilhantes e qual não foi a sua surpresa: um filhote de onça, encolhido no fundo da caverna tremia assustado. O medo que sentia, era talvez igual ao que estava sentindo os dois.

 

.............Continua Semana que vem!

 

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