domingo, 9 de agosto de 2020

Homenagem ao Dia dos Pais (Republicando...) - Meu Velho e Eu


 MEU VELHO E EU

- José Timotheo -

Sentado num banco tosco meu velho mirava o horizonte
Um vento de outono mexia nos seus cabelos grisalhos
Deixando-os desgrenhados como ao acordar
Vez ou outra brigava com uma mosca impertinente
Que tentava roubar uma gota da sua cerveja
Já meio quente por causa do esquecimento
Mas alguma canção que furava o tempo
Escorregava pelos seus dedos e tamborinava na perna
E depois saía voando pelos seus lábios enrugados
Fazendo dueto com um sorriso
Que estava guardado na saudade
Na sua memória um imã girava sem pressa
Atraindo velhas recordações
Mas tão novas quanto as vividas em antanho
O meu velho não deixava uma lembrança
Escapar do seu bate papo
Podia ser repetida quantas vezes ela fosse
Mas vinha sempre enriquecida de novidade
Hoje ele não senta mais no banco tosco
E eu não ouço mais o seu assobio
Nem as suas histórias ainda recheadas de sonhos
Mas que podem ser as minhas, sem dúvida
Hoje sento no mesmo banco tosco
Onde um vento, mas que não é de outono
Desliza pelo meu rosto e penteia meu cabelo também grisalho
E onde já começo a catalogar as minhas histórias
Me preparando para quando o outono se aproximar
E ali sentado, desfiar as minhas saudades para as filhas e netos

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