terça-feira, 11 de agosto de 2020

Alma do Outro Mundo? - Parte 2

 

Continuando...

    Ao lado da mesa comprida, havia uma mesa menor com café, pão, bolo e mais uma porção de comes e bebes. Sentei-me e fiz meu dejejum. Estava satisfeito. Quando ia me levantando, quem apareceu? Ela mesma, a menina desdentada. Não tive saída e cumprimentei-a, com um bom dia mixuruca. Ela me olhou e não respondeu. A cara estava aborrecida. De relance observei que ela era bonitinha, de boca fechada.  Pensei então em falar com a prima para leva-la ao dentista, mas... Eu não tinha nada a ver com a vida alheia. Deixei sossegado.

          Já que estava de pé sem saber o que fazer, peguei a minha xícara e coloquei mais um pouco de café. Sentei-me meio desconcertado e bebi o café de uma golada só. Acendi um cigarro e fiquei jogando fumaça para o alto. De repente recebi uma cutucada nas costelas. Era a menina.

         - Acho melhor você apagar essa droga de cigarro! A minha tia não gosta que ninguém fume à mesa do café ou do almoço! Se quiser fumar, vai pro seu quarto ou vai pra rua!

        Ela falou com a mão na frente da boca, girou nos calcanhares e sumiu rapidamente das minhas vistas. Pelo tom da sua voz, senti que realmente ela estava aborrecida comigo. Tinha motivo? – perguntei-me. Levantei-me e fui descendo a escada. No último degrau, já de frente para a porta de saída, resolvi dar uma olhadinha para cima. Para minha surpresa, lá estava ela com as mãos na cintura e os olhos embotados de ódio. Aquela visão arrepiou-me corpo e alma. O que causou aquele ódio, se não falei nada que a magoasse? A única coisa foi assustar-me com ela. Só isso. Será que foi a cachaça que a ofendeu? Dei um tchau, abri a porta e saí pra rua. Mal coloquei os pés do lado de fora, encontrei o meu amigo e a sua namorada, sentados no banco de frente para a porta. Ela quase não me olhou e o amigo me deu boa tarde, mesmo não passando das nove horas. Sentia-me um criminoso, já condenado e a caminho da forca.

           Não querendo deixar o meu astral ser pisoteado logo pela manhã, tentei puxar uma conversa. Sorri e falei alguma coisa engraçada, que no momento não me lembro, mas que não surtiu nenhum efeito. Então não devia ter sido tão engraçada. Até o meu amigo que gostava das minhas piadas, deu apenas um arremedo de sorriso. A namorada dele então estava completamente emburrada. Do jeito que ela estava, acho que nem cócega ia fazê-la rir. Senti que o meu fim de semana “boca livre” estava indo para o brejo. Alguma coisa eu tinha que fazer. O quê? Eu ainda não sabia. Mas ia arranjar alguma solução com urgência.  

           Mesmo sendo inverno, por sorte, o sol estava aquecendo aquela manhã. Parecia que era o fim da primavera. A temperatura estava ótima para se tomar um banho de cachoeira. Isso me fez lembrar que na região tinha bons rios e belas cachoeiras. Ali estava a saída para me redimir de qualquer pecado. Mesmo tendo certeza que não cometera qualquer indelicadeza com a menina, para ser crucificado. Sugeri então um passeio. A princípio a minha ideia não foi bem aceita, mas o meu amigo percebeu que isso seria uma boa forma das coisas entrarem nos eixos, insistiu com a menina até que ela cedeu. Subiu para trocar de roupa e chamar a prima. Quando falou na prima, tive a sensação que despejavam um balde de água gelada em cima de mim. Ia contestar, mas respirei fundo e rapidamente concluí que ia ter que engolir aquele sapo.  

......................Continua semana que vem!

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