Continuando...
Ao lado da mesa comprida, havia uma mesa menor com café, pão, bolo e mais uma
porção de comes e bebes. Sentei-me e fiz meu dejejum. Estava satisfeito. Quando
ia me levantando, quem apareceu? Ela mesma, a menina desdentada. Não tive saída
e cumprimentei-a, com um bom dia mixuruca. Ela me olhou e não respondeu. A cara
estava aborrecida. De relance observei que ela era bonitinha, de boca
fechada. Pensei então em falar com a prima para leva-la ao dentista,
mas... Eu não tinha nada a ver com a vida alheia. Deixei sossegado.
Já que estava de pé sem saber o que fazer, peguei a minha xícara e coloquei
mais um pouco de café. Sentei-me meio desconcertado e bebi o café de uma golada
só. Acendi um cigarro e fiquei jogando fumaça para o alto. De repente recebi
uma cutucada nas costelas. Era a menina.
- Acho melhor você apagar essa droga de cigarro! A minha tia não gosta que
ninguém fume à mesa do café ou do almoço! Se quiser fumar, vai pro seu quarto
ou vai pra rua!
Ela falou com a mão na frente da boca, girou nos calcanhares e sumiu
rapidamente das minhas vistas. Pelo tom da sua voz, senti que realmente ela
estava aborrecida comigo. Tinha motivo? – perguntei-me. Levantei-me e fui
descendo a escada. No último degrau, já de frente para a porta de saída,
resolvi dar uma olhadinha para cima. Para minha surpresa, lá estava ela com as
mãos na cintura e os olhos embotados de ódio. Aquela visão arrepiou-me corpo e
alma. O que causou aquele ódio, se não falei nada que a magoasse? A única coisa
foi assustar-me com ela. Só isso. Será que foi a cachaça que a ofendeu? Dei um
tchau, abri a porta e saí pra rua. Mal coloquei os pés do lado de fora,
encontrei o meu amigo e a sua namorada, sentados no banco de frente para a
porta. Ela quase não me olhou e o amigo me deu boa tarde, mesmo não passando
das nove horas. Sentia-me um criminoso, já condenado e a caminho da forca.
Não querendo deixar o meu astral ser pisoteado logo pela manhã,
tentei puxar uma conversa. Sorri e falei alguma coisa engraçada, que no momento
não me lembro, mas que não surtiu nenhum efeito. Então não devia ter sido tão
engraçada. Até o meu amigo que gostava das minhas piadas, deu apenas um
arremedo de sorriso. A namorada dele então estava completamente emburrada. Do
jeito que ela estava, acho que nem cócega ia fazê-la rir. Senti que o meu fim
de semana “boca livre” estava indo para o brejo. Alguma coisa eu tinha que
fazer. O quê? Eu ainda não sabia. Mas ia arranjar alguma solução com urgência.
Mesmo sendo inverno, por sorte, o sol estava aquecendo aquela manhã. Parecia
que era o fim da primavera. A temperatura estava ótima para se tomar um banho
de cachoeira. Isso me fez lembrar que na região tinha bons rios e belas
cachoeiras. Ali estava a saída para me redimir de qualquer pecado. Mesmo tendo
certeza que não cometera qualquer indelicadeza com a menina, para ser
crucificado. Sugeri então um passeio. A princípio a minha ideia não foi bem
aceita, mas o meu amigo percebeu que isso seria uma boa forma das coisas
entrarem nos eixos, insistiu com a menina até que ela cedeu. Subiu para trocar
de roupa e chamar a prima. Quando falou na prima, tive a sensação que
despejavam um balde de água gelada em cima de mim. Ia contestar, mas respirei
fundo e rapidamente concluí que ia ter que engolir aquele sapo.
......................Continua semana que vem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário