Continuando...
Helô,
que ainda se mantinha escondida, viu quando uma velhinha se aproximava. Não
conseguia ver o seu rosto. Vinha vagarosamente, de cabeça baixa. Como Helô não
queria ser vista, foi para o outro lado do pilar. Não deveria se expor. Não poderia
chamar a atenção para si, mas, com cautela, até a chegada da Madre, arriscaria
de vez em quando uma espiadela. Observou então que ela usava um hábito de
freira. A princípio seria uma irmã de caridade, entretanto ela não se recordava
de já ter visto alguma irmã, com idade tão avançada, circular pelas
dependências do convento. Ela que sempre
se gabou em achar que conhecia todo mundo do convento! Agora estava com um nó
na memória. Escondeu-se novamente pensativa, mas a curiosidade forçou-a a olhar
mais uma vez. Aí foi o maior susto: a velhinha vinha em sua direção. Ficou
apreensiva. Voltou novamente para o lado que a mantinha fora da visão dessa
irmã. Fechou os olhos, como se fosse apenas uma piscadela, mas ao abrí-lo quase
enfartou: a velhinha estava na sua frente, com o rosto quase colado no seu. Coração
disparado, quase saiu pela boca. Queria falar alguma coisa, mas não conseguia.
O medo era evidente. De repente a velhinha sorriu. Aí Helô respirou fundo e,
imediatamente, como por encanto, relaxou. Respirou mais uma vez, mas
agora demonstrando alivio total e não era para menos, pois estava à sua frente
nada mais nada menos que a Madre Maria de Lourdes. Finalmente, para não deixar
dúvida, querendo mostrar que o susto era coisa do passado, respirou com força e
com mais força ainda expulsou o ar que pudesse ter alguma coisa a ver com o
medo intrujão. Sorriu pra velhinha, mas que agora não era mais e exclamou:
- Puxa, Madre, que susto! A senhora
está completamente diferente! Como é que se faz isso? Só reconheci que era a
senhora pelo sorriso!
- Viu só, como o sorriso pode trair as
pessoas? Não consegui me esconder do sorriso! Que coisa! Agora,brincadeira à
parte, vamos para o que interessa. O que você ouviu não pode deixar de informar
a Rodolfo. Você está preocupada com a sua demora, não é?Mas pode ficar
tranquila que ele vai voltar. Está tudo caminhando como deve ser: dentro da
lei.
- Madre, será que ela vai querer me
matar também?
- Não, minha filha. Daqui pra frente
ela não vai fazer mais nada de ruim pra ninguém e nem pra ela. O delegado vai
chegar um dia antes do seu aniversário.
- É? Como é que a senhora sabe?
- Mexi com os meus pauzinhos!
- Lá em cima é assim também?
- Não me faça rir, Helô!
- Está bem. Sem mais perguntas. Mas, Madre...
- Ué! Tem pergunta ou não tem?
- Acho que só mais umazinha.
- Está bem.
- Vai adiantar alguma coisa eu falar
com Rodolfo sobre como a irmã Amélia foi morta? Com as informações que ele já
tem, deve prender a Madre Joana, não é?
- É importante que ele saiba porque pede
a exumação do corpo e um exame para saber qual foi a causa mortis. Mesmo ela já
estando presa, não tem problema. E tem o médico. Você acha que ele é inocente?
- Claro que não! Acho que é tão
culpado quanto ela.
- E é mesmo. Se pelo menos ele
tivesse um comportamento, do lado de fora, sem crimes, mas ele nunca teve. Minha
filha, ele é dono de uma clínica de aborto. Como a totalidade dos médicos que
fazem da morte o seu ganha-pão, ele
queria enriquecer à custa do crime. Ele, como uma gama de doutores da medicina,
acredita que aquele ser ainda não tem alma, nem vida própria e que só vai ser
chamado de ser humano quando vier à luz. A medicina dele não é para o bem, mas é
uma pessoa de grandes conhecimentos médicos. Se os usasse para o bem, estaria no
grupo de grandes médicos trabalhadores do astral superior, prestando socorro
aos necessitados tanto da crosta terrestre quanto das zonas de sofrimentos que
chamam, aqui na superfície da Terra, de inferno, mas, pela ganância,preferiu o
caminho ilusório.
Helô estava boquiaberta com o que a
Madre falou. Na hora não achou palavras para argumentar sobre o assunto nem
ousou perguntar alguma coisa. Talvez, por interferência da própria Madre, fosse
melhor calar-se ou o momento não era propício para se estender qualquer papo.
Então veio claramente na sua cabeça que estava na hora de voltar para o
alojamento. Olhou para a Madre e recebeu dela um sorriso. Pensou em falar, mas
ela se dissolveu como fumaça.
................Continua semana que vem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário