terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A História de Helô - Parte 65


Continuando...

Helô, que ainda se mantinha escondida, viu quando uma velhinha se aproximava. Não conseguia ver o seu rosto. Vinha vagarosamente, de cabeça baixa. Como Helô não queria ser vista, foi para o outro lado do pilar. Não deveria se expor. Não poderia chamar a atenção para si, mas, com cautela, até a chegada da Madre, arriscaria de vez em quando uma espiadela. Observou então que ela usava um hábito de freira. A princípio seria uma irmã de caridade, entretanto ela não se recordava de já ter visto alguma irmã, com idade tão avançada, circular pelas dependências do convento.  Ela que sempre se gabou em achar que conhecia todo mundo do convento! Agora estava com um nó na memória. Escondeu-se novamente pensativa, mas a curiosidade forçou-a a olhar mais uma vez. Aí foi o maior susto: a velhinha vinha em sua direção. Ficou apreensiva. Voltou novamente para o lado que a mantinha fora da visão dessa irmã. Fechou os olhos, como se fosse apenas uma piscadela, mas ao abrí-lo quase enfartou: a velhinha estava na sua frente, com o rosto quase colado no seu. Coração disparado, quase saiu pela boca. Queria falar alguma coisa, mas não conseguia. O medo era evidente. De repente a velhinha sorriu. Aí Helô respirou fundo e, imediatamente, como por encanto, relaxou. Respirou mais uma vez, mas agora demonstrando alivio total e não era para menos, pois estava à sua frente nada mais nada menos que a Madre Maria de Lourdes. Finalmente, para não deixar dúvida, querendo mostrar que o susto era coisa do passado, respirou com força e com mais força ainda expulsou o ar que pudesse ter alguma coisa a ver com o medo intrujão. Sorriu pra velhinha, mas que agora não era mais e exclamou:
          - Puxa, Madre, que susto! A senhora está completamente diferente! Como é que se faz isso? Só reconheci que era a senhora pelo sorriso!
         - Viu só, como o sorriso pode trair as pessoas? Não consegui me esconder do sorriso! Que coisa! Agora,brincadeira à parte, vamos para o que interessa. O que você ouviu não pode deixar de informar a Rodolfo. Você está preocupada com a sua demora, não é?Mas pode ficar tranquila que ele vai voltar. Está tudo caminhando como deve ser: dentro da lei.
         - Madre, será que ela vai querer me matar também?
      - Não, minha filha. Daqui pra frente ela não vai fazer mais nada de ruim pra ninguém e nem pra ela. O delegado vai chegar um dia antes do seu aniversário.
        - É? Como é que a senhora sabe?
        - Mexi com os meus pauzinhos! 
        - Lá em cima é assim também?
        - Não me faça rir, Helô!
 - Está bem. Sem mais perguntas. Mas, Madre...
        - Ué! Tem pergunta ou não tem?
        - Acho que só mais umazinha.
        - Está bem.
      - Vai adiantar alguma coisa eu falar com Rodolfo sobre como a irmã Amélia foi morta? Com as informações que ele já tem, deve prender a Madre Joana, não é?
       - É importante que ele saiba porque pede a exumação do corpo e um exame para saber qual foi a causa mortis. Mesmo ela já estando presa, não tem problema. E tem o médico. Você acha que ele é inocente?
          - Claro que não! Acho que é tão culpado quanto ela.
          - E é mesmo. Se pelo menos ele tivesse um comportamento, do lado de fora, sem crimes, mas ele nunca teve. Minha filha, ele é dono de uma clínica de aborto. Como a totalidade dos médicos que fazem da morte  o seu ganha-pão, ele queria enriquecer à custa do crime. Ele, como uma gama de doutores da medicina, acredita que aquele ser ainda não tem alma, nem vida própria e que só vai ser chamado de ser humano quando vier à luz. A medicina dele não é para o bem, mas é uma pessoa de grandes conhecimentos médicos. Se os usasse para o bem, estaria no grupo de grandes médicos trabalhadores do astral superior, prestando socorro aos necessitados tanto da crosta terrestre quanto das zonas de sofrimentos que chamam, aqui na superfície da Terra, de inferno, mas, pela ganância,preferiu o caminho ilusório.
       Helô estava boquiaberta com o que a Madre falou. Na hora não achou palavras para argumentar sobre o assunto nem ousou perguntar alguma coisa. Talvez, por interferência da própria Madre, fosse melhor calar-se ou o momento não era propício para se estender qualquer papo. Então veio claramente na sua cabeça que estava na hora de voltar para o alojamento. Olhou para a Madre e recebeu dela um sorriso. Pensou em falar, mas ela se dissolveu como fumaça.
................Continua semana que vem!

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