Continuando...
Com ar de incredulidade, concordou em
sair dali o mais rápido possível. Pensava como aquilo era uma maluquice. Não o
fato da criminalidade envolvendo a Madre Joana e seus comparsas. Aquilo sim era
real e concreto. Era palpável.
A Madre pediu a Helô para que fechasse
os olhos e que Rodolfo fizesse o mesmo. Ele fez, mas pensou que aquilo pudesse
ser um truque. A Madre falou para Helô sobre tudo o que ele tinha pensado. A
menina sorriu e antes de falar com Rodolfo, com a sua curiosidade peculiar,
inquiriu:
- Madre, eu já estou pra lá de
acostumada. Eu nem percebo que voei. Agora a senhora faz também com Rodolfo.
Todo mundo pode voar assim?
- Voar. Engraçado! Não, Helô, a
maioria da humanidade está pregada no chão. Você, Rodolfo – mesmo ele não
acreditando – são exceções. Vocês são mais leves.
- Eu sou leve, mas ele até que é
fortinho!
- Não é isso. Quando as pessoas vão se
livrando das imperfeições, vão ficando mais leves. É quando a bondade já ocupa
um espaço no coração. Aí fica mais fácil ajudá-las a sair do chão.
- Acho que entendi, mas a senhora me
acha assim tão boa?
- Assim! Assim! Nem tanto, mas você é uma
menina boazinha. Tem que continuar melhorando dia após dia. Helô, nós temos que
praticar os ensinamentos de Jesus. Mesmo sendo em dose homeopática, não podemos
nos descuidar um dia sequer. É orai e vigiai.
- Está bem, Madre. Eu tento, mas é
difícil!
- E quem disse que é fácil?
Ela deu um sorriso murcho e depois
falou com Rodolfo:
- Rodolfo, a Madre mandou avisar-lhe
que ela ouviu tudo que você pensou. Até por último, quando disse que era um
truque. Ela escuta tudo.
- Puxa! Estou ficando impressionado!
É difícil acreditar nisso tudo!
- Falando igual à Madre: e quem disse
que é fácil? Agora feche os olhos. Isso. Vou fechar os meus.
Do lado de fora Helô bateu no seu ombro. Ao
abrir os olhos já estava na frente da gruta. Do ar de incredulidade, passou
para surpresa. Sorriu e disse:
- Como foi isso, Helô?
- Estamos na entrada da gruta e você
ainda me pergunta como foi? Não tem truque nenhum. Ainda continua não
acreditando que existe a Madre Maria de Lourdes, não é?
- É
difícil pra mim, Helô! Eu fui criado num templo evangélico! Eu sempre escutei
que só existe Deus, Jesus e o espírito santo. Agora acreditar que aquela Madre
está aqui com a gente, é muito difícil! Como acreditar numa coisa que não estou
vendo? Mas que foi estranho, foi! Você ainda falou em truque e eu pensei nisso
mesmo. Como cheguei aqui, nem desconfio e com certeza você não me carregou no
colo. Realmente isso é coisa pra se pensar muito.
- Como eu ia carregá-lo? Ainda mais
no colo!
Helô sorriu e num impulso segurou a
mão de Rodolfo. Esse toque causou-lhe um bem estar enorme. Ele também sentiu-se
nas nuvens. Os dois mergulharam numa onda de prazer. Apertaram-se as mãos com
mais força. Parecia que estavam com medo que alguma coisa pudesse separá-los.
Os corações batiam descompassados. O espaço de cada um, naquele momento, era
pequeno. A emoção transbordava. A Madre sorria feliz. Abraçava os dois com
felicidade plena. Ficaram os três envolvidos num facho de luz de cor
azulada. A sua missão estava quase
completa, - pensou - ao proporcionar o encontro daquelas duas almas.
A Madre foi-se afastando, mas não
ficou muito longe dos dois. Esperou até que os corações serenassem. Quando
percebeu que Helô podia entrar em sintonia novamente com ela, disse:
- Helô, está na hora de vocês
voltarem para a festa. Por enquanto ainda não sentiram a falta de vocês, mas a
qualquer momento isso pode acontecer. Aí não vai ser bom. Tem alguns irmãos, que
sintonizam com a Madre Joana, que estão tentando furar o bloqueio de qualquer
jeito. O laço que os une é muito estreito, entretanto vamos continuar
vigilantes, mantendo uma proteção compacta em torno dela, para afastá-los o
máximo que pudermos. Vocês dois não podem chegar juntos. Avisa a Rodolfo.
- Está bem, Madre.
Rodolfo, a Madre falou que está na
hora da gente voltar, mas temos que ter cuidado. Por precaução, não podemos
chegar juntos.
Ela falou e no mesmo instante saiu
puxando-o pela mão, para saírem rápido dali, mas alguns metros à frente para.
Rodolfo não entendeu e perguntou:
- Ué!
O que houve?
- Eu tenho que perguntar uma coisa à
Madre, mas andando eu não consigo concentrar-me. É coisa rápida.
- Madre, veio-me uma coisa aqui na
cabeça. Invadiu de repente. Lembrei-me das meninas. A senhora não pode fazer
nada por elas, não? Fico pensando nos maus bocados que vão passar nas mãos
daqueles bandidos.
A Madre queria explicar o que
envolvia aquilo tudo, mas sabia que Helô não ia entender, naquele momento,
aquela questão. Aquilo tudo era resgate de vidas passadas e ela não podia se
intrometer, entretanto tentou assim mesmo justificar-se.
- Minha filha, nesse momento não podemos
fazer nada por elas.
- Mas por que, Madre?
- Agora não posso explicar. São muitos
os porquês. Na maioria das coisas os espíritos não podem intervir. Em breve
poderemos conversar sobre isso e mais uma porção de coisas que envolvem os dois
mundos, onde eu vivo e onde você vive. Está bem? Agora vão andando, que já
estão ficando atrasados.
..............Continua semana que vem!
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