terça-feira, 19 de novembro de 2019

A História de Helô - Parte 58



Continuando...

         Ao final da festa, fechando com a apresentação do coral, Rodolfo aguardou Helô no jardim, como tinha combinado. Foi para o mesmo lugar em que estivera com ela, na sua chegada.
            Ela foi ao seu encontro, mas muito nervosa. Mesmo sabendo que a Madre iria dar cobertura a Rodolfo nas fotos e gravações, assim mesmo não conseguiu relaxar.  A dúvida ficou do seu lado durante toda a apresentação do coral. Se tudo correu bem ou não, só ia saber mesmo ao encontrá-lo. Foi um período sofrido, pois em momento algum conseguiu desligar-se dele, mas respirou aliviada no instante que o encontrou. A sua emoção foi tanta que não aguentou e o abraçou, mas percebendo que o seu impulso poderia criar problemas afastou-se rapidamente. Só que não tinha percebido que a Madre envolvia os dois num abraço luminoso.
          Rodolfo transbordava de emoção. Aquele abraço de Helô fez com que, num impulso, deixasse o seu coração falar. Disse tudo que sentia. Que não teve dúvidas do que sentiu no momento em que os seus olhares se tocaram. Ali encontrou o seu amor, o amor da sua vida.
          Helô emudeceu. A coloração do seu rosto ficou rosada. Os seus olhos, mergulhados na emoção, eram o espelho da sua alma. Não precisava de palavras para dizer do seu amor. Esse amor que sem dúvida era recíproco.
          O tempo voou. Rodolfo já se preparava para ir embora. O coração estava apertado, mas, com o encerramento formal da festa, com discursos do senador e da Madre Joana, não tinha como permanecer ali. Deveria ir embora antes que os demais convidados começassem a se aglomerar no portão.  Não deveria macular a reputação de Helô e nem colocar em risco o plano de colocar na cadeia a gangue da Ma
dre. Foi com pesar no coração que se despediu de Helô, mas prometeu-lhe que ia fazer o possível e o impossível para botar atrás das grades todos aqueles bandidos e que voltaria para vê-la e tirá-la dali. Com lágrimas nos olhos, Helô, depois que a Madre garantiu que os dois estavam invisíveis, abraçou-o carinhosamente e depositou um beijo no seu rosto.
          Os dias para Helô se arrastavam com gosto de saudade. Vivia calada e amuada pelos cantos. De vez em quando se refugiava no jardim e não tirava os olhos do portão. – Por onde anda Rodolfo? Será que se esqueceu de mim? – fazia essas perguntas várias vezes por dia. Para completar a sua tristeza, a Madre Joana resolveu, mais uma vez, sumir com a irmã Amélia. Ela pedia socorro a Madre Maria de Lourdes, mas não recebia nenhuma resposta. A entidade estava incomunicável. Era a única pessoa que poderia ajudá-la nesse momento aflitivo. Sentiu-se mais órfã do que nunca. Não sabia mais o que fazer.
          Na noite de uma sexta-feira, Helô caminhava pelo corredor em direção ao alojamento. Um vento carregado de gotículas de chuva alcançou-a. Acelerou os passos até a porta, que se encontrava apenas encostada, e empurrou-a devagar. O silêncio dormia com as suas amigas. Entrou pé sobre pé, para não acordá-las. Trocou de roupa rapidamente, deitou, mas não conseguiu pregar olhos. Não parava de pensar. Queria descobrir uma saída para a sua aflição. De repente uma ideia nasceu: ia procurar a Madre Joana logo pela manhã.
         Envolvida na esperança, conseguiu dormir a noite toda. Acordou bem mais leve, mas era muito cedo. Ia esperar até às oito horas para ir ao escritório da Madre. A ansiedade aumentava. Achou que o relógio estava escangalhado. Os ponteiros preguiçosos, não andavam, mas depois de todo esse sofrimento a hora que tanto esperava chegou. Rapidamente foi para o corredor. Decididamente tomou o caminho da sala da Madre, entretanto, para a sua surpresa, na outra extremidade do corredor, surgiu a figura da irmã Amélia.  Vinha caminhando com dificuldade, amparada por uma bengala. Helô ficou emocionada ao vê-la, mas achou estranho ela estar só. Apressou-se em encontrá-la. Ao chegar bem perto, por sorte, conseguiu ampará-la a tempo, antes que fosse ao chão.  O seu desequilíbrio era fruto da fraqueza. Helô ficou impressionada com a sua magreza. Com carinho conduziu-a até um banco próximo. Amélia estava ofegante, mas com dificuldade falou:
          - Minha filha, tenho que falar com você uma coisa muito importante. Você precisa saber! Você precisa saber!
          - Calma, mãezinha! Calma! Vamos sentar primeiro. Depois que a senhora estiver acomodada, a senhora fala.
         - Não vai dar tempo. Deixa-me falar logo.
          Helô conseguiu fazê-la sentar-se no banco. Percebeu que realmente estava muito enfraquecida. Acomodou-a com carinho, deu-lhe um beijo na face e perguntou:
          - Mãezinha, está mais calma? O que está afligindo a senhora? Conta.
          A irmã Amélia olhou para ela e duas lágrimas grossas escorregaram pela sua face. Helô sentiu que a sua emoção estava à flor da pele. Passou carinhosamente a mão no seu rosto, enxugando as lágrimas. Amélia não conseguia falar nada. Fazia força para externar o que estava represado no seu coração, mas não vinha som algum. Helô começou a ficar preocupada. Tentando aparentar tranquilidade, falou:
          - Mãezinha, fica calma. A senhora está nos meus braços. Diga o que está afligindo o seu coração. Fala pra mim.
          Alguma força brotou de dentro de Amélia. A cor amarelada que cobria o seu rosto, deu lugar a um tom rosado. Tudo levava a crer que ela estava conseguindo controlar a ansiedade e estava mesmo. Respirou fundo e quando ia começar a falar, um gritou ecoou pelo corredor:
          - Amélia! Amélia! Por que você fugiu? Vamos voltar já, já para a enfermaria! Parece até que não quer ficar boa! 
Continua semana que vem!

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