Continuando...
Ao final da festa, fechando com a apresentação
do coral, Rodolfo aguardou Helô no jardim, como tinha combinado. Foi para o
mesmo lugar em que estivera com ela, na sua chegada.
Ela foi ao seu encontro, mas muito
nervosa. Mesmo sabendo que a Madre iria dar cobertura a Rodolfo nas fotos e
gravações, assim mesmo não conseguiu relaxar. A dúvida ficou do seu lado durante toda a
apresentação do coral. Se tudo correu bem ou não, só ia saber mesmo ao encontrá-lo.
Foi um período sofrido, pois em momento algum conseguiu desligar-se dele, mas
respirou aliviada no instante que o encontrou. A sua emoção foi tanta que não
aguentou e o abraçou, mas percebendo que o seu impulso poderia criar problemas
afastou-se rapidamente. Só que não tinha percebido que a Madre envolvia os dois
num abraço luminoso.
Rodolfo transbordava de emoção.
Aquele abraço de Helô fez com que, num impulso, deixasse o seu coração falar.
Disse tudo que sentia. Que não teve dúvidas do que sentiu no momento em que os
seus olhares se tocaram. Ali encontrou o seu amor, o amor da sua vida.
Helô emudeceu. A coloração do seu rosto
ficou rosada. Os seus olhos, mergulhados na emoção, eram o espelho da sua alma.
Não precisava de palavras para dizer do seu amor. Esse amor que sem dúvida era
recíproco.
O tempo voou. Rodolfo já se preparava
para ir embora. O coração estava apertado, mas, com o encerramento formal da
festa, com discursos do senador e da Madre Joana, não tinha como permanecer
ali. Deveria ir embora antes que os demais convidados começassem a se aglomerar
no portão. Não deveria macular a
reputação de Helô e nem colocar em risco o plano de colocar na cadeia a gangue da
Ma
dre. Foi com pesar no coração que se despediu de Helô, mas prometeu-lhe que
ia fazer o possível e o impossível para botar atrás das grades todos aqueles
bandidos e que voltaria para vê-la e tirá-la dali. Com lágrimas nos olhos,
Helô, depois que a Madre garantiu que os dois estavam invisíveis, abraçou-o
carinhosamente e depositou um beijo no seu rosto.
Os dias para Helô se arrastavam com
gosto de saudade. Vivia calada e amuada pelos cantos. De vez em quando se
refugiava no jardim e não tirava os olhos do portão. – Por onde anda Rodolfo?
Será que se esqueceu de mim? – fazia essas perguntas várias vezes por dia. Para
completar a sua tristeza, a Madre Joana resolveu, mais uma vez, sumir com a
irmã Amélia. Ela pedia socorro a Madre Maria de Lourdes, mas não recebia
nenhuma resposta. A entidade estava incomunicável. Era a única pessoa que
poderia ajudá-la nesse momento aflitivo. Sentiu-se mais órfã do que nunca. Não
sabia mais o que fazer.
Na noite de uma sexta-feira, Helô
caminhava pelo corredor em direção ao alojamento. Um vento carregado de
gotículas de chuva alcançou-a. Acelerou os passos até a porta, que se
encontrava apenas encostada, e empurrou-a devagar. O silêncio dormia com as
suas amigas. Entrou pé sobre pé, para não acordá-las. Trocou de roupa
rapidamente, deitou, mas não conseguiu pregar olhos. Não parava de pensar.
Queria descobrir uma saída para a sua aflição. De repente uma ideia nasceu: ia
procurar a Madre Joana logo pela manhã.
Envolvida
na esperança, conseguiu dormir a noite toda. Acordou bem mais leve, mas era
muito cedo. Ia esperar até às oito horas para ir ao escritório da Madre. A
ansiedade aumentava. Achou que o relógio estava escangalhado. Os ponteiros
preguiçosos, não andavam, mas depois de todo esse sofrimento a hora que tanto
esperava chegou. Rapidamente foi para o corredor. Decididamente tomou o caminho
da sala da Madre, entretanto, para a sua surpresa, na outra extremidade do
corredor, surgiu a figura da irmã Amélia.
Vinha caminhando com dificuldade, amparada por uma bengala. Helô ficou
emocionada ao vê-la, mas achou estranho ela estar só. Apressou-se em encontrá-la.
Ao chegar bem perto, por sorte, conseguiu ampará-la a tempo, antes que fosse ao
chão. O seu desequilíbrio era fruto da
fraqueza. Helô ficou impressionada com a sua magreza. Com carinho conduziu-a
até um banco próximo. Amélia estava ofegante, mas com dificuldade falou:
- Minha filha, tenho que falar com
você uma coisa muito importante. Você precisa saber! Você precisa saber!
- Calma, mãezinha! Calma! Vamos
sentar primeiro. Depois que a senhora estiver acomodada, a senhora fala.
- Não vai dar tempo. Deixa-me falar
logo.
Helô conseguiu fazê-la sentar-se no
banco. Percebeu que realmente estava muito enfraquecida. Acomodou-a com
carinho, deu-lhe um beijo na face e perguntou:
- Mãezinha, está mais calma? O que
está afligindo a senhora? Conta.
A irmã Amélia olhou para ela e duas
lágrimas grossas escorregaram pela sua face. Helô sentiu que a sua emoção
estava à flor da pele. Passou carinhosamente a mão no seu rosto, enxugando as
lágrimas. Amélia não conseguia falar nada. Fazia força para externar o que
estava represado no seu coração, mas não vinha som algum. Helô começou a ficar
preocupada. Tentando aparentar tranquilidade, falou:
- Mãezinha, fica calma. A senhora
está nos meus braços. Diga o que está afligindo o seu coração. Fala pra mim.
Alguma força brotou de dentro de
Amélia. A cor amarelada que cobria o seu rosto, deu lugar a um tom rosado. Tudo
levava a crer que ela estava conseguindo controlar a ansiedade e estava mesmo.
Respirou fundo e quando ia começar a falar, um gritou ecoou pelo corredor:
- Amélia! Amélia! Por que você fugiu?
Vamos voltar já, já para a enfermaria! Parece até que não quer ficar boa!
Continua semana que vem!
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