terça-feira, 12 de novembro de 2019

A História de Helô - Parte 57


Continuando...

      Helô não conseguiu esconder a tristeza que invadiu o seu coração. O delegado percebeu na hora a mudança no seu olhar. Da alegria de minutos antes, a uma tristeza que chegou às lágrimas. Preocupado, perguntou:
          - O que foi, Helô? Você está chorando. O que foi que aconteceu?
          Ela olhava para Rodolfo com os olhos cheios d’água. Enxugou os olhos e com um pouco de esforço, disse:
          - Nada. – ficou em silêncio por alguns segundos, mas depois continuou. - Aconteceu sim. É que estou preocupada com as meninas. Eu pedi à Madre para ajudá-las, mas ela disse que agora não podia. Mas como ela não pode? Rodolfo, será que você pode?
          O delegado ficou meio que engasgado para responder. Alguma coisa o estava travando. Naquele momento veio claramente na sua cabeça que qualquer coisa impensada que fizesse poderia jogar por terra todas as investigações. Estava em jogo a saúde moral e espiritual de muitas crianças e que alguém ia ajudar aquelas meninas. Esse alguém era a Madre e sua equipe.
          Rodolfo estava sem saber o que dizer. E esses pensamentos que vieram de repente? Sem conseguir controlar-se, foi falando.
          - Helô, no momento ainda não posso fazer nada, mas a Madre vai socorrer essas meninas, juntamente com a sua equipe.
          - O que é que você está falando?
          - Não sei! Eu falei, mas não consegui pensar no que ia falar!
          - Foi a Madre! Ela disse pra mim que não podia fazer nada, mas pra você ela disse que ia ajudar as meninas! Não entendi nada!
         - Helô, agora, agora não posso fazer nada, mas quando sair daqui, com o material que você me forneceu e tudo que vi, irei ao Ministério Público. Com certeza vamos acabar com esses bandidos. Tenho alguns amigos lá. Vou falar com o delegado Áureo.
        - Ele não! Esqueceu? Nem ele e nem o delegado Evan podem saber! Os dois estão envolvidos com o senador e o padre! Nem pensar nisso!
         - Tudo bem. Tinha-me esquecido dessa recomendação, mas pode ficar tranquila que tudo vai ser resolvido rapidamente. Além do material que você me deu, eu tirei várias fotos com o celular. Vou tentar fotografar também o senador, o padre, a Madre e quem mais você apontar como cúmplice, pelo menos vou tentar.
          A Madre que ainda não tinha desaparecido, falou com Helô.
          - Helô, fala com o delegado que vou ajudá-lo nessa empreitada. Diz que ele pode fotografar quem ele quiser, pois ninguém vai vê-lo fotografando.
          Ela então balança a cabeça e, esquece que estava falando por telepatia, sussurra alguma coisa confirmando que ia passar a informação para Rodolfo. Ele que estava atento aos seus movimentos, observando em silêncio, percebe que ela balbuciou alguma coisa, mas ininteligível. Ele então, cheio de curiosidade, pergunta:
          - O que foi que houve? Você disse alguma coisa? Não deu para eu entender. O que foi?
          - Era a Madre que estava falando. Acabei me esquecendo que estava conversando por telepatia e  falei pela boca. Ela disse que você pode fotografar à vontade, quem você quiser. Pode ficar tranquilo que ninguém vai vê-lo. Pode ir sem medo.
         - Ah! Tá! Estranho isso, né? Falar com alma de outro mundo, é muito puxado.
        - Rodolfo, ela acabou de dizer que não é alma de outro mundo. Ela é daqui da Terra mesmo, só que em outra dimensão. Disse também que ainda não está evoluída o bastante para ir para mundos mais adiantados que o nosso, mas está tentando melhorar para poder voar mais alto.
          - É? É mesmo?
          - É!
          - Helô, não consigo entender nada disso, mas pelo menos uma coisa de positivo tem nisso tudo: não estou sentindo nem um dedinho de medo.  Isso já é muito bom, não é? Helô, isso é muito estranho para mim.
          - E você pensa que isso tudo foi fácil pra mim? Não. Foi muito difícil. Eu sempre achava que estava sonhando. Mas agora, com esses anos todos que vejo a Madre, a dúvida ficou lá para atrás. Agora é tudo normal.
          - É?
          - É! E o senhor só fala é?
          - É! E senhor não! Por favor!
          Depois desse diálogo, os dois não conseguem segurar o riso. Parecendo duas crianças, esquecendo-se que podem ser vistos, correm um atrás do outro despretensiosamente. Sem perceberem tomaram o caminho do pomar. A Madre, que assistia à brincadeira dos dois, assopra na orelha de Helô:
          - Helô, para onde vocês vão? Não se esqueceu de nada? Está quase na hora da apresentação do coral.
          Ela para de repente, deixa o riso de lado e fala para Rodolfo:
         - Ih! Rodolfo, o coral vai se apresentar logo, logo! Estamos indo na direção oposta! Daqui a pouco entramos no pomar! Vamos voltar rápido!
         A festa correu como o planejado pela Madre Joana e seus sócios. O lucro foi além da expectativa. O dinheiro chegou feito enxurrada. Veio de todos os lados: de doações, de jogos e prostituição, principalmente por esses dois últimos. A Madre Joana de Maria e seus comparsas estavam exultantes. Jogavam o dinheiro para o alto e deixavam cair na cara, mas aquela alegria extrema era passageira. Uma felicidade que não alcançava o espírito era falsa. Tinha os minutos contados. Ia-se desfazendo feito fumaça.
         Essa busca alucinada pelo dinheiro era uma marca registrada da Madre Joana. Quando essa procura não dava em nada, ela soltava maldade até pelos poros. Pobre daquele que estivesse em suas mãos, com certeza ela ia descarregar todas as suas frustrações nesse pobre coitado. A maldade era a sua droga preferida e normalmente a vítima era a irmã Amélia. Não que não fosse má com outras pessoas, mas a sua predileção era pela irmã Amélia. O que Amélia tinha feito a ela para receber um tratamento tão cruel?  Isso só ela poderia responder, mas quem iria perguntar?  
          O delegado Rodolfo, como foi prometido pela Madre Maria de Lourdes, conseguiu fotografar todas as pessoas que, direta ou indiretamente, estavam envolvidas nos crimes da Madre Joana e sua corja.
........................Continua semana que vem!

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