Continuando...
Helô não conseguiu esconder a tristeza que
invadiu o seu coração. O delegado percebeu na hora a mudança no seu olhar. Da
alegria de minutos antes, a uma tristeza que chegou às lágrimas. Preocupado,
perguntou:
- O que foi, Helô? Você está chorando.
O que foi que aconteceu?
Ela olhava para Rodolfo com os olhos
cheios d’água. Enxugou os olhos e com um pouco de esforço, disse:
- Nada. – ficou em silêncio por
alguns segundos, mas depois continuou. - Aconteceu sim. É que estou preocupada
com as meninas. Eu pedi à Madre para ajudá-las, mas ela disse que agora não
podia. Mas como ela não pode? Rodolfo, será que você pode?
O delegado ficou meio que engasgado
para responder. Alguma coisa o estava travando. Naquele momento veio claramente
na sua cabeça que qualquer coisa impensada que fizesse poderia jogar por terra
todas as investigações. Estava em jogo a saúde moral e espiritual de muitas
crianças e que alguém ia ajudar aquelas meninas. Esse alguém era a Madre e sua
equipe.
Rodolfo estava sem saber o que dizer. E
esses pensamentos que vieram de repente? Sem conseguir controlar-se, foi
falando.
- Helô, no momento ainda não posso
fazer nada, mas a Madre vai socorrer essas meninas, juntamente com a sua
equipe.
- O que é que você está falando?
- Não sei! Eu falei, mas não consegui
pensar no que ia falar!
- Foi a Madre! Ela disse pra mim que
não podia fazer nada, mas pra você ela disse que ia ajudar as meninas! Não
entendi nada!
- Helô, agora, agora não posso fazer
nada, mas quando sair daqui, com o material que você me forneceu e tudo que vi,
irei ao Ministério Público. Com certeza vamos acabar com esses bandidos. Tenho
alguns amigos lá. Vou falar com o delegado Áureo.
-
Ele não! Esqueceu? Nem ele e nem o delegado Evan podem saber! Os dois estão
envolvidos com o senador e o padre! Nem pensar nisso!
- Tudo bem. Tinha-me esquecido dessa
recomendação, mas pode ficar tranquila que tudo vai ser resolvido rapidamente.
Além do material que você me deu, eu tirei várias fotos com o celular. Vou
tentar fotografar também o senador, o padre, a Madre e quem mais você apontar
como cúmplice, pelo menos vou tentar.
A Madre que ainda não tinha
desaparecido, falou com Helô.
- Helô, fala com o delegado que vou
ajudá-lo nessa empreitada. Diz que ele pode fotografar quem ele quiser, pois
ninguém vai vê-lo fotografando.
Ela então balança a cabeça e, esquece
que estava falando por telepatia, sussurra alguma coisa confirmando que ia
passar a informação para Rodolfo. Ele que estava atento aos seus movimentos,
observando em silêncio, percebe que ela balbuciou alguma coisa, mas
ininteligível. Ele então, cheio de curiosidade, pergunta:
- O que foi que houve? Você disse
alguma coisa? Não deu para eu entender. O que foi?
- Era a Madre que estava falando.
Acabei me esquecendo que estava conversando por telepatia e falei pela boca. Ela disse que você pode
fotografar à vontade, quem você quiser. Pode ficar tranquilo que ninguém vai
vê-lo. Pode ir sem medo.
- Ah! Tá! Estranho isso, né? Falar com
alma de outro mundo, é muito puxado.
- Rodolfo, ela acabou de dizer que não
é alma de outro mundo. Ela é daqui da Terra mesmo, só que em outra dimensão.
Disse também que ainda não está evoluída o bastante para ir para mundos mais
adiantados que o nosso, mas está tentando melhorar para poder voar mais alto.
- É? É mesmo?
- É!
- Helô, não consigo entender nada
disso, mas pelo menos uma coisa de positivo tem nisso tudo: não estou sentindo
nem um dedinho de medo. Isso já é muito
bom, não é? Helô, isso é muito estranho para mim.
- E você pensa que isso tudo foi fácil
pra mim? Não. Foi muito difícil. Eu sempre achava que estava sonhando. Mas
agora, com esses anos todos que vejo a Madre, a dúvida ficou lá para atrás.
Agora é tudo normal.
- É?
- É! E o senhor só fala é?
- É! E senhor não! Por favor!
Depois desse diálogo, os dois não
conseguem segurar o riso. Parecendo duas crianças, esquecendo-se que podem ser
vistos, correm um atrás do outro despretensiosamente. Sem perceberem tomaram o
caminho do pomar. A Madre, que assistia à brincadeira dos dois, assopra na
orelha de Helô:
- Helô, para onde vocês vão? Não se
esqueceu de nada? Está quase na hora da apresentação do coral.
Ela para de repente, deixa o riso de
lado e fala para Rodolfo:
- Ih! Rodolfo, o coral vai se
apresentar logo, logo! Estamos indo na direção oposta! Daqui a pouco entramos
no pomar! Vamos voltar rápido!
A festa correu como o planejado pela
Madre Joana e seus sócios. O lucro foi além da expectativa. O dinheiro chegou
feito enxurrada. Veio de todos os lados: de doações, de jogos e prostituição, principalmente
por esses dois últimos. A Madre Joana de Maria e seus comparsas estavam
exultantes. Jogavam o dinheiro para o alto e deixavam cair na cara, mas aquela
alegria extrema era passageira. Uma felicidade que não alcançava o espírito era
falsa. Tinha os minutos contados. Ia-se desfazendo feito fumaça.
Essa busca alucinada pelo dinheiro era
uma marca registrada da Madre Joana. Quando essa procura não dava em nada, ela
soltava maldade até pelos poros. Pobre daquele que estivesse em suas mãos, com
certeza ela ia descarregar todas as suas frustrações nesse pobre coitado. A
maldade era a sua droga preferida e normalmente a vítima era a irmã Amélia. Não
que não fosse má com outras pessoas, mas a sua predileção era pela irmã Amélia.
O que Amélia tinha feito a ela para receber um tratamento tão cruel? Isso só ela poderia responder, mas quem iria
perguntar?
O delegado Rodolfo, como foi prometido
pela Madre Maria de Lourdes, conseguiu fotografar todas as pessoas que, direta
ou indiretamente, estavam envolvidas nos crimes da Madre Joana e sua corja.
........................Continua semana que vem!
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