quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A História de Helô - Parte 12

Continuando...

Helô sem se dar conta do que estava acontecendo foi entrando na gruta. Quando já estava chegando à parte mais escura, sem perceber sacou de uma vela e uma caixa de fósforos. Depois de acendê-la é que percebeu que estava com uma vela na mão. Não conseguiu lembrar-se de como foi parar ali e muito menos com uma vela acesa. Só veio um lampejo da sua saída do alojamento, depois mais nada apareceu na sua mente. Fez menção de recuar, mas alguma coisa empurrou-a para a frente.
          A iluminação não estava das melhores, mas dava para ver onde pisava. Helô então continuou caminhando, mas cautelosamente. A cada passo foi sentindo um ligeiro declive, mas não parou. A voz quase que continuamente assoprava na sua orelha alguma palavra de ânimo. Para sua surpresa, no final do corredor, chegou num salão circular, uma área bem espaçosa. Observou, sem saber ainda o que era, várias placas enfileiradas por toda a parede. Notou que tinham algumas coisas escritas. Então se aproximou mais até ficar com uma visibilidade satisfatória. Quando leu o que estava escrito, teve um ímpeto de sair dali o mais rápido possível, mas a voz mais uma vez falou com ela:
          - Calma, Helô. Estou com você. Pode continuar. Nada vai acontecer com você.
          - Estou com medo. São placas com nomes de pessoas mortas? É! Eu sei que é! Uma eu reconheci! Era a irmã Arminda! Eu conheci!
          - Fica calma! É isso mesmo. São irmãs já falecidas, mas elas não farão mal nenhum a você. Não esqueça que estou sempre do seu lado. Continue. 
          - Eu não estou entendendo uma coisa: lá do lado do convento tem também umas placas escritas com os nomes das irmãs mortas.
          - Lá, Helô, só tem a placa. Eu também estou lá e aqui.
          - A senhora também?
          - Depois falamos sobre isso.
          Helô calou-se e vestiu-se novamente de coragem. Foi olhando as placas das gavetas mortuárias.  Algumas eram muito antigas. Em todas estavam gravados os nomes e as datas de nascimento e morte. Foram talhadas no mármore branco. Por estranho que possa parecer, já que a entrada da gruta não mostrava qualquer indício de movimento, o salão estava bem limpo e as placas brilhando. Helô notou, porém não fez nenhum comentário. Enquanto olhava uma por uma, notou que bem no meio do salão tinha um corredor. Com a orientação da voz ela entrou. No final encontrou uma porta fechada. De repente sentiu um arrepio estranho. O medo voltou e um ímpeto de recuar foi instantâneo, mas teve a sensação de que alguém a escorou, não permitindo o seu recuo. Isso deveria dar mais medo mas, pelo contrário, como por encanto sumiu e foi substituído por uma coragem nunca antes sentida por ela. Imediatamente  aproximou-se da porta, colocou a mão na maçaneta e girou-a, porém nada aconteceu. Ou não teve forças para girá-la ou estava emperrada. Tentou mais algumas vezes e nada aconteceu. Já estava cansada. Ficou algum tempo parada mirando a porta. Não sabia o que fazer. A voz então falou mais uma vez com ela:
          - Helô, não desista. Pegue a vela que você deixou no chão. Depois clareie as paredes. Vai observar que também estão cheias de gavetas mortuárias.  Olhe uma por uma mas não precisa olhar as que estão nas laterais, olhe apenas as que estão do lado direito e esquerdo da porta.
           A menina pegou a vela e aproximou-a da parede do lado direito da porta e foi olhando gaveta por gaveta. Depois fez a mesma coisa do lado esquerdo. A sua atenção foi direcionada para uma das gavetas. Era a única que tinha uma rosa em alto relevo, na cor vermelha, destacando-se no meio do nome, que ela não conseguiu entender. Parecia uma escrita em algum outro idioma.  As outras também tinham a rosa em alto relevo, só que na mesma cor do mármore. A sua curiosidade levou-a a passar a mão por cima. A voz então se fez ouvir novamente:
          - Você encontrou o segredo para abrir a porta. Agora faz o seguinte: gire-a para a direita, depois volte e gire-a para a esquerda. Vai fazer um pequeno estalo. Aí a porta vai começar a se abrir.
         Mesmo ouvindo claramente as instruções da voz, ficou com medo. Não teve certeza se devia fazer aquilo mesmo. Tentou resistir, mas a voz foi incisiva:
          - Helô, você não pode desistir. Vai em frente. Estou com você. Eu sei que você é uma criança ainda, mas é a mais preparada para descobrir o que está por detrás desta porta. Você não é só a mais preparada, mas a escolhida. Tentei até falar com algumas irmãs, entretanto fecharam os ouvidos para o chamamento. Você foi a e única que me ouviu. Não desista agora. Vamos em frente. Vou lhe dar toda a força que você precisa. Quando for preciso, vai estar debaixo da minha capa.
          Depois de ouvir tudo que a voz lhe disse, Helô respirou fundo. O medo ainda habitava o seu interior, mas a curiosidade de repente superou o medo. Olhou para o lado, como quisesse ver quem tinha lhe falado e disse:
         - Eu vou fazer isso! Eu não estou mais com medo! Já até me acostumei com a voz! Não sei se é imaginação minha, mas também não tenho medo!
         - Isso mesmo. Não precisa ter medo de nada. Vou protegê-la sempre. Qualquer hora você vai ver quem é a dona desta voz, mas tem que ser aos poucos. Ouvir já foi muito bom. Agora, vamos em frente. Não podemos demorar. Tudo tem que ser por etapa e não queremos que sintam a sua falta. Vamos lá. Pode girar.
..................Continua semana que vem!

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