Helô sem se dar conta do que estava acontecendo
foi entrando na gruta. Quando já estava chegando à parte mais escura, sem
perceber sacou de uma vela e uma caixa de fósforos. Depois de acendê-la é que percebeu
que estava com uma vela na mão. Não conseguiu lembrar-se de como foi parar ali
e muito menos com uma vela acesa. Só veio um lampejo da sua saída do
alojamento, depois mais nada apareceu na sua mente. Fez menção de recuar, mas
alguma coisa empurrou-a para a frente.
A
iluminação não estava das melhores, mas dava para ver onde pisava. Helô então
continuou caminhando, mas cautelosamente. A cada passo foi sentindo um ligeiro
declive, mas não parou. A voz quase que continuamente assoprava na sua orelha
alguma palavra de ânimo. Para sua surpresa, no final do corredor, chegou num
salão circular, uma área bem espaçosa. Observou, sem saber ainda o que era,
várias placas enfileiradas por toda a parede. Notou que tinham algumas coisas
escritas. Então se aproximou mais até ficar com uma visibilidade satisfatória.
Quando leu o que estava escrito, teve um ímpeto de sair dali o mais rápido
possível, mas a voz mais uma vez falou com ela:
-
Calma, Helô. Estou com você. Pode continuar. Nada vai acontecer com você.
-
Estou com medo. São placas com nomes de pessoas mortas? É! Eu sei que é! Uma eu
reconheci! Era a irmã Arminda! Eu conheci!
-
Fica calma! É isso mesmo. São irmãs já falecidas, mas elas não farão mal nenhum
a você. Não esqueça que estou sempre do seu lado. Continue.
- Eu não estou entendendo uma coisa: lá
do lado do convento tem também umas placas escritas com os nomes das irmãs
mortas.
-
Lá, Helô, só tem a placa. Eu também estou lá e aqui.
-
A senhora também?
-
Depois falamos sobre isso.
Helô calou-se e vestiu-se novamente de coragem. Foi olhando as placas
das gavetas mortuárias. Algumas eram
muito antigas. Em todas estavam gravados os nomes e as datas de nascimento e
morte. Foram talhadas no mármore branco. Por estranho que possa parecer, já que
a entrada da gruta não mostrava qualquer indício de movimento, o salão estava
bem limpo e as placas brilhando. Helô notou, porém não fez nenhum comentário.
Enquanto olhava uma por uma, notou que bem no meio do salão tinha um corredor.
Com a orientação da voz ela entrou. No final encontrou uma porta fechada. De
repente sentiu um arrepio estranho. O medo voltou e um ímpeto de recuar foi
instantâneo, mas teve a sensação de que alguém a escorou, não permitindo o seu
recuo. Isso deveria dar mais medo mas, pelo contrário, como por encanto sumiu e
foi substituído por uma coragem nunca antes sentida por ela. Imediatamente aproximou-se da porta, colocou a mão na
maçaneta e girou-a, porém nada aconteceu. Ou não teve forças para girá-la ou
estava emperrada. Tentou mais algumas vezes e nada aconteceu. Já estava
cansada. Ficou algum tempo parada mirando a porta. Não sabia o que fazer. A voz
então falou mais uma vez com ela:
-
Helô, não desista. Pegue a vela que você deixou no chão. Depois clareie as
paredes. Vai observar que também estão cheias de gavetas mortuárias. Olhe uma por uma mas não precisa olhar as que
estão nas laterais, olhe apenas as que estão do lado direito e esquerdo da
porta.
A menina pegou a vela e aproximou-a da parede do lado direito da porta e
foi olhando gaveta por gaveta. Depois fez a mesma coisa do lado esquerdo. A sua
atenção foi direcionada para uma das gavetas. Era a única que tinha uma rosa em
alto relevo, na cor vermelha, destacando-se no meio do nome, que ela não
conseguiu entender. Parecia uma escrita em algum outro idioma. As outras também tinham a rosa em alto
relevo, só que na mesma cor do mármore. A sua curiosidade levou-a a passar a
mão por cima. A voz então se fez ouvir novamente:
-
Você encontrou o segredo para abrir a porta. Agora faz o seguinte: gire-a para
a direita, depois volte e gire-a para a esquerda. Vai fazer um pequeno estalo.
Aí a porta vai começar a se abrir.
Mesmo ouvindo claramente as instruções da voz, ficou com medo. Não teve
certeza se devia fazer aquilo mesmo. Tentou resistir, mas a voz foi incisiva:
-
Helô, você não pode desistir. Vai em frente. Estou com você. Eu sei que você é
uma criança ainda, mas é a mais preparada para descobrir o que está por detrás
desta porta. Você não é só a mais preparada, mas a escolhida. Tentei até falar
com algumas irmãs, entretanto fecharam os ouvidos para o chamamento. Você foi a
e única que me ouviu. Não desista agora. Vamos em frente. Vou lhe dar toda a
força que você precisa. Quando for preciso, vai estar debaixo da minha capa.
Depois de ouvir tudo que a voz lhe disse, Helô respirou fundo. O medo
ainda habitava o seu interior, mas a curiosidade de repente superou o medo.
Olhou para o lado, como quisesse ver quem tinha lhe falado e disse:
-
Eu vou fazer isso! Eu não estou mais com medo! Já até me acostumei com a voz!
Não sei se é imaginação minha, mas também não tenho medo!
-
Isso mesmo. Não precisa ter medo de nada. Vou protegê-la sempre. Qualquer hora
você vai ver quem é a dona desta voz, mas tem que ser aos poucos. Ouvir já foi
muito bom. Agora, vamos em frente. Não podemos demorar. Tudo tem que ser por
etapa e não queremos que sintam a sua falta. Vamos lá. Pode girar.
..................Continua semana que vem!
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