terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A História de Helô - Parte 11

Continuando...

          Numa tarde, após a aula de canto, Helô chamou duas amigas, Sílvia e Bela, para irem até o pomar colher algumas frutas. O mês de dezembro se aproximava da metade. As frutas abundavam. Podia-se ver pés de acerola abarrotados de frutos, mas não era só essa fruta, tinha uma variedade bem grande de outras pelo pomar. Ali podia-se encontrar ameixas, figos, maçãs, pêssegos, goiabas e muitas outras frutas da estação. Algumas árvores tinham seus galhos curvando com o peso dos frutos. As três já tinham se empanturrado, comeram o suficiente para deixá-las satisfeitas. Sentaram-se debaixo de um pé de goiaba, esperando para fazer a digestão. Durante um bom tempo conversaram distraídas. Silvia propôs brincarem de pique-esconde. Tiraram zerinho ou um e quem perdeu foi Bela. Saíram as duas correndo entre os arvoredos à procura de um bom esconderijo. Como Helô sabia que as amigas tinham medo da mata depois do pomar, seguiu para lá. Tinha certeza que jamais seria descoberta. Ficou por trás de um capinzal olhando os movimentos de Bela, mas mal se escondeu na vegetação e aquela mesma voz ecoou no seu ouvido:
           - Helô! Volte à gruta, mas não tenha medo. Estarei com você. E não fale para ninguém. Vamos?
          Helô nem olhou para o lado. Não quis nem averiguar de onde vinha aquela voz. Saiu numa disparada tal que passou pelas amigas, indo parar somente na parede do prédio. Ofegante, ficou ali encostada até a chegada delas. A primeira a chegar foi Sílvia, assustada com o comportamento da amiga, perguntou:
         - Helô! O que foi que houve? Você está pálida!
           A menina ainda respirava com dificuldade. Nem conseguiu responder à amiga. Estava com os batimentos cardíacos alterados. Com a falta de resposta, Sílvia insistiu:
           - O que aconteceu, Helô? Você está pálida e tremendo! Foi algum bicho que te assustou?
          Com algum sacrifício, mas já com o coração mais sereno, disse:
          - Acho... Acho que foi.
          Bela, que vinha chegando, mirou a amiga, balançou a cabeça e falou com uma nesga de repreensão:
          - O que é isso, Helô? Olha só! Você ficou com medo do vento! Veja como as árvores balançam! Você está ficando medrosa?
           Helô custou a contestar Bela. Enquanto se acalmava, ia tentando arranjar uma resposta convincente e aproveitou a colocação da amiga para tentar se sair bem e deixar bem guardado o seu segredo. Finalmente conseguiu falar.
         - Puxa! Puxa vida! Assustei-me mesmo, mas isso não quer dizer que eu seja medrosa! De jeito nenhum! O mato fez barulho atrás de mim, como é que eu ia pensar que era o vento? Eu nem me lembrei! Pensei logo que pudesse ser um bicho! Agora eu vou pedir uma coisa para vocês duas: vocês tem que me prometer que não vão falar nada pra ninguém. Isso que aconteceu é uma coisa boba, mas se a madre ficar sabendo... na cabeça dela vira um monstro. Aí ela vai fazer uma porção de perguntas. Vai virar um interrogatório.
          As amigas concordaram com a explicação de Helô e fizeram um pacto,  comprometendo-se a manter o acontecido em segredo.
           Os dias foram passando sem acontecer um fator sequer relevante. A vida ali tinha o seu curso inalterado. Helô voltou a ser a menina de sempre e com isso os olhos da madre mudaram de foco. Também, tudo saía sempre do seu jeito, nem uma vírgula era colocada a mais e com isso Helô vivia com um estado de espírito pra lá de bom. O seu segredo tinha sido guardado a sete chaves. Momentaneamente tinha-se esquecido de voltar à gruta, mas a voz de vez em quando falava com ela. Isso foi bom para ir perdendo o medo das coisas do outro mundo. Já não ficava mais assustada como das primeiras vezes. Agora até ria, após o ocorrido. Mas um fato novo aconteceu na última vez que ouviu a voz. Enquanto ouvia, sentiu a presença de alguém. Não ficou assustada. Pelo contrário, sentiu-se muito bem e depois desse dia sentiu vontade de sorrir mais. Tanto isso ficou perceptível que a irmã Amélia percebeu e interrogou-a:
          - Helô, meu anjo! O que está acontecendo? Estou sentindo você transbordando de felicidade! Conta pra mãezinha, conta!
          A menina procurou alguma justificativa para sair pela tangente. Tinha receio de contar o que estava realmente acontecendo e Amélia achar que ela não estava bem das faculdades mentais. Tentou desconversar, enquanto imaginava alguma resposta convincente. De repente disse:
          - Sabe por quê? É porque a mãezinha agora fica mais tempo comigo. A madre não afastou mais a senhora de mim, por isso é que estou mais feliz.
          Dois dias depois dessa conversa, Helô voltou a ouvir a voz, que a mandou ir à gruta. Orientou-a para que fosse após o almoço. Seria um horário bom já que ia lá todos os dias, depois de escovar os dentes, para brincar no pomar. Estava tão ansiosa que almoçou rápido e saiu na frente das amigas. Nem percebeu a sua rapidez. Alguma coisa dizia na sua orelha para sair sem levantar suspeitas e se dirigir para o alojamento, como fazia todos os dias. E assim ela fez. Escovou os dentes e depois se encaminhou até a porta principal. Chegando lá, de repente estancou. Desistiu e voltou. Então procurou sair por uma porta que ficava nos fundos do alojamento e  dava para o corredor que a levaria até o pomar. Mas antes de sair, olhou para ver se o caminho estava livre  e, após constatar, saiu. Rapidamente atravessou o pomar e chegou à mata. Em pouco tempo já estava na porta da gruta. A princípio teve medo de entrar. Sentiu um calafrio percorrendo todo o seu corpo. Em seguida sentiu vontade de voltar, entretanto a voz sussurrou no seu ouvido:
          - Coragem, minha filha! Você é a escolhida. Coragem! Eu estou contigo.
.................Continua semana que vem!

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