A agitação tomou conta dos
repórteres, menos de PC. A sexta feira
já iniciava e até aquele momento nenhum presunto, faltando os olhos, apareceu.
Foi uma semana sem crime de morte. Depois da semana anterior que jorrou sangue
pela cidade, atravessar aqueles cinco dias de tranquilidade, era um presente
dos céus. Não para os repórteres amigos de PC, mas somente para ele essa
situação agradava. Quem estava vivendo aos sobressaltos, aqueles poucos dias
foram como se tivesse tido o fim de uma guerra. Não se sentiu predisposto a
qualquer momento repórter. Estava fora do contesto. Quem o conhecia, mesmo
sabendo do seu sufoco, estranhou aquele seu comportamento. Era sempre o mais
agitado. Mas naquela sexta feira, ele, depois de muitos dias, tinha conseguido
respirar mais solto. Mas foi um dia de cada vez, até chegar aquele momento. O
cansaço assim mesmo tomou conta dele. Não é fácil se achar, todo dia, que
poderá ser a próxima vítima. E mesmo sendo um cara destemido, o peso era muito
para se carregar. Podia estar até mais leve, mas mesmo assim estava no limite.
Sentiu vontade de ir para casa. Olhou para o relógio de parede e viu que os
ponteiros ainda não tinham chegado às 15 horas. Mesmo assim, pegou a sua bolsa
a tira colo, jogou-a em cima do ombro e foi em direção à mesa de Souza.
Comunicou ao chefe que ia pra casa e que só voltaria segunda feira. O chefe,
como tinha acompanhado todo o seu sufoco, liberou-o, sem tecer qualquer
comentário. Ele deu tchau para o amigo e saiu sem falar com mais ninguém. Queria
ficar o final de semana sozinho, para refazer-se totalmente daqueles dias
pesados. Com certeza voltaria na semana seguinte completamente recuperado. E
livre do fantasma de ser mais um na lista dos mortos sem olhos.
Era horário de verão. A noite
chegou mais tarde. O calor estava quase derretendo o termômetro. PC repousava
na sua cama. Tinha chegado por volta das 16 horas. E Isso era coisa rara. Tirou
uma soneca, como há muito tempo na fazia. Acordou por volta das 19 horas. Mas
sentiu que não acordou relaxado. Estava incomodado. Porém continuou deitado. De
vez em quando, olhava para o relógio. Não sabia por quê. Mas estava agoniado.
Olhou mais uma vez. Agora estava lá: vinte horas e um pouquinho. Levantou-se e
botou uma dose de scotch. Com aquele calor, o falso malte desceu quadrado. Foi
até a geladeira, abriu-a e não encontrou nenhuma cerveja. Esqueceu que Marcão
tinha bebido as três. Bateu com força a porta da geladeira, meio invocado. Foi
até o quarto, tirou o short, colocou uma bermuda e uma camiseta e desceu para a
noite. Tinha que refrescar o corpo e a mente. Entrou no primeiro bar que
encontrou. O dono era seu conhecido. De vez em quando pousava ali, antes de ir
para casa. Quando passou pela porta, se lembrou da cerveja. Passou os dedos no bigode
e falou baixinho para si:
- Uma cervejinha até que vai bem!
Sentou-se na primeira cadeira que
encontrou. O dono, seu Geovani, veio logo ao seu encontro, deu-lhe um aperto de
mão e rapidinho arrumou a mesa. Antes que o dono do bar perguntasse o que ele
ia querer, pediu rapidamente uma cerveja estupidamente gelada. Seu Geovani
trouxe, além da cerveja, uma porção de jiló. Tomou à primeira, a segunda...
Depois caiu na real: achava que era a primeira vez que bebia uma cerveja sem
uma companhia feminina. Olhou ao redor e encontrou uma mesa com uma menina
sozinha. As outras mesas, ou só estavam com homens, ou com mulheres
acompanhadas. Ficou olhando fixamente para essa mesa. A menina levantou a
cabeça. Ele quase pensou alto:
- Que menina linda! Que pedaço! Que
lindos olhos azuis! Lindos? Oh! Meu Deus! O que é isso?
PC levanta-se rapidamente, vai
até ao seu Geovani e pede a conta. O dono do bar bate no ombro dele e fala:
- PC a sua conta já foi paga. Ainda
têm algumas cervejas no seu crédito.
Ele olha em volta e pergunta:
- Geovane, quem pagou?
- Aqueles senhores lá na ponta.
Mas quando o dono do bar se vira
para mostrar, não os encontra. Faz uma careta e diz:
- Ih, PC! Acho que já foram embora!
Sumiram rapidinho!
- Estranho, não acha? Ah! Tudo bem!
Pior se tivessem deixado a conta deles pra eu pagar! É ou não é? Deve ter sido
algum amigo, com certeza! Achou melhor não me perturbar! Mas se tivesse
chegado, seria bem vindo! Geovani estou indo!
PC pegou a sua bolsa a tira colo,
que estava pendurada nas costas da cadeira, bebeu o último gole de cerveja e
tomou o rumo da porta. Chegou à calçada, olhou para o céu e viu uma imensa lua
cheia, que clareava o alto dos edifícios. Pensou:
- Acho que nunca vi a lua tão de
perto. Será que bebi tanto, que fiquei tão alto a ponto de chegar próximo dela?
Chi! Acho que estou meio bêbado! Vou caminhar pra expulsar o álcool!
Continua semana que vem...
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