terça-feira, 3 de outubro de 2017

O Caso dos Olhos Azuis - Parte 3

Continuando...


No meio daquele bate papo acalorado, um grito de mulher explode no recinto:
         - Porra! Por que vocês não conversam como gente!
           Era Lucinha, a única repórter feminina da redação, que saía da cozinha. Os dois, pegos de surpresa, emudeceram. A doce Lucinha fê-los voltar à calma. Vendo os dois perplexos, deu um sorriso meio sem jeito e repetiu a mesma pergunta, só que num tom que combinava com a sua doçura:
         - Desculpe gente. Mas vocês deveriam conversar com calma, como gente. Não acham?
           PC percebendo que o chefe deu uma relaxada aproveitou e investiu no seu intento:
          - Chefe nós vimos um lance incrível! Deixa eu e Marcão pegar esse caso! O garoto é estagiário, mas é esperto! E tem que aprender mais! Deixa a gente tentar! Se não der certo... Pelo menos é uma tentativa! Pode dar certo, não pode? Vamos lá, Souza!
             Souza não respondeu de imediato. Olhava para PC fixamente. Fazia umas caretas enquanto pensava. A sala estava abraçada ao silêncio. Os outros repórteres pararam o que estavam fazendo e ficaram esperando pela resposta do chefe. Parecia que a tal resposta não ia sair nunca daquela garganta. Quem o conhecia sabia que antes de qualquer decisão, ele fazia uma porção de caretas. E era o que estava acontecendo. Mas quando parasse de torcer a boca de um lado para o outro, vinha à resposta.  E não deu outra: parou de fazer caras e bocas. A resposta veio, mas quase num sussurro:
           - Está bem.
             PC, como os outros repórteres, não entendeu o que Souza tinha falado. Então questiona:
           - Chefe, o que você falou? Não entendi.
              Parecia que a resposta estava meio à contra gosto. Não tinha muita certeza se estava fazendo a coisa certa, deixando PC com o caso. Engoliu em seco e falou mais alto:
          - Está bem PC! O caso é seu! Vocês venceram! Mas tem uma coisa: não vai querer dar uma de policial, não! Está bem?
            PC sai do fundo da sala, com um sorriso nos lábios, se aproxima de Souza, põe a mão no seu ombro e fala:
          - Chefe você não vai se arrepender. Pode anotar aí: eu, PC, vou tirar a raposa da toca. Vamos tirar!
          - Você é louco! E está levando o Marcão para o caminho da insanidade! Sumam daqui!
             Durante três dias a manchete foi sobre o caso dos olhos azuis:
         - “A polícia acredita que dentro de vinte e quatro horas colocará a mão nos assassinos. As pistas estão cada vez mais claras. É só uma questão de tempo”.      
            PC termina de fazer o texto e vai até Souza e pergunta:
         - Chefe, vê se a chamada está legal.
           Souza nem olha para o texto. Antes faz a sua cobrança:
          - PC, hoje é o terceiro dia.  E até agora nada aconteceu. A partir de amanhã as coisas vão voltar ao normal. Vamos noticiar só verdades. Chega de viajar na maionese. Vamos continuar falando do caso, mas somente sobre as mortes. Meu irmão. Vou repetir uma coisa que eu já estou cansado de falar: quero coisa concreta.
             Mal Souza termina de falar, o telefone toca. O continuo atende e grita:
         - PC é pra você!
            Ele dá um sorriso, mexe na sua bolsa a tira colo e, enquanto caminha na direção do contínuo, pergunta:
         - Topete. É mulher?
         - Não, PC! É voz de barbado!
           Ele dá um muxoxo e fala:
         - Estou desprezado! As mulheres estão me abandonando!
            Pega o telefone da mão do contínuo e atende:
         - Pronto! Aqui é PC! O melhor repórter de polícia! Quem fala?
            Do outro lado uma voz cansada e tenebrosa responde:
         - Quem fala? Já deves saber que sou eu. Com certeza já estavas esperando a minha ligação, certo? Vai um aviso: estás metendo o bedelho, onde não és chamado. Estarei ao teu lado pronto a tirar-lhes os olhos. É uma pena que eles sejam tão feios. E muitos olhos saltarão das órbitas. Outros tantos estarão em festas: o verde estará no azul; o preto estará no azul; o castanho estará no azul, mas o azul estará dançando fora de órbita. Finalmente os olhos azuis serão entregues aos vermes. Todos os presentes verão e ficarão sem entender.
           PC completamente sem ação emudeceu por completo. Com expressão mista de terror e surpresa, deixa o fone cair, segurando-o apenas pelo fio.
           Todos os colegas olham sem entender o que está acontecendo. O chefe, vendo que o amigo estava parado sem ação, interroga-o:
          - PC o que houve?
            Com o silêncio do amigo e a falta de resposta, ele grita:
          - Fala homem! O que houve? Você está com cara de idiota, PC!
            PC coça a cabeça e balbucia algumas palavras:
          - Olho azul. Órbita. Olho preto. Azul no verde.
            Souza ficou olhando para o amigo sem nada entender.  As palavras que dizia eram desconexas. Para trazer o amigo a realidade, deu-lhe uma boa sacudidela. PC olhou para Souza e disse:
          - Viu chefe, deu certo! Foi o homem que telefonou! É o assassino! Mas ele decidiu brincar com a gente. Só deixou enigmas.
         - O que foi que ele disse?
         - Loucura. Tudo uma tremenda loucura.
         - O que foi homem? Desembucha!
         - Souza o cara é um psicopata. O que ele disse é um quebra cabeça. Falou de olhos em órbitas. Em festas. Misturou olhos verdes, pretos e castanhos. Disse que eles estão todos no azul. E que o azul, se não me engano, será dos vermes. Uma loucura! O que será isso? Com quem estamos lidando?
             Continua semana que vem...

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