O
delegado segura o pequeno embrulho e coloca na palma da mão. Fica olhando, mas
custa a decidir em
abri-lo. PC demonstrando ansiedade, cobra ligeireza do
Doutor:
- Delegado! Abre logo isso aí! Estou
morrendo de curiosidade!
Dr. Carlos finalmente começa a tirar
a fita adesiva que estava envolvendo o embrulho. Quando consegue tirar a ultima
camada de papel, aparece uma pequena caixa de metal. Ao abri-la, o delegado
arregala os olhos e grita:
- Meu Deus! O que é isso aqui?
O comissário Bira, PC e Marcão
olham para dentro da pequena caixa e com as caras assustadas, ficam mudos com o
que estavam vendo: um par de olhos azuis. Tinham certeza que não eram de vidro.
O assassino fez questão de pousar os olhos em cima de uma poça de sangue. O
delegado, com a voz embargada, fala:
- Gente! Isso não é coisa de ser
humano! O diabo enlouqueceu de vez! PC o
que é isso? Parece pesadelo! Temos que pegar esse desgraçado de qualquer jeito!
Nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida! Por um acaso esse doido
falou com você alguma vez?
- Falou sim. Ele ligou lá pra
redação. Falou uma porção de coisas desconexas. O papo foi o seguinte: ele
disse que...
PC relata tudo para o delegado.
Meia hora depois já estava na Rua com Marcão, a procura de Vermelho. Marcão
avista o carro a poucos metros de delegacia. Como já era de costume o motorista
dormia dentro do veículo. PC bate no vidro do carro e Vermelho, com o susto,
bate com a cabeça no teto. Com a cara amarrotada, abaixa o vidro e reclama:
- Porra PC! De novo! Já perdi a
conta de tanta cabeçada que já dei! Bate com carinho!
- Abre isso aí e vamos embora! Nunca
vi um cara pra dormir tanto!
A noite está tão alta como PC. O
sono não chegava. Bebericou algumas doses de whisky. Não se recordava da
quantidade do paraguaio que tinha descido pela goela. Sonhava em pegar um
scotch legítimo e saboreá-lo sem se preocupar com o dia seguinte. Mas o problema naquela hora não era a bebida.
O problema real era o maníaco. Esse era o problema. Nem o grilo tiraria o seu
sono, como a perda dos seus olhos. Não
queria entregar os pontos, mas esse era o xis da questão. Tentava não baixar à
guarda. Mas estava difícil. Tinha que dividir a sua insônia com alguém. Aí
escolheu a sua amiga, a repórter Lucinha. Olhou para o relógio e pensou em não
ligar. Era tarde. E daí! Para o repórter a noite é uma criança! Repartir a sua
angustia com alguém era urgente! E esse alguém só podia ser a doce Lucinha. O
dedo não respeitou a dúvida e discou o número dela. Do outro lado alguém tirou
o telefone do gancho, mas não disse o tão tradicional alô. Em vez disso ouviu
primeiramente o grito da amiga:
- Mãe! O telefone tá tocando!
Depois a mãe falou:
- Já atendi! Isso é hora de ligarem?
Onze horas da noite, é hora de se estar dormindo!
- Mãe! Não reclama! Eu só vou dormir
agora, porque estou pra lá de cansada! Saí cedo da redação, fui pra serra e
voltei quase de noite! Só por isso que estou deitada! A senhora nem sabe
direito o que a chuva fez de estrago lá na serra! Quem é que está no telefone?
- Lu, é seu amigo PC!
- O que ele quer?
- Não sei! Ele não falou! Vem
atender?
- Ele não falou, porque a senhora não
perguntou! Droga! Já vou indo! Já vou indo!
A doce Lucinha desceu da cama,
procurou o seu calçado, mas não encontrou. Depois se lembrou de que tinha
deixado do outro lado. Deitou novamente na cama e rolou até o outro lado.
Calçou as sandálias de qualquer jeito e foi atender o amigo.
- Oi PC! O que foi que houve?
- Pô! Lucinha desculpe! Já estava dormindo,
né?
- Só estava deitada! Pra você me
ligar a essa hora, deve ter acontecido alguma coisa! O que foi?
PC não respondeu de imediato.
Olhou para o copo que estava em cima da mesa, esticou o braço e o pegou.
Balanço-o, fazendo girar o gelo que ainda não estava totalmente derretido. Deu
uma respirada funda e tomou todo o uísque numa golada só. Lucinha como já
conhecia a peça, sabia que ele estava dando uma talagada no seu scotch
paraguaio. Esperou até que ele tomasse folego novamente. Ele já restabelecido
falou:
- Lucinha, o cara resolveu brincar
comigo!
- Ele telefonou de novo?
- Não! Agora foi pior!
- Pior como?
- Quando você saiu pra subir a serra,
eu ainda fiquei mais um pouco na redação. Ia sair com vermelho pra fazer a
ronda pelas delegacias. Mas Souza pediu pra ele comprar um lanche. O cara
desceu e dois minutos depois o delegado Carlos ligou. Aí disse que tinha uma
encomenda pra mim na delegacia. Só esperei Vermelho chegar e descemos. Marcão
já estava esperando no carro. Não! Apaga tudo! Eu desci com Marcão! Vermelho já
estava no carro! Tem lanche nenhum! É uma confusão só na minha cabeça!
- Isso é o scotch paraguaio! Você falou em
encomenda! Que encomenda é essa? Fala logo!
- Calma! O único que tem direito de
ficar nervoso, é o papai aqui! Aconteceu o seguinte: encontraram dois cadáveres
sem os olhos. Em cima de um dos corpos tinha um bilhete. Depois encontraram um
embrulho. O bilhete dizia que...
Uma semana depois dessa conversa
com Lucinha, PC voltou a apresentar uma expressão mais tranquila. Aparentemente
não estava tão estressado. O sorriso, mesmo que esporádico, deu às caras. As
velhas brincadeiras ainda não estavam tão engraçadas, porém se fizeram mais
presentes. Mas ainda não era o mesmo PC. Faltava muita coisa. Mas pelo menos a
redação voltou a ter vida. Com certeza deveu-se a normalidade que pairava na
cidade e a melhora do estado de espírito de PC.
Naquele período não houve nenhum assassinato nas redondezas.
Normalmente, para o jornal que ele escrevia, ficava um tremendo buraco, não
falar sobre crimes. Esse jornal, como dizia na época, se espremesse saía sangue.
Logo, os repórteres tiveram que correr atrás de notícias de outros municípios.
Mas era uma situação atípica. O normal era todo dia aparecer algum presunto.
Continua na semana que vem...
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