O silêncio
tomou conta da redação. Os repórteres estavam todos atentos, esperando que PC
falasse mais alguma coisa. Já que o repórter ficou em silêncio cismando, o
chefe arriscou uma pergunta:
- E aí! Ele falou se ia telefonar
novamente?
- Não, só falou esse negócio. Não!
Pô! Arrepiei-me todo! Aqui! – mostrando o braço.
Do fundo da sala uma voz feminina
ecoa. Era Lucinha se adiantando ao chefe:
- PC! O que foi? Foi coisa braba?
- Braba? Bota braba nisso! Sabe o que
ele disse?
Ninguém perguntou, mas todos
balançaram a cabeça negando. Então ele continuou:
- Sabe o que ele disse? Disse que vai
tirar um par de olhos castanhos! Souza, será que esses olhos castanhos, serão
os meus?
Dois dias após essa conversa, um
telefonema, antes das nove horas, ecoa na sala. Todas as cabeças se levantam.
Mas ninguém arrisca ir atender. Só o continuo é que se levanta e vai até a mesa
do chefe e atende.
- PC! É o delegado Carlos! Quer falar
com você!
- Fala delegado! Tudo bem?
- Tudo em ordem. Acho que sim. Ou não está.
- Que confusão. Tá. Não tá.
Desembucha.
- PC. Dá uma chegadinha aqui na
delegacia. Tem uma encomenda pra você.
- Doutor! Que encomenda é essa?
- É melhor você vir até aqui. É um
troço muito estranho. PC é muito macabro!
Cara! Nunca peguei um caso assim, na minha área! Sinistro!
O repórter olha para Souza e diz:
- Chefe. O delegado me disse que o
maluco deixou alguma coisa pra mim, lá na delegacia. Como isso?
- PC, leva Marcão com você. O garoto
tem que aprender. Acorda Vermelho. O
cara tá cochilando. Oh! Esse motorista tá enchendo o pote! Fica de olho
nele! Avisa que se continuar assim eu
troco ele! Tem que ficar esperto!
- Chefe! O cara é bom motorista! Ele não
bebe em serviço!
- Tá a fim de me enrolar? Eu sei que ele
bebe com você! Fica esperto, hein!
PC dá um sorriso amarelo para Souza.
Depois desce com Marcão. Vermelho já estava a postos na porta do edifício. Os
dois entram no carro e seguem para a delegacia. No meio do caminho, PC ameaça
dar um esporro em Vermelho, mas acaba rindo e convidando o motorista, para
depois do expediente, tomar uma gelada.
O carro para próximo à delegacia. PC e
Marcão descem. Vermelho procura um lugar para estacionar. PC arruma a sua bolsa
a tira colo, mexe na sua barba rala, alisa o bigode e entra na DP. Vai passando
e falando com todos os funcionários. O cara conhecia todo mundo. Parecia que o
delegado já sabia que PC estava chegando. A porta da sua sala já estava aberta
a espera do repórter. Marcão que o acompanhava calcanhar no calcanhar sabia que
tinha muito que aprender com PC. Era uma reputação de anos de trabalho. Mal
entra na sala, o delegado vai falando para o grande repórter de polícia:
- PC, meu irmão! O louco resolveu
desafiar a gente! Nas nossas barbas, ele ou eles, - já não sei mais! – deixou mais
dois corpos! Parece que estão a fim de brincar com a gente. Além dos presuntos,
deixou esse bilhete pra você.
PC, um cara que fala pelos
cotovelos, não conseguiu dizer nada. Apenas esticou a mão e pegou a missiva do
delegado. Abriu devagar. Não dava pra saber se estava com medo. Mas abriu a
carta. Olhou e depois leu em voz alta:
- Senhor PC. Ainda não sei o que é
esse PC. Por enquanto vai só PC.
Como falei com o senhor: olhos
saltarão das órbitas. Promessa é dívida. Pensei, pensei e resolvi brincar com
você. Você é um cara que mete o nariz aonde não é chamado. Isso é um caso entre
eu e a polícia. É um desafio para nosso corpo policial. Pois eu quero mostrar
como a polícia do Brasil é incompetente. Mas decidi brincar com todos vocês, já
que você meteu o bedelho aonde não é chamado.
Jamais conseguirão por as mãos em mim. Mas os olhos
vocês porão... Os seus olhos estarão nos meus. Posso até neste momento, estar
olhando para vocês. E estou. Meus olhos são frios, mas podem queimá-los. Meus
olhos estão perdendo o brilho, mas ainda podem ofusca-los.
Que tal, gostou do presente?
A vida é um circo e... A brincadeira
continua. Abre o presente.
Até qualquer momento.
PC estava boquiaberto. Esteve sempre
dentro dos fatos, sem ser parte dos acontecimentos, mas agora estava ali de
corpo e alma sem ser mero coadjuvante. Sentiu que estava encrencado. O delegado
olhava para ele, a quem já conhecia há mais de dez anos e que considerava como
amigo, e, depois de algum tempo de reflexão, perguntou:
- PC, por que o bilhete pra você?
O repórter, querendo achar alguma
resposta, olha para o delegado e ao invés de responder, pergunta:
- Doutor que presente é esse a que ele
se referiu? Será que são os
presuntos?
- Não sei. Mas de repente pode ser
sim. Sei lá!
- Delegado, não tinha mais nada além
do bilhete, não?
Dr. Carlos fica pensativo. Parecia
que tentava encontrar alguma coisa na cena do crime. Balança a cabeça
negativamente. Depois grita para o comissário:
- Ô Bira! Não tinha mais nada além do
bilhete, não? Eu não me lembro! Você que pegou o bilhete não viu mais nada?
Bira que estava na sala ao lado,
responde e vem ao encontro do Dr. Carlos, com um pequeno pacote na mão.
- Delegado! Antes de a gente voltar,
encontrei esse embrulhinho aqui! Estavam entre os dois corpos! Peguei, botei no
bolso e acabei me esquecendo de falar com o senhor!
- Bira, você não pode ficar mexendo nas
coisas que estão na cena do crime, cara!
- Eu ia mostrar ao Doutor! Mas caiu no
esquecimento! Mas juro que não abri! Está aqui intacto!
Continua semana que vem...
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