segunda-feira, 22 de maio de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 9

Continuando...
      - Mas vocês são muito medrosos! Eu estou aqui! Podem ficar tranquilos!Eles não vão atirar em vocês, não! Vamos continuar nessa velocidade? Vamos?
      - Toni, o que é que tem aí atrás, pra eles estarem tão secos na gente? Está na hora de falar! Você e essa menina, aí!
      - Quim, tem nada, não! Eu sei e você também sabe que não tem nada, que valha a pena ser roubada! A não ser que eles queiram o caminhão!
     - O caminhão não! A gente briga, mas não entrega! A carga, até abro mão! Mas o nosso caminhãozinho, de jeito nenhum!
     - A carga não!
     - Ué, você entrega o caminhão? Não estou entendendo, Toni! O que é que você está escondendo de mim? Abre o bico! Abre o bico, Toni!
     - Nada não, Quim! Escondendo nada! Você é que é cismado mesmo! Fica aí criando coisa que não existe! Desencuca, tá legal? Temos é que ficar bem longe deles!
      - Desencuca? Tá cismado? Estou cismado coisa nenhuma! Aí tem alguma coisa e eu vou descobrir!
- Que cara desconfiado! Você não muda mesmo!
      - Ih! Toni!
      - O que foi que houve?
      - Essa menina tá muito estranha! Olha só! Está caladona! E parece que nem está aqui! Eu hein! Oh! Me arrepiei todo!
          Nisso Toni olha para o irmão, tentando ver o braço arrepiado, mas os seus olhos batem no retrovisor lateral, avistando o carro dos bandidos, que se aproximavam rapidamente. Demonstrando nervosismo, fala para o irmão:
          - Quim! Os caras já estão no nosso calcanhar! A coisa vai ficar preta pra gente! O que é que vamos fazer?
         - Pega sua arma!
         - Que arma? Você sabe que tenho o maior medo de arma de fogo!
         - Então... Então, pé na tábua! Pé na tábua, Toni! Aproveita essa reta e estica! Acho que já é um sinal de sorte! Nessa reta a gente vai conseguir pegar uma boa dianteira! Vamos nessa, Toni! Oh. Se tiver algum posto de gasolina aí pela frente, a gente para. Pode ser que tenha também um posto da Polícia rodoviária. Vê se voa Toni! Vê se voa!
            Toni tenso pisa mais fundo ainda. Não olha para o irmão e nem fala nada. Da sua testa começam a brotar gotículas de suor. De vez em quando, olha pelos retrovisores laterais tentando avistar o carro dos bandidos. A menina olha para Quim e depois cutuca Toni, e fala:
         - Ih, nem adianta! Não tem posto de gasolina e nem Polícia Rodoviária! Por aqui não tem nada! Só estrada!
           Quim, que estava com os olhos pregados no retrovisor, passa a mão pelos cabelos e olha de lado para a menina. Depois de um breve silêncio, interroga:
         - Ei menina! Como é que você sabe disso? Fala com tanta certeza!
         - Eu conheço essa região toda, esqueceu? Mas vocês podem ficar tranquilos, quando chegar a hora certa, eu digo como vamos sair dessa encrenca! Toni pode descontrair, eles não vão pegar vocês, não!
         - Olha só, Toni! Uma criança querendo ensinar a gente! Mostra a ela! Mostra! Se livra desses caras! Vamos lá, Toni! Pé na tábua!
         Toni deixa aflorar um leve sorriso e, depois de muita tensão, fala eufórico:
         - É isso aí, mano! Agora eles vão ver só! Deixa comigo! Vou pisar fundo! Se segurem!
           Toni, misturando medo e euforia, acelera o máximo. A carreta parecia, na reta, que ia decolar. E realmente consegue pegar uma boa dianteira, até o carro desaparecer do retrovisor. Quim ri e elogia o irmão:
       - Ih! O cara é fera mesmo! Agora senti firmeza! O mano velho provou agora que não é roda presa!
          Os dois dão boasgargalhas e deixam transparecer que já estão mais calmos. A menina olha para um e depois para o outro e deixa escapar um leve sorriso. Quim vê quando Angélica sorrir e comenta com o irmão:
         - Aí Toni! A garota sorriu! Viu? Nem tudo está perdido!
         - Foi mesmo? Ela sorriu? Perdi essa!
Arisadariarecomeça eenvolve toda a cabine.Depoisse espalha pelo meio da estrada, até se perder por dentro do mato seco. Mas de repente o silêncio se abraça a boleia.E somente o som do motor se espalhava pelo asfalto. Toni e Quim aparentavam tranquilidade. Parecia que o perigo já era coisa do passado. Quim se espreguiça e olha para o retrovisor externo. Olha e imediatamente fecha o cenho. Volta a olhar, parecendo que não acreditava no que estava vendo. A tensão toma conta dele, fazendo-o gritar desesperado:
          - Toni! Toni! Estamos fritos! Os caras estão na nossa cola! Como é que a gente vai se livrar dessa? Meu Deus! Agora estou com medo, mesmo! O que vai ser da gente, Toni?
            Antes que o irmão dissesse alguma coisa, a menina, tentando acalmá-los, fala docemente:
          - Calma! Calma! Não precisam ficar nervosos! Não existe problema, que eu não possa resolver! Vai ficar tudo bem! Vocês vão ver só! Deixa tudo por minha conta!
         Mesmo com as palavras otimistas de Angélica, Toni ficou tenso. Ele olhava pelo retrovisor, suspirava e assoprava. Estava com os nervos a flor da pele. Segurava o volante com tanta força, que parecia que estava esganando alguém. Não demorou muito e despejou o que estava na sua alma:
        - Quim, estou com um medo danado! Acho que nunca passamos por um sufoco desses! Uma vez quase perdemos a carreta, mas o estresse nem se compara a esse! Agora, a coisa está de assustar! Vou tentar correr mais! Não sei como! Mas vou tentar!
        - Faz isso, Toni! E que Deus nos ajude! Eu queria ver aonde não tem problema, que essa menina diz! Se tivesse problema, hein? Ih, Toni! Olha lá! Tá chegando uma subida! A coisa agora é que acabou de complicar! Droga! Por que é que você não tem uma arma?

        - Que arma? Você sabe que tenho um medo danado de arma!
               Continua semana que vem...

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