segunda-feira, 15 de maio de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 8

Continuando...
              Toni, sem saber como, num repente, pega no volante e vira para a esquerda. Quim grita com ele:
          - O que é isso, Toni? Ficou maluco? Ei...
          Mas não conseguiu nem terminar o que pretendia falar, pois num piscar de olhos o caminhão foi tirando tinta da carreta, que estava tombada na pista. Os dois, entre assustados e surpresos, gritam:
          - Meu Deus! Meu Deus, essa foi por um triz!
            Toni, tremendo mais do que vara verde e com os olhos esbugalhados, fala para o irmão:
          - Nossa mãe! Meu Jesus! O que foi isso, Quim?
          - Toni! Toni! O que você fez foi maluquice! Mas se você não tivesse feito, acho que agora a gente estaria frito! Mortinho da silva!
          - Mas mano, eu nem sei direito o que eu fiz. Nem sei se fui eu mesmo. Juro por Deus!
          - Mas... Masfoi muito bom, mesmo! Ah! Ah! Ah! Olha só: estamos vivinhos!
           O caminhão já tinha passado completamente pela carreta. Quim volta com ele para o lado direito da pista, anda mais alguns metros e vai parando lentamente, no acostamento. O riso que aparentemente era de alegria, na verdade era de puro nervosismo. Dai para o choro, foi um pulo. O irmão apenas olhava para ele, sem nada falar. Estava também engasgado. A emoção foi muita. Até a menina esperou que ele se acalmasse, antes de comentar alguma coisa. Quando percebeu que a calma já estava próxima, disse:
         - Bom motorista, hein! Mas se tivesse me escutado, não passariam por esse susto!
            Quim não falou nada, mas olhou para a menina e fuzilou-a com um olhar de poucos amigos. Entretanto ela deu um sorriso leve e continuou dizendo:
          - Não disse que ia ajudar vocês nessa viagem? Está aí, mais uma vez eu tirei vocês de uma enrascada! Eu falei e repito: podem confiar em mim. Viu como conheço essa estrada? Viajei muito com meu pai! Conheço tudo por aqui! Sei onde está o perigo!
         - É! Viu Toni? Ela sabe tudo! Tem olho de raiosx! Como é que você viu que tinha uma carreta tombada, depois de uma curva?
        - Intuição. Só isso. Intuição apenas.
        - É Quim. Esquisito, né? Intuição? Eu nunca vi intuição assim, não! Vai lá menina, explica isso aí pra gente! Vamos lá! Pode começar a explicar! Isso está parecendo ilusionismo! Você é chegada à mágica?
        - É isso aí, Toni! Vai explicando menina! Ou melhor: vai se explicando!
        - Não tem nada, não! Explicar o quê? Vocês estão impressionados à toa! Vamos é embora! É o melhor que a gente faz! Já perdemos muito tempo aqui parados! Pé na tábua, Quim!
        - Toni, já que ela não quer se explicar, vamos continuar parados.
        - Pra quê?
        - Preciso ir ao banheiro! Depois de tantas emoções e de muitos mistérios, o bicho começou a pegar! As tripas já estão dando nó!
        - Mas que banheiro? Só tem esse matagal aí pelo acostamento! Vai logo senão você vai sujar tudo por aqui! Não vai dar tempo, até a gente encontrar algum posto aí pela frente, não! Nessa estrada deserta, só mesmo indo no mato! Vai logo!
           Quim desce correndo e se embrenha pelo mato. A vegetação seca e alta acabou por escondê-lo completamente.  Nem precisou ir muito longe, o seu banheiro improvisado estava ali mesmo, a poucos metros do acostamento.   
            O tempo para quem está de fora parece longo, mas para quem está numa situação de aperto, desse jeito, o tempo não anda. E Toni já estava achando que o irmão demorava muito. Impaciente, gritou:
          - Quim! Quim! Você está demorando muito! Vê se acaba logo! Não podemos perder esse tempo todo, não!
          - Ué! Estou com muita dor de barriga! Parece que as tripas estão dando nó, mesmo! Sai por cima e por baixo! A coisa tá preta!
             A menina acaba rindo e faz com que Toni brinque com o irmão.
          - Diz que ele borrou a calça.
          - Sabe de uma coisa, Quim?
          - Não! O que é?
          - Essa demora é porque você borrou a calça!
          - Que borrei a calça coisa nenhuma! Fica de sacanagem aí não! O negócio é sério! Quando eu penso que já acabou, as cólicas voltam! A coisa tá preta, Toni! Não tá fácil, não!
          - Pô Quim, você está ai há mais de meia hora! Anda logo, mano!
          - Eu quero! Eu quero! Mas tá difícil! Aguenta mais um pouco!
            Nisso a menina dá uma leve cotovelada em Toni e, quando ele olha, ela fala:
         - Avisa a ele que temos que ir embora. Os problemas estão chegando. Temos que andar rápido. Eu não posso fazer tudo sozinha, não! Tenho que ter ajuda dos dois! Senão a gente não vai conseguir chegar a lugar nenhum!
        - Quim, vem logo!
        - Calma! Calma! Já estou chegando! Nossa mãe! Como suei frio! Nunca tive uma dor de barriga assim, tão braba! E vomitei também! Era por cima e por baixo! Foi àquela comida de carregação, daquela espelunca! Êta comidinha ruim! Mas agora estou melhorando! Vamos andar! Vamos andar!
          Toni olha para o irmão, vê o estado lastimável dele e fala:
         - Xi! Quim! Você está mais amarelo do que aquela tangerina que eu comprei! Você não está em condições de dirigir, não! Deixa comigo! Nossa! A sua cara não tá nada, nada boa! Também quer traçar tudo que aparece na frente! Gororoba ruim pra danar! Vamos andando. Vou tirar a diferença.
          - Tá bom, mano! Tá bom! Pisa fundo! Vamos nessa! Mas deixa ver se consigo um jeitinho pra acomodar o... Pra sentar melhor. Não tá fácil, não. Ufa! Pode ir. Pode ir.
- Ok, Quim. Juro que não zombarei da sua desgraça. Mas que o negócio aí deve tá brabo, isso deve!  E aí menina, menina, tá caladinha. O que foi que houve?
          - Desculpe informa-los: os caras já estão bem pertinho. Perdemos muito tempo. Quim, essa sua caganeira veio na hora errada.
         - Agora a culpa é minha? Essas coisas a gente não sabe quando vai acontecer! É assim: pega a gente de surpresa!
- É isso mesmo, menina.Piriri é fogo. Não avisa nunca.Foi só um pequeno atraso. Nós já despistamos os caras. Fica tranquila. A gente tira a diferença.
          - Despistamos? É melhor andar mais! Tem que correr muito mesmo, se quiser escapar deles!
         - Deixa comigo! Eu sou o terror das estradas! Vou tirar o caminhão do chão!
         - Aí menina, Toni é o maior roda presa que eu conheço! Tirar o carro do chão?
        - Se segura aí! Você vai ver só Quim! Vou apertar o acelerador, menina!
        - Acho que não vai adiantar muito. Eles estão bem perto.
        - Já estou pisando fundo! Também andar mais do que isso, é muito arriscado! Acho que estamos andando bem! Não vejo ninguém seguindo a gente, menina! Ih! Não via! Quim tem um carro lá atrás! Será que são eles? Nossa mãe! Vou encostar o acelerador no fundo!

       - Toni, puxa o máximo que o caminhão aguentar! Acelera! Acelera mais! Vamos fugir daqui! Esses bandidos devem estar armados até os dentes!Estão vindo com tudo pra cima da gente! E se atirarem? Estou muito novo pra morrer!
             Continua semana que vem...

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