segunda-feira, 17 de abril de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 4

Continuando...
         - É isso mesmo, menina. Pra que parar agora? Acho que nem tem posto tão perto assim!
         A menina antes de falar alguma coisa olha na cara de um e depois na cara do outro e rir. Balança a cabeça e fala:
         - Escuta só uma coisa: se ficarem por aqui mais tempo, os caras vão chegar e vão tirar o caminhão de vocês. Tem que acelerar. Senão vocês vão ficar chupando o dedo. E tem mais: vocês precisam comer. O caminho é longo. Depois desse posto, não tem mais nenhum. E lá vai ser bom para conhecerem de quem tem que fugir. Vocês não estavam querendo parar?
        - Menina, pra princípio de conversa, nós não devemos nada a ninguém. Logo, não precisamos fugir. Não é Toni?
       - Claro! Ué! Como é que você sabia que íamos parar?
       - Eu sabia! E fugir? Vão ter que fugir! Não estão transportando carga?
       - É claro que estamos! É disso que a gente vive: transportar cargas! Mas a carga que estamos carregando hoje, não é valiosa. Por que alguém iria se interessar por coisas velhas?
       - Toni, sabe de uma coisa? A gente tá dando muito papo pra essa menina, sabe? Não estou gostando nada, nada disso! Essa menina táparecendo que é isca! Vamos deixar ela por aqui mesmo! É o melhor a se fazer! Vai por mim!
          De repente a menina olha pra Quim, faz uma expressão séria e diz:
         - Quim, olha dentro dos meus olhos. Não precisa ficar com medo. Apenas olha.
          - Olhar... Olhar pra quê?
          Quim pergunta, mas o seus olhos são atraídos pelos olhos da menina. Depois olha para o irmão e fala:
          - Mano, pensando melhor... Acho sinceramente que não devemos deixar a menina por aqui, não. E se vem algum bandido e faz mal a ela? E a minha consciência depois, como é que vai ficar?
          - Ué! O que foi que deu em você? Sempre foi contra que ela ficasse com a gente! E agora de repente muda de opinião! Muito esquisito isso, Quim! Muito esquisito!
           - Ah! Mudei de opinião! E daí? Não sei de nada! De repente gostei dela! Qual o problema?
           Antes que Toni respondesse alguma coisa, a menina se antecipou e disse:
           - Vou dizer uma coisa pra vocês: estão encrencados! O caminho de vocês está muito perigoso. Mas estou aqui para livrá-los. Vocês tem que acreditar em mim! Vou afastar qualquer encrenca que aparecer! Vão ver só!
          - Estamos encrencados? Quim, tá tudo muito esquisito!
         - Esquisito tá um negócio que estou matutando aqui. Fala pra mim. Como você sabia que Zé Betão tinha morrido? E como você sabia que era naquela cidade que ele estava morto?
        - Mano, pior que eu não sabia. Não sabia que ele morava ali e muito menos que tinha morrido!
        - Ué! Toni, quem te falou?
        - Ninguém! Eu sonhei! Eu sonhei Quim!
        - Sonhou? Sonhou como?
        - Eu sonhei. Sonhando! Não sabe como é sonhar? Então! Me apareceu uma menina, dizendo para eu ir naquela cidade. Disse que Zé Betão precisava de mim. Achei estranho.  Sabe que sonhei o mesmo sonho, três vezes? Foram três dias seguidos. Por coincidência a gente estava pertinho. E como estava pertinho, resolvi conferir. Mal eu cheguei lá, veio um cara ao meu encontro. Parecia que já estava me esperando. Coisa esquisita. Aí me perguntou se eu era Toni, amigo de Betão. Olha só! Só em pensar, fico todo arrepiado!
          Quim estica o braço e mostra-o para o irmão e diz:
         - Olha só! Eu também já estou todo arrepiado! Que coisa estranha, mano! Por que você não me chamou pra ir junto? Estou aqui encucado com isso!
          - Ah! Não te chamei... Sei lá, Quim! Nem lembrei! Também você estava lá enroscado com aquela morena! Não ia nem me escutar!
         - Não vem com essa não! Toni era só esperar eu resolver a questão com Martinha e depois à gente ia junto!
         - Ah! O nome dela é Martinha? Viu!E eu nem sabia! Essas confusões suas, não quero nem chegar perto!
  - Que confusões? Mano, você é muito certinho! Só tem a Marialda! É bom às vezes um pouquinho de agitação na vida! A sua é muito parada! Mas deixa essas coisas pra lá! Foi até bom eu não ter ido. Isso tudo tá parecendo que tem coisa de outro mundo. Tem fantasma, eu tô fora!
           Nisso Angélica, que estava de espectadora, dá um sorriso e fala:
          - Meu Deus! Dois burros velhos com medo de alma de outro mundo! Que coisa feia!
           Ela dá umas boas risadas, enquanto os dois ficam em silêncio. Pouco tempo depois, avistam um posto de gasolina. Quim bate no volante e fala:
          - Olha lá Toni! Não é que a menina estava certa! Uma placa indicando que tem um posto próximo! Depois dessa, me deu até um pouquinho de fome! Vamos parar?
         - Tá legal, Quim. Mas... Essa menina está me deixando encucado. Como é que você sabia desse posto? Isso tá esquisito! Engraçado, tem hora que olho pra você e parece que já te vi!
         - É? Quem sabe? Eu não falei que conhecia essa região? Eu disse e estou provando! Agora, entra na segunda rua depois da placa. Fica logo no início. Só conhece quem está acostumado.
         - Nunca tinha visto um posto de gasolina, fora da estrada principal. Conhece algum Quim?
         - Não. Lugar deserto assim, nunca. Só quando vai chegando próximo de alguma cidade. É... Mas tá bom também! Vamos lá!
         - Deixa de entusiasmo! Nada de cerveja, Quim! Tá legal? Vamos comer alguma coisa e pé na estrada!
         - Tá bom mano. Tá bom. Sabe que não facilito quando estou na direção. Só tomo minha geladinha, quando vamos passar a noite. É ou não é?
         - Eu sei! Eu sei! Só falei por falar! Sei que você é responsável. Quim encosta ali perto daquele caminhão cegonha. Espaço bom. Será que a gente precisa de combustível?
         - Não. Talvez só pra completar. O tanque tá quase cheio.
           Quim, depois de responder ao irmão, olha para a menina, que já estava quieta há algum tempo, bate no seu ombro e convida-a a descer.
        - Vamos menina? Vamos comer alguma coisa? Você deve estar com fome também. Venha, desce. Estou pensando aqui no pernil assado! Tá escrito ali naquela tabuleta! Vamos lá?
- Estou com fome não. Acompanha o seu irmão. Ele que não estava com fome, já está lá dentro. Vai. Depois eu vou. Vou ao banheiro primeiro.
         Quim desce e vê o irmão acenando para ele. Quando vira para falar com a menina, ela já tinha sumido. E fala, consigo mesmo:
          - Puxa! Estava apertada mesmo! Deve ter ido correndo!
            Mal ele entra no restaurante, Toni reclama:
          - Puxa Quim! Que demora! Escuta só: nada de se engraçar comninguém! Já dei uma olhada por aí e vi que tem umas meninas interessantes! Então você sabe: nada de dá trela pra elas!
         - Larga do meu pé! Você hoje tá esquisito pra caramba! Pô nunca te vi tão chato assim!
          - Chato eu?
          - Chato sim, Toni! Muito chato!
          - Eu te conheço Quim! Eu te conheço! Não vem com papo não! Não vamos demorar, tá legal? Você tinha que ter andado com papai, aí sim você ia andar na linha!
          - Ih! O cara tá nervoso! Tá falando grosso! Pô, Toni! Nunca te vi com tanta pressa! Parece que está fugindo de alguém! Você não acreditou na história da menina, acreditou?
          -Que acreditei o quê! Só temos que acelerar pra entregarmos as nossas cargas! Só isso! Tem nada demais não! Você só tá cismado!
          - Então só estou cismado? Muito engraçado você! Oh! Que tem troço esquisito aí tem!
         - Que esquisito o quê! É melhor a gente comer logo! Vamos escolher alguma coisa aí e picar a mula, o mais rápido possível!
         - Que pressa, hein!
         - Quim, e a menina?

         - Ela disse que não estava com fome, mas ia dar uma chegada aqui. Foi no banheiro primeiro.
                         Continua semana que vem...

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