segunda-feira, 10 de abril de 2017

Um Anjo na Boleia - Parte 3

Continuando...
A menina se aproxima mais um pouco e, imitando Quim, coloca a mão num dos lados da boca e fala:
        - Não tem problema nenhum. Sabe por quê? Ninguém vai me ver. Eu sei me esconder... E tem mais uma coisa: eu posso ajudá-los a chegar ao destino. Conheço a região, como a palma da minha mão. Não tem erro, não!
        - Achar o endereço não é problema. Isso vai ser fácil. Toni sabe o caminho direitinho. Não é mano? Então é melhor você ficar por aqui mesmo. Não, eu vou fazer uma coisa por você: vou passar um rádio pra polícia vir te pegar e entrega-la a seus pais. Isso é o certo. Não é mano?
       - Só eu sei o caminho. Ele não sabe nada.
       - Como ele não sabe nada?
          Toni responde meio envergonhado, por ter mentido para o irmão. Passa a mão pela cabeça, puxa a ponta da orelha, dá um pigarro e diz:
       - É... Sabe...  É, Quim. Sabe de uma coisa? – dá uma pausa. Depois continua:
      - Estranho Quim! Como é que ela sabe que eu nunca estive nesse lugar? Mas como já fomos a muitos lugares sem conhecer e... A gente sempre achou todos os lugares, não foi? Então, eu pensei que esse fosse ser mais um, só!
         Quim demonstrando aborrecimento, falou:
        - Pô! Por que é que você disse que já tinha ido lá?
        - Ah! Você sabe! Quim, você reclama de tudo! Ia querer dar pra trás! Eu te conheço! Ainda ia vir com aquele velho papo: - É de graça! E a gente ainda vai se meter numa biboca?
      Antes que Quim falasse mais alguma coisa, a menina se adianta e fala:
       - Não precisam discutir. Eu só quero ajudar. Eu vim só pra ajudar vocês.
       - Ajudar em quê? Acho que você apareceu só pra complicar tudo. – disse Quim.
       - Vou provar que só estou aqui realmente para ajudar.
       - Ajudar! Ajudar como?
       - Vou começar agora mesmo. Pra começar, entra no caminhão e embica ele nessa estrada ali. Tem que ser rápido, por que vem uma jamanta aí, em alta velocidade e vai bater no caminhão de vocês.
           Toni olha pra o irmão e fala:
      - Ih! Quim! A metade do caminhão está no meio da estrada! Vai que a menina tem razão! Vamos tirar logo ele daqui!
         Quim dá um muxoxo. E mesmo contrariado, entra no caminhão, e tira-o do asfalto. Mal ele entra na estrada de chão, uma jamanta aparece do nada, vindo pela contra mão, e passa por onde eles estavam. Toni, que estava dentro de uma moita de capim e sem saber como tinha ido parar ali, colocou a mão na cabeça e exclamou:
        - Meu Deus! Virgem Santa!
        E gritou para o irmão:
        - Viu essa? Viu essa Quim? Foi por pouco! Meu Deus!
        Depois olhou para a menina, que estava de pé, no acostamento e falou:
        - Olha só! Menina olha só! Estou todo arrepiado! Como é que você sabia da carreta? Você é adivinha? Ah! Só pode ser!
         Toni nem conseguiu ouvir a resposta dela, se é que tenha falado alguma coisa, ela simplesmente já estava na boleia do caminhão, do lado de Quim, que nem tinha percebido a sua presença.
         Como a menina tinha sumido da sua frente num piscar de olhos, Toni ficou encucado. Não sabia como ela tinha desaparecido. Ao entrar na cabine do caminhão, levou o maior susto, quando viu a menina já sentada perto de Quim. Disse, sem saber direito o que falar:
       - Ué! Ué! Mano, você permitiu que ela subisse?
       Quim olhou para o irmão e também se assustou com a presença da menina.
       - Ué! Digo eu! Eu nem vi quando ela subiu! Eu não deixei nada! Isso é coisa sua! Só sua! Você é que tem um coração maior do que o peito! Nem me perguntou se eu concordava, não é?
         Toni, que ainda não tinha se sentado no banco da cabine, antes de falar alguma coisa, se acomodou primeiro, fechou a porta e falou:
          - Mas Quim... É que... Na verdade, eu nem tive tempo de falar alguma coisa. De repente ela já estava aqui em cima. Ela sumiu assim da minha frente. Foi só eu piscar os olhos e ela já não estava mais lá embaixo. Verdade, mano!
         Meio a contra gosto aceitou a justificativa do irmão.
         - Tá legal! Tá legal, Toni! Acredito! Ela é estranha mesmo!
         - Também acho. E aqui menina, no primeiro posto de gasolina que aparecer, você vai descer. Ou se primeiro surgir um posto policial, a gente entrega você para os policiais.
         - Vocês são ingratos. Acabei de ajuda-los e já estão querendo me descartar. Eu disse que ia ajudar e ajudei, não foi? Então, pra mostrar que não estou mentindo, vou dar uma ajudinha de novo. Vai ser a segunda em pouco tempo. Está na hora da gente sair daqui. Sabe por quê? Vou responder: tem um carro preto seguindo vocês.
        - Como é que é? – perguntou Quim.
        - Estão seguindo o caminhão, desde onde vocês saíram. E agora já estão nos calcanhares dos dois. Vêm com tudo pra assaltar vocês, com certeza! Mas como eu estou aqui, vou dificultar as coisas pra eles! Isso – claro! - se quiserem a minha ajuda! Falei?
         Quim olha para o irmão e com desdém, fala:
          - Olha aí, Toni! Mais essa! Um fedelho desses, querendo tirar onda.
   - Não estão acreditando, não é? São dois caras da pesada! Quem avisa amigo é! Querem o caminhão e vão acabar conseguindo! Se quiserem a minha ajuda, estou com vocês!
           - Olha só Toni: vou ajudar vocês! Aonde já se viu uma coisa dessas? Um fedelho! Só acredito vendo!  Oh! Acho melhor você descer, tá legal?
           A menina sem dar muita importância para o que Quim falava, alertou-os:
          - Acho melhor irmos andando! Temos muita estrada pela frente! É melhor começar a acelerar! Os caras estão bem perto! Já estão chegando!
Tá pensando que é brincadeira minha?
           Toni olha para o irmão e, entre risos, fala:
         - Aí Quim, eu acho que a menina tá querendo te assustar! Vamos embora mesmo, porque você tá com a cara que tá mesmo assustado! Um carro perseguindo a gente! Muito engraçado, menina! Uns caras querem assaltar a gente? Muito engraçado isso!
          - É melhor acreditar! Vocês tem que andar rápido! Para no primeiro posto de gasolina. Em quinze minutos, chegamos lá. Esse posto quase não é conhecido. Fica um pouco afastado da estrada. Vamos rápido.
          - Que posto? Não deve ter posto tão perto! Aí Toni, ela tá mandando! Aonde já se viu uma coisa dessas! Como é que papai falava, mesmo?
         - “O gajo é poderoso!” Só rindo mesmo, Mano!
         - Podem rir. Depois vão chorar. Não estão confiando em mim.

         - Toni, pra que a gente vai parar em algum posto agora? Fala pra ela, fala! Já abastecemos! Estamos andando! Viu?
                    Continua semana que vem...

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