A menina se aproxima
mais um pouco e, imitando Quim, coloca a mão num dos lados da boca e fala:
- Não tem problema nenhum. Sabe por
quê? Ninguém vai me ver. Eu sei me esconder... E tem mais uma coisa: eu posso
ajudá-los a chegar ao destino. Conheço a região, como a palma da minha mão. Não
tem erro, não!
- Achar o endereço não é problema. Isso
vai ser fácil. Toni sabe o caminho direitinho. Não é mano? Então é melhor você
ficar por aqui mesmo. Não, eu vou fazer uma coisa por você: vou passar um rádio
pra polícia vir te pegar e entrega-la a seus pais. Isso é o certo. Não é mano?
- Só eu sei o caminho. Ele não sabe
nada.
- Como ele não sabe nada?
Toni responde meio envergonhado, por
ter mentido para o irmão. Passa a mão pela cabeça, puxa a ponta da orelha, dá
um pigarro e diz:
- É... Sabe... É, Quim. Sabe de uma coisa? – dá uma pausa.
Depois continua:
- Estranho Quim! Como é que ela sabe que
eu nunca estive nesse lugar? Mas como já fomos a muitos lugares sem conhecer
e... A gente sempre achou todos os lugares, não foi? Então, eu pensei que esse
fosse ser mais um, só!
Quim demonstrando aborrecimento,
falou:
- Pô! Por que é que você disse que já
tinha ido lá?
- Ah! Você sabe! Quim, você reclama de
tudo! Ia querer dar pra trás! Eu te conheço! Ainda ia vir com aquele velho
papo: - É de graça! E a gente ainda vai se meter numa biboca?
Antes que Quim falasse mais alguma coisa,
a menina se adianta e fala:
- Não precisam discutir. Eu só quero
ajudar. Eu vim só pra ajudar vocês.
- Ajudar em quê? Acho que você apareceu
só pra complicar tudo. – disse Quim.
- Vou provar que só estou aqui realmente
para ajudar.
- Ajudar! Ajudar como?
- Vou começar agora mesmo. Pra começar,
entra no caminhão e embica ele nessa estrada ali. Tem que ser rápido, por que
vem uma jamanta aí, em alta velocidade e vai bater no caminhão de vocês.
Toni olha pra o irmão e fala:
- Ih! Quim! A metade do caminhão está no
meio da estrada! Vai que a menina tem razão! Vamos tirar logo ele daqui!
Quim dá um muxoxo. E mesmo
contrariado, entra no caminhão, e tira-o do asfalto. Mal ele entra na estrada
de chão, uma jamanta aparece do nada, vindo pela contra mão, e passa por onde
eles estavam. Toni, que estava dentro de uma moita de capim e sem saber como
tinha ido parar ali, colocou a mão na cabeça e exclamou:
- Meu Deus! Virgem Santa!
E gritou para o irmão:
- Viu essa? Viu essa Quim? Foi por
pouco! Meu Deus!
Depois olhou para a menina, que estava
de pé, no acostamento e falou:
- Olha só! Menina olha só! Estou todo
arrepiado! Como é que você sabia da carreta? Você é adivinha? Ah! Só pode ser!
Toni nem conseguiu ouvir a resposta dela, se
é que tenha falado alguma coisa, ela simplesmente já estava na boleia do
caminhão, do lado de Quim, que nem tinha percebido a sua presença.
Como a menina tinha sumido da sua
frente num piscar de olhos, Toni ficou encucado. Não sabia como ela tinha
desaparecido. Ao entrar na cabine do caminhão, levou o maior susto, quando viu
a menina já sentada perto de Quim. Disse, sem saber direito o que falar:
- Ué! Ué! Mano, você permitiu que ela
subisse?
Quim olhou para o irmão e também se
assustou com a presença da menina.
- Ué! Digo eu! Eu nem vi quando ela
subiu! Eu não deixei nada! Isso é coisa sua! Só sua! Você é que tem um coração
maior do que o peito! Nem me perguntou se eu concordava, não é?
Toni, que ainda não tinha se sentado
no banco da cabine, antes de falar alguma coisa, se acomodou primeiro, fechou a
porta e falou:
- Mas Quim... É que... Na verdade, eu
nem tive tempo de falar alguma coisa. De repente ela já estava aqui em cima.
Ela sumiu assim da minha frente. Foi só eu piscar os olhos e ela já não estava
mais lá embaixo. Verdade, mano!
Meio a contra gosto aceitou a
justificativa do irmão.
- Tá legal! Tá legal, Toni! Acredito!
Ela é estranha mesmo!
- Também acho. E aqui menina, no
primeiro posto de gasolina que aparecer, você vai descer. Ou se primeiro surgir
um posto policial, a gente entrega você para os policiais.
- Vocês são ingratos. Acabei de
ajuda-los e já estão querendo me descartar. Eu disse que ia ajudar e ajudei,
não foi? Então, pra mostrar que não estou mentindo, vou dar uma ajudinha de
novo. Vai ser a segunda em pouco tempo. Está na hora da gente sair daqui. Sabe
por quê? Vou responder: tem um carro preto seguindo vocês.
- Como é que é? – perguntou Quim.
- Estão seguindo o caminhão, desde onde
vocês saíram. E agora já estão nos calcanhares dos dois. Vêm com tudo pra
assaltar vocês, com certeza! Mas como eu estou aqui, vou dificultar as coisas
pra eles! Isso – claro! - se quiserem a minha ajuda! Falei?
Quim olha para o irmão e com desdém,
fala:
- Olha aí, Toni! Mais essa! Um
fedelho desses, querendo tirar onda.
- Não estão acreditando, não é? São dois
caras da pesada! Quem avisa amigo é! Querem o caminhão e vão acabar
conseguindo! Se quiserem a minha ajuda, estou com vocês!
- Olha só Toni: vou ajudar vocês!
Aonde já se viu uma coisa dessas? Um fedelho! Só acredito vendo! Oh! Acho melhor você descer, tá legal?
A menina sem dar muita importância
para o que Quim falava, alertou-os:
- Acho melhor irmos andando! Temos
muita estrada pela frente! É melhor começar a acelerar! Os caras estão bem
perto! Já estão chegando!
Tá pensando que é
brincadeira minha?
Toni olha para o irmão e, entre
risos, fala:
- Aí Quim, eu acho que a menina tá
querendo te assustar! Vamos embora mesmo, porque você tá com a cara que tá
mesmo assustado! Um carro perseguindo a gente! Muito engraçado, menina! Uns
caras querem assaltar a gente? Muito engraçado isso!
- É melhor acreditar! Vocês tem que
andar rápido! Para no primeiro posto de gasolina. Em quinze minutos, chegamos
lá. Esse posto quase não é conhecido. Fica um pouco afastado da estrada. Vamos
rápido.
- Que posto? Não deve ter posto tão
perto! Aí Toni, ela tá mandando! Aonde já se viu uma coisa dessas! Como é que
papai falava, mesmo?
- “O gajo é poderoso!” Só rindo mesmo,
Mano!
- Podem rir. Depois vão chorar. Não
estão confiando em mim.
- Toni, pra que a gente vai parar em
algum posto agora? Fala pra ela, fala! Já abastecemos! Estamos andando! Viu?
Continua semana que vem...
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