NOSSA COR: HUMANA
- José Timotheo -
Recentemente ouvi duas pessoas conversando dentro de um ônibus, linha Niterói – São Gonçalo, RJ. Eram dois rapazes. Um negro, com mais de um metro e oitenta de altura, e o outro, bem branquinho, com uma altura que não passava de um metro e meio. Um chamava o outro de tampinha e negão. A conversa era de total alegria. Eram grandes amigos. E só se dirigia um ao outro pelo apelido. Falavam da família. Os dois já tinham filhos. E eram compadres. Ouvi bastante o papo deles. Chegando em casa, baseado no que ouvi, escrevi esse texto.
- Ô Tampinha!
- Ô Negão! Isso é bule!
- Que bule você tá falando?
- Não sei direito. Mas não é o de café, isso eu sei. Parece que é aquele negócio de apelido.
- Então você fez bule comigo. Me chamou de negão.
- É? Então me chame de negão também. Pode me chamar.
- Chamar você de negão, seu branquela?
- Sim! Pode! Você esqueceu de que doou sangue pra mim, quando sofri aquele acidente?
- Lembro sim!
- Então, tenho sangue preto aqui nas minhas veias! Logo, sou preto também!
- Se é assim, então pode de me chamar de branquela, barata descascada e o que mais quiser! Dessas coisas assim que a gente chama os brancos!
- Negão, mas você não é branco!
- Como não! Já se esqueceu de que eu tenho um rim que você me doou? Então, sou também branco!
- Ô negão! Ou branquela? Meu irmão pra quê esse negócio de cor? Quem arranjou isso?
- Branquela. Ou negão? Sabe que eu não sei! Só sei que quem inventou não estava num bom dia!
- Ô Tinho, como é que está o seu menino, o meu afilhado?
- Tá bom. Lindo que só vendo! Cada dia se parece mais e mais com a mãe! É o meu tizil! Nosso menino vai fazer três anos!
- E eu não sei? Num é que esse meu afilhado é mais preto que o padrinho! Mas ele é branquinho igual a você!
- Num é que é mesmo! Ô negão. Qual a cor da gente?
- E a gente tem cor? Eu só sei que a gente é gente! Pra que cor? Ô Tinho, você falou uma coisa certa: o cara que arranjou essa coisa de cor estava num mal dia, não é mesmo?
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