terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

VIVA A NOSSA MISTURA VAMOS DEIXAR O ZEZÉ E A MARIA EM PAZ


VIVA A NOSSA MISTURA 
 VAMOS DEIXAR O ZEZÉ E A MARIA EM PAZ 
José Timotheo

     
         Desde garoto ouço praticamente as mesmas músicas no carnaval. Será que está faltando inspiração?  As mesmas marchinhas, os mesmos sambas dentro dos salões, os famosos pula-pula, que na época eram assim conhecidos. Não me lembro de ter visto alguém se aborrecer com a “Cabeleira do Zezé”, ou alguém brigar por causa do pé grande da Maria. Brincar, fazer gozação, encarnar, isso sempre existiu. O compositor dessa música, que eu saiba, nunca foi preconceituoso. Mas fugindo um pouco da música, estou me lembrando dos cartunistas: o que eles sempre fizeram e continuam fazendo? Curtindo, brincando com a cara alheia. Não é saudável?
          Voltando para a música.   A memória me levou para os meus quinze anos.  Lembro-me bem quando penteei os cabelos à lá Beatles. Acho que fui um dos primeiros do bairro a usar aquele tipo de penteado. A zoação foi geral. Me chamaram de bicha, e daí? Inclusive um garoto homossexual, morador do bairro, me sacaneou também.
            Nessa época eu já estava começando a me ligar realmente em música. E obviamente já era um fã do grupo de Liverpool. E já dava os meus primeiros acordes no violão. Por que falei dos Beatles? Não sei. Ah, sim, foi por causa dos cabelos. Mas quem me sacaneou, na semana seguinte já estava com os cabelos jogados na testa. Não há registro de que alguém sofreu por ter sido sacaneado ao usar aquele tipo de penteado.
           Ainda não sei como vou cantar nesse carnaval as eternas marchinhas. A não ser que troquemos as letras. De repente “Olha a careca do Zezé, será que vai com a peruca do Casé? Acho que não vai dar certo. Vai que a Regina se aborrece. Vamos tentar outra letra. –“Olha a cabeça... – toca sem letra, vai!
            Vamos pra Maria. – “Maria, sapa... – aí vai ficar difícil! Tá tudo tatuado no subconsciente! Eu nunca vi nos festejos momescos um gay ficar revoltado com a execução dessas músicas. Muito pelo contrário, acho que era o que mais se divertia.
            Quanta Maria já virou João? Quanto João já virou Maria? Ninguém mais vê anormalidade nisso. A pessoa tem o livre arbítrio para escolher a sua vida. Não é a cabeleira do Zezé ou o tamanho do pé de Maria que vão alterar a escolha sexual de alguém. Nem o seu cabelo não nega mulata... Não nega que são as mulheres mais lindas do mundo! Que ofensa tem nessa mistura maravilhosa! Temos é que viver em paz. Temos que procurar a felicidade. Temos que torcer pela harmonia. Somos um país misturado.  Temos que viver bem com o nosso vizinho, sem nos importar se a pele dele é branca, ou negra ou qualquer outra cor. Ele é gente como a gente.  Se ele por fora tem a brancura do velho mundo, pode ter por dentro o negrume africano. E vice versa. Somos morenos. Mas a nossa cor mesmo é humana.
            Constantemente vejo nos jornais a intolerância racial na Ásia, África, Europa, América do Norte e isso me dá arrepio. Tem também a intolerância religiosa. Coisa horrível de se ver. Gente se matando em nome de um deus. E o mais triste disso tudo é que não se tem vontade política de resolver a questão. Uma questão humanitária. Criança morrendo de fome e de bala. Isso não toca a ninguém?  “A cabeleira do Zezé” não ofende ninguém, já essa intolerância religiosa e racial chega ser um holocausto.
             Deixa a cabeleira do Zezé em paz, o sapato da Maria ficar confortável no pé de quem escolheu, as nossas mulatas arrasando em beleza e arte e viva o carnaval brasileiro. É pura magia. Viva o samba! Viva a nossa mistura! Graças a Deus somos o que somos! E que possamos viver em paz! Vamos cuidar das nossas crianças e dos nossos idosos! E mostrar para o mundo que aqui a paz é possível! Que estamos no caminho da felicidade, graças a nossa mistura! A harmonia vai reinar! A nossa cor é universal: humana! Graças a Deus!
                     
                                                        fim

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