quarta-feira, 18 de novembro de 2015

UM NÁUFRAGO EM ALGUM LUGAR DA BAÍA - Parte 8

Continuando...
        
          Fiquei olhando tudo em volta. Árvores arrancadas com raiz e tudo. Outras quebradas. Mais algumas apenas tombadas. O nosso pequeno mundo, apesar dos estragos, conseguiu sobreviver. E a gente também. Chamei a atenção de Tibúrcio para uma fumaça que saia detrás de uma pedra. Para nossa surpresa, encontramos uma árvore tombada queimando. Tinha sido ali que o raio caiu. Distavam alguns metros da caverna. Trocamos olhares e deixamos escapar sorrisos. Parecia que estávamos pensando a mesma coisa: -“Essa é a chance de se comer qualquer coisa cozida!” – Corremos os três para junto da árvore ou que restava dela. Vimos que um pedaço da madeira estava em combustão. Um fogo baixo queimava-a lentamente. Só em passar a mão por cima da chama, a felicidade brotou. Tibúrcio não pensou duas vezes, correu e procurou gravetos e foi colocando para alimentar o fogo. Arrastamos uma outra árvore, que estava tombada próximo, e colocamos onde o fogo estava mais vivo. Não demorou muito e já tínhamos uma bela fogueira. Agora era só não deixar o fogo se extinguir. Achamos uma pedra chata, que estava próximo onde ficavam os restos do que fora uma choupana, e colocamos em cima do fogo. Mas antes pusemos duas pedras, para servir de base. Aí sim deitamos a pedra em cima. Estava feito um simples fogão. Depois da pedra quente, era só colocarmos o peixe e o camarão e deixar fritar. E assim fizemos. Acho que nunca tinha comido um peixe tão gostoso. Com isso nossos ânimos melhoraram. O casal até passou a ficar mais tempo comigo. Enquanto não construíamos a choupana, ficamos os três na caverna. Mas na segunda noite, cheguei à conclusão que tinha que sair dali. Só o cheiro da mulher já era perturbador. Acho que o amigo percebeu e me pediu para ajudá-lo na construção de sua choupana. No dia seguinte já tínhamos arranjado um local mais protegido. Construímos rapidamente o abrigo.
          Depois de mais alguns dias para se colocar novamente ordem na casa, voltei novamente a pensar em alguma forma de sair dali. Ainda mais depois do ocorrido. Meus pensamentos ficaram voltados para isso, vinte e quatro horas. Mas percebi que Tibúrcio e a mulher não demonstravam nenhum entusiasmo quando eu falava em voltar para a civilização. Mas mesmo assim, de tanto eu insistir, eles embarcaram no meu sonho de construir uma jangada. Mesmo se não desse para sair dali, pelo menos para dar uma volta em torno do grande rochedo. Eles toparam, mas deixaram claro que não subiriam nela. Concordei, pensando que mais tarde pudessem mudar de opinião. Eu até sugeri, como ele nadava, que fosse pelo menos até a ponta do rochedo e olhasse do outro lado. Não quis, alegando que não ia se arriscar a toa numa aventura, que podia não dar em nada. Mesmo assim confirmou que ia me ajudar na construção da jangada.

          Depois de alguns dias, conseguimos construir uma precária embarcação. Senti na hora que ia ser uma grande aventura. Não sei como ia encarar aquele desafio. Não podia recuar. E não ia recuar. Olhei para àquelas toras amarradas e não senti nenhuma segurança. A amarração podia não aguentar. As toras, não realidade, estavam mais para graveto. Mas conseguimos fazer alguma coisa que boiasse. Colocamos dentro d’água e não afundou. Subi meio que desconfiado e ela resistiu. Chamei o casal para me acompanhar, mas não quiseram embarcar, de jeito nenhum, naquela aventura. Lá fui eu sozinho. Mas estava difícil colocá-la para se movimentar. A maré praticamente não se movimentava. Naquele pedaço o mar era muito tranqüilo. Tibúrcio vendo a minha dificuldade entrou na mata, para tentar achar alguma coisa que me ajudasse a fazer a jangada se movimentar. Depois de algum tempo, apareceu ele com um bambu comprido, com mais de dois metros.Próximo da pedra, nós não sabíamos a profundidade. Ali onde estava, era bem raso. Depois constatei que não passava de dois metros. Até ali a sorte estava ao meu lado. Continuei encostado no paredão. Estava tudo calmo. Mas de repente a jangada começou a ser jogada de um lado para o outro. Ao se afastar um pouco do rochedo, começou a girar. Consegui ver a formação de um redemoinho. Do nada apareceu. Lutei e consegui equilibrar a embarcação. Como apareceu, sumiu. Respirei fundo e olhei para os meus amigos. Estavam assustados. Levantei o polegar dizendo que estava tudo ok. A normalidade tinha voltado. Mas estava com medo. Tive até vontade de voltar, entretanto não podia entregar os pontos. O que a mulher de Tibúrcio podia achar de mim? Tudo, menos covarde. Continuei me cagando de medo.
                            Continua semana que vem...

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