sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Temporal - a história


TEMPORAL
(a história)
José Timotheo

          O mundo começava a desabar. A Serra escorregava das suas terras altas, como se desmaiasse. Era noite ou dia? Isso não importava muito! O estrago não tem luz, não tem cor... Ele tem dor. E muita dor. Até hoje tem centenas de gritos enterrados... A terra geme... De onde vêm? Ninguém sabe. Mas ele está ali... Está lá... Principalmente dentro de muitas cabeças. E ele vai fazer eco até que alguém desperte.
          A Serra não teve culpa. Ela chorou lama e pedra. Ela não teve mãos para interromper o que os homens arrancaram do seu coração. Ela ficou frágil e deixou o seu sangue escorrer dos montes. Ela é derrubada. Ela não derruba, ela despenca da ambição do homem.
          As cicatrizes estão vivas. O alerta continua vivo. A Serra não morreu e nem vai morrer. Mas o homem pode continuar morrendo. Plante a Serra dentro da sua consciência. Deixe-a florescer. Cuidem bem do ipê, jacarandá, bromélias, orquídeas, de tudo, de tudo, do todo, do seu coração.
          Subia a Serra no dia 10/01/2011. Parei na estrada Muri – Lumiar, em Nova Friburgo, RJ, nas imediações do Stuky. Uma melodia pipocou na minha cabeça. Veio junto uma letra. –“Está caindo um temporal. Não se pode subir a Serra. Eu nunca vi nada igual.” Ainda não chovia. Eu perdi a música e preferia ter perdido a letra. E que nada disso tivesse virado realidade.
           Vamos cuidar melhor da nossa Serra. Vamos cuidar melhor do nosso planeta. Estamos no mesmo barco. Essa nave que viaja solta e alegre por esse infinito e que não tem pouso. Ela vai continuar viajando. E a gente? Se não formos bons tripulantes, vamos ficar pelo caminho... Enterrados com nossos egoísmos e ambições. Precisamos cuidar da Terra. Precisamos ser generosos. Precisamos plantar amor. Precisamos ser Homens de bem. Deuses de nós mesmos.
Fim
Obs: Em Janeiro de 2011, um forte temporal atingiu as Serras do Estado do Rio de Janeiro, o que se viu foram cenas de desespero e muita dor. Parecia irreal aquelas montanhas preservadas, e não favelas, virem abaixo como sorvete. Como amante da natureza e da Mata Atlântica, vi tudo com muita tristeza, e como poeta que sou, respondi com música aquela situação. Acabamos por gravá-la em agosto desse ano, e a mesma será faixa bonus do CD Refiz Estradas. 
Apresento para vocês, a história (com h, pois é verdadeira), embora preferisse que a mesma estivesse apenas na minha imaginação. 
Dedico essa canção à todas as pessoas que sofreram alguma perda, que ajudaram e se envolveram com aquela tragédia, e que ela sirva de alerta, pois as chuvas virão novamente!!
 Em breve a letra da canção e a liberação da mesma no myspace do compositor.

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