terça-feira, 12 de agosto de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 68

 


Continuando...

                O soldado Oliveira parecia que tinha saído de um transe. Não estava entendendo o que tinha acontecido. Aquela voz que escutara, sem saber de onde viera, ainda ecoava dentro da sua cabeça. Lembrou-se que passara por dentro da fortificação sem nenhuma dificuldade e saíra do mesmo jeito. – “Que poder é esse que me pegou de repente?” – balbuciou. E o mais estranho é que não se lembrou de procurar alguma porta para passar. Depois se deu conta que não estava pisando no chão. –Será que eu morri? – gritou para ninguém.

                       Saiu da fortificação sem precisar abrir o portão. A princípio pensou entrar na floresta e procurar os seus amigos, mas depois concluiu que não poderia interferir na escolha de cada um deles. Ele escolheu ficar. Usou o seu livre arbítrio e os outros também fizeram o mesmo. E quem era ele para interferir na escolha dos outros? Se pelo menos tivesse escutado algum pedido de socorro, era diferente. Entretanto não percebendo qualquer apelo vindo do fundo da floresta, preferiu deixar como estava. Lá era a morada que eles escolheram para ficar, então quem era ele para mudar o que estava escrito. O mundo ia esquecer que existiu um pelotão que pereceu na floresta, mas a floresta ia ser a guardiã daquelas almas para a eternidade.

               “Que rumo tomar?” – perguntou à floresta. Mas uma voz respondeu na sua mente. – Siga o rio. Mas não molhe os pés.

                 O soldado achou aquilo muito estranho. Sabia que onde estava não existia rio algum. Só existia uma filete d’água, uma fonte contaminada, que sumia por dentro do chão, lá dentro do cercado e o poço de onde tiravam a água para consumo da tropa. E a voz ecoou novamente.

               - Atravesse o portão e verás o rio.  É apenas um fio de água que vai leva-lo até onde precisam de você.

               Ele atravessou o portão, sem precisar abri-lo e realmente encontrou o menor rio que já vira. Não passava de um palmo de largura. Era uma linha d’água que se dirigia para o sul. Pensou em beber um pouco daquela água cristalina, mas não conseguiu encostar um dedo sequer na sua superfície. E a voz mais uma vez ecoou.

             - Essa água não mata a sede, ela é só o caminho para afogar a ignorância. Pode afogar também a maldade. Siga em frente, até chegar no lugar certo, onde vais descer e encontrar o seu irmão. Vai ajuda-lo a sair do buraco. Tem mais dois amigos que virão com ele. Lá é onde mora a maldade. Vai e volta. Estaremos aqui.

            Oliveira, o soldado, parecia imerso numa loucura. Ouvia a voz dentro da sua cabeça que mandava-o ir para algum lugar e salvar alguém que não sabia quem era. Só que não conseguia evitar seguir aquele misterioso comando. Quem o comandava? Ele desconhecia. Estava achando tudo muito estranho. As interrogações explodiam dentro do cérebro. 

            Resolveu caminhar seguindo aquele fio de água. De repente se deu conta que não sentia o chão. Olhou para o pé viu que caminhava no ar. Estava  a alguns metros acima do chão. Depois lembrou-se que passara por dentro do portão. Apertou o corpo para ver se não tinha morrido, se era ainda de carne e osso. Sorriu aliviado ao constatar que ainda sentia o aperto da sua mão nos membros. Estava vivo, sem dúvida, mas só que não era mais uma pessoa comum.

             A voz ecoou de novo na sua cabeça, lembrando-o  que tinha um irmão precisando dele a muitos quilômetros dali. Só que não se lembrava de ter algum irmão. Era filho único. Quem seria esse irmão? Não importava quem seria essa pessoa, se era um irmão, ele ia. Olhou o fio d’água e foi em frente. Flutuava feito um pássaro. Se sentiu, realmente, um pássaro, só que sem asas. Voava, voava com um destino a cumprir.

            O tempo que seguiu o menor riacho do mundo, assim achou, pareceu frações de segundos. Parou em um lugar onde o fio d’água sumia no chão. Olhou para ver onde a água mergulhava, mas não achou nada. Viu outra coisa.

              Dyllon não sabia o que estava vendo. Natasha cutucou-o para saber o que estava acontecendo, já que o amigo não atravessara o corpo por completo. Ele não respondeu e nem se mexeu. Ela então puxou-o pelas pernas, com a ajuda do namorado. Dyllon saiu de dentro da porta com os olhos arregalados. Pela primeira vez a enfermeira vira o amigo com uma expressão tão assustada.

            - O que foi, Dyllon?

            - Não sei... – fez uma pausa – O que é aquilo? - Esfregou as mãos tenso.

             - Calma, Dyllon. Explica o que está havendo. Já estou ficando nervosa.

 ,,,Continua Semana que vem!

sábado, 9 de agosto de 2025

Pensamento de Poeta - Um Dia a Flor Abrir-se-a

  


Um Dia a Flor Abrir-se-a

- José Timotheo -  

Manhã chuvosa                                                       

Olhei para o mundo

À minha frente

A janela chorava

Lágrimas escorriam

E caiam na grama

E por lá se espalhavam

Os fios de lágrimas

E eu não sabia o que fazer

Tomei o meu café

Entre um choro discreto

Não entendia porque o dia chorava

Mas sentia porque o meu rosto

Estava banhado de tristeza

A minha gente não tinha esperança

Seu sonho já havia sido enterrado

Eu sentado sem acreditar

Que o futuro pudesse brotar

A cada segundo

Mas ele chega, sem que se acredite

Vem discretamente

Com um broto agasalhado

Um dia ele cresce e dá flor

É um dia atrás do outro

É só esperar

O tempo? Pode não ser o meu

Mas um dia, os meus sentirão

O seu cheiro ao amanhecer

                                                              Fim

 

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 67

 


Continuando...

                O soldado continuava de mãos postas, em oração profunda. De repente começou a flutuar e foi se deslocando até onde estava o foco de luz que cobria toda a área que fora isolada devido a radiação. Ele penetrou, então, nessa luz e sumiu. Imediatamente esse foco começou a girar rapidamente e, a cada giro, aumentava mais e mais o seu raio de luminosidade. As três entidades permaneciam paradas, pareciam de cabeça baixa, uma do lado da outra, emitindo raios de coloração lilás. Depois de algum tempo a cor foi trocando e as tonalidades foram mudando a cada segundo, saindo da cabeça desses seres quase transparente.

                     O tempo foi passando e o raio de luminosidade já chegava quase à floresta. A área iluminada era imensa. Quem olhasse do espaço, diria que um imenso holofote estava aceso em plena floresta amazônica. Parecia um sol saindo do chão. Os animais que estavam próximos, fugiam apavorados procurando se entocar em qualquer buraco que encontrasse. Mas nem sinal dos soldados que fugiram para a mata fechada. Ninguém jamais saberia que rumo tomaram debaixo daquelas imensas árvores. Se sobreviveram ou não, era a questão. Às chances de sobrevivência, era praticamente nenhuma. Já que nas proximidades não passava nenhum rio ou riacho. Com aquele calor sufocante, e sem água, desidratariam em pouco tempo. O único ponto de água, era onde estava instalada a comunidade que fora exterminada.  Então... Só Deus sabe.

                       As três entidades pararam de emitir luz em direção a luz maior, ou nave mãe, e começaram a levitar. Saíram alguns metros do chão e invadiram essa luz, sumindo no seu interior. Rapidamente a luminosidade voltou ao tamanho que tinha antes e a velocidade que girava, diminuiu consideravelmente até ficar como era.

                       O soldado Oliveira continuava sumido. Quem estivesse na guarita conseguia ver, novamente, movimentos de pessoas entrando e saindo das casas. Se estavam em carne e osso, era outra história. Ninguém podia afirmar coisa alguma, a respeito do que acontecia por baixo daquela imensa luz. Era verdade ou fantasia? Quem tinha essa resposta? Pelo menos ali, ninguém. Mas também era difícil duvidar daquelas pessoas que tinham morrido assassinadas e que agora pareciam vivas e sadias. Imaginação?

                        Onde estava o soldado Oliveira? Não era visto circulando na pequena comunidade, entre os moradores, que existiam ou não. Essa era uma questão de pura incógnita. Aparentemente parecia que tinha evaporado. Era mais um mistério que envolvia aquela comunidade. De repente começou uma movimentação, antes não observada,  dentro da nuvem (ou nave?) A luz foi diminuindo lentamente até ficar do tamanho de uma bola, com um diâmetro de cinco metros, mais ou menos. Agora essa bola tinha um tom metálico. De repente voltou a girar e mudar de cores. Em segundos subiu e riscou o céu até sumir completamente.

                           O local ficou em total silêncio. Não se via mais aquelas pessoas circulando dentro dos muros. Tudo voltou a ser o que era: uma vila fantasma. O soldado sobrevivente tinha sumido, e seria a única testemunha para narrar tudo que acontecera ali, nos últimos dias.

               “ Eu estou aqui, meus amigos!” – um grito ecoou pela floresta amazônica, sacudindo árvores e tremendo o chão. Era o soldado que tinha voltado. Mas dê onde tinha saído? Simplesmente apareceu no alto da guarita. Era a sentinela que estava a postos novamente. Ele jamais abandonaria o seu posto, como afirmara. Continuava solitário, mas armado de alguma força que o transformou em mais de um.

                   Pegou a sua arma e desceu da guarita. Mas dessa vez, veio sem pisar nos degraus. Flutuava levemente até pousar no chão. Olhou para a arma e jogou-a para um canto qualquer. Depois foi em direção a área isolada e atravessou o muro, com a maior simplicidade possível. Parecia que era um portão que se abrira para que passasse. Circulou pela viela, com poucas casas de cada lado, e procurou por algum ser vivente, como vira no dia anterior, de cima da guarita. Não encontrou ninguém. Parou ao escutar alguma coisa. Em pé no meio da rua, fechou os olhou e escutou:

                   - Você viu as pessoas sem seus corpos de carne. Elas agora não estão mais aqui. Só estiveram para que algumas pessoas a vissem. Você foi o único as viu, sem se achar um louco. Porque viu, também, com os olhos do coração. Você tem que sair daqui e procurar uma pessoa. Ela está precisando da sua ajuda. Depois buscaremos vocês, aqui mesmo. Seremos sua bússola.  

.......... Continua Semana que vem!

terça-feira, 29 de julho de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 66

 


 Continuando...

                              O soldado saiu da enfermaria e ficou mirando a floresta. Depois pegou o binóculos e varreu uma grande área daquele mundo verde. Nenhum vestígio dos seus companheiros. Era só silêncio o que viu. Nada se movia. Aquilo deixou-o completamente triste. Tinha plantado a esperança de que algum amigo voltasse para o pequeno “forte”, mas nem sinal de qualquer alma nas imediações.

                             Caminhou até o portão derrubado e tentou ergue-lo, porém foi em vão. A única esperança seria com a ajuda dos dois únicos soldados que fora acometido com uma virose, entretanto, com o sumiço dos dois, lá se foi a reforma dos portões e parte da cerca para o próximo contingente, que não sabia quando chegaria. Do jeito que estava, corria risco de vida com a invasão de animais selvagens. A segurança do “forte” estava completamente comprometida. Tinha que arranjar algum lugar, dentro da fortificação, que pudesse se proteger. A noite não estava muito longe, logo tinha que fazer alguma coisa para espantar qualquer animal que tentasse se aproximar. E tinha que começar a se movimentar. – Vou fazer umas fogueiras. – pensou.

                             Atrás da cabana que servia de enfermaria, tinha um pequeno cômodo que servia de oficina. Lá encontrou martelo e um serrote. Depois lembrou-se que tinha uma serra elétrica, à gasolina. Vasculhou o local e finalmente encontrou o que procurava, só que estava sem combustível e, pior, não sabia onde encontra-lo. Revirou todo o cômodo e nem sinal da gasolina.

                              Não devia perder mais tempo, teria que usar as ferramentas que tinha: martelo e serrote. Lá foi ele para o trabalho árduo que o esperava. Começou a desmontar o portão e amontoar as madeiras em alguns pontos, protegendo a área mais vulnerável. Precisou apenas fazer três fogueiras para cobrir o buraco que foi criado com a queda dos portões e de um pedaço da cerca. Sabia que o fogo subiria alguns metros. O cuidado para o fogo não se espalhar tinha que ser redobrado. Meteu a mão no bolso e não encontrou o fósforo. Depois se lembrou que não tinha esse hábito de carregar caixa de fósforo, já que não fumava. Olhou alguns cadáveres que ainda estavam por ali, já que ainda não tivera tempo de sepultá-lo, e procurou em alguns bolsos. Encontrou em um deles um isqueiro. Antes de atear fogo na lenha, veio na sua cabeça que, achou estranho, nenhum corpo exalava mau cheiro. Pareciam que apenas dormiam.

                    Acendeu o isqueiro e a chama não se manteve acesa, devido a um vento repentino. Mais uma coisa estranha: nunca tinha percebido vento naquele lugar. Bateu de ombro e tentou novamente, mas mais uma vez a chama não se sustentou. Olhou aquelas madeiras empilhadas e notou que não tinha colocado jornal, ou mesmo gravetos para ajudar na queima. Mas graveto por ali, só indo até a floresta e isso ele não ia fazer de jeito nenhum. A única opção seria jornal, revistas e qualquer outro papel. Entrou novamente no alojamento a procura do material necessário. Lembrou-se também de uma vela, que poderia ser útil. Acabou achando até um lampião a querosene. Por sorte, sentiu que alguma coisa conspirava à favor, estava cheio de combustível. Saiu mais otimista, até assobiou alguma melodia, mas  desconhecida.

                   Já do lado de fora, estancou a alguns metros da porta do alojamento. Não encontrava justificativa para o que estava acabando de ver. – Estou enlouquecendo? – se perguntou com uma expressão tristonha. Realmente não existia explicação para o que tinha acontecido. O que via, era surreal. De repente três pontos de luz se postavam no alto do portão e da cerca, que antes estava no chão. Os portões e a cerca, misteriosamente, estavam consertados e no lugar de origem, em pé. O soldado, aonde estava, se ajoelhou e postou às mãos para o céu e agradecia pelo milagre que acabara de presenciar. Enquanto ficava ali, de olhos fechados, os três pontos de luz postaram-se em volta dele. Em frações de segundos, começaram a tomar forma. Era uma forma parecendo humana, mas quase transparente.

 ......Continua Semana que vem!