terça-feira, 25 de novembro de 2025

O Filho do Poder - Parte 2

 


Continuando...

            - Pode falar Toni. Você tem o direito: é o mais velho.

          - Que velho o quê! Tá pensando que não escutei? Para com isso! Mas vou falar. Estava pensando... – deu uma pequena pausa - Estou cansado...

          - É a velhice, não disse? – diz o irmão sorrindo -  E a sua chatice da noite anterior?

          - Porra Quim! Velhice uma ova! E ainda me chama de chato! O que eu podia fazer com a menina que não saía da minha cabeça?

          - Toni só tem uma solução: vai num pai de santo. Pede a ele para despejar a menina que está morando aí na sua cabeça.

          - Quim! Não brinca com essas coisas, não! Vai que ela aparece aqui de novo!

          - Que medo, hein! A menina é gente boa. Ela sabe que só estou brincando. Deixa ela lá e a gente fica aqui.

          - Acho melhor, mesmo.  Não vamos brincar com essas coisas não.

          - Concordo.

          - Ih! Tá com medo!

          - Que medo? Que medo?

          - Está bem, vamos esquecer esse assunto. Agora me responde uma coisa: quem dirigiu a maior parte do tempo? Eu mesmo respondo: eu. Você está aí fingindo que tá caído. Dormiu e eu não.

          - Toni, você tem coragem de dizer que eu dormi bem? Você me acordou um montão de vezes. Foram dois dias mal dormidos E você chama de dormir aquele desconforto que passei aqui na cabine, e vamos passar de novo?

          - Quim, esse papo é perda de tempo.  Você esqueceu tudo que fez. Agora fica me culpando pelo seu cansaço. Vamos ao que interessa? Com todo o nosso cansaço, acho que devemos pegar mais uma hora de estrada. Acho que com essa horinha a mais, chegamos lá no posto do Mano Alê. A gente janta e passa a noite por lá. Cedinho a gente levanta e pé na estrada. E pode deixar que eu continuo no volante até lá. Vamos andando.

          - Ei, não vai esperar por mim, não? Tá com pressa? Eu pensei que fôssemos ficar por aqui mesmo! Mais uma hora? Não olha assim não, tá bom. Estou me sentindo um pouco cansado, meio indisposto, mas dá pra dirigir por mais uma hora. Será que estou ficando gripado?

          - Gripado? – Toni dá um sorriso de deboche - Que gripado o quê, Quim! Depois daquela feijoada e aquelas cervas de ontem à noite, você me fala em gripe? Você pode estar é de ressaca ainda! E eu já estou dirigindo. Pode descansar. Gostou?

          - Pode rir. Agora me diz uma coisa: desde quando eu fico de ressaca? Para com isso Toni!  Eu sou jovem!

          - Jovem. E você acha que jovem não cansa?

          - Peraí Toni. Oh com toda estrada que pegamos ontem, eu ainda peguei àquela ruivinha. E você? Cheio de mulher bonita dando sopa e você foi se deitar. – deixou escapar um riso debochado - Toni você está ficando é velho!

          - Velho nada. Eu tinha que acordar cedo. Ou melhor: nós tínhamos que acordar cedinho. Alguém deveria estar inteiro, você não acha? Se eu não estivesse mais descansado, a gente tinha parado na hora do almoço. Se fosse contar com você, a vaca tinha ido pro brejo. Mesmo com a menina dentro da minha cabeça, consegui dormir um pouco. Ou melhor: apaguei de cansado.

                    Quim bateu com a mão no ar, deu um sorriso e disse:

          - Para com isso, papai!

          - Papai, é uma ova! E eu tenho idade pra ser seu pai? Escuta uma...

                    Ele interrompe a frase e aponta o dedo para a estrada a sua frente. Bem longe dali acontecia alguma coisa, que parecia grave. E pelo visto não estava muito longe de onde estavam. Talvez uns dez quilômetros. Aquilo pareceu um mal presságio para Toni.

          - Ih! Olha lá, Quim! Olha lá! Que clarão é aquele? Não estou gostando nada, nada dessa visão! Será algum desastre? É coisa grave, com certeza!

          - Puxa! Pode ser, mano. Parece que houve uma explosão. Acelera aí, Toni. Pode ter sido uma batida feia. Olha só. Muita claridade e muita fumaça. Isso é acidente na certa.

                    Toni então pisou fundo. A estrada naquele trecho estava deserta. Ele então optou por sair da velocidade permitida. Aí em pouco tempo chegaria ao local do sinistro. E assim aconteceu. Rapidamente já estavam bem próximo do local onde tinha acontecido o acidente.

 ,,,Continua Semana que vem!

terça-feira, 18 de novembro de 2025

O Filho do Poder - Parte 1

 


          - Quim. Quim. Você está dormindo?

          - Agora não. Você me acordou mais uma vez, né? Estava até sonhando! O que é que você quer?

          - Eu não estou conseguindo dormir.

          - Puxa, Toni! Já é a segunda vez que você me acorda!

          - Tá. Eu sei. É que a aquela menina não sai da minha cabeça. 

          - Que menina?

          - Aquela... Filha do Betão. A fantasminha.

          - Para com isso, Toni. Eu já varri isso da minha cabeça. Aquilo não existiu. Foi um sonho. Um sonho que nós sonhamos ao mesmo tempo. Esquece. Aquilo não existiu.

          - Como não existiu? Foi há dois meses!

          - Vai dormir Toni. Você com a sua mão de vaca, me fez dormir aqui dentro da cabine. Estamos debaixo desse hotelzinho, - apontando para o letreiro - que é fuleiro eu sei, mas é muito melhor do que dormir aqui dentro. Ainda mais com você me acordando toda hora, por causa daquela menina. Vai dormir, mano. Vai. Daqui a pouquinho temos que pegar estrada.

          - Mas o que é que eu vou fazer?

          - Reza pra ela! Reza!     

                    Amanheceu mais cedo. Verão é assim mesmo. Cinco e meia, já está claro. Logo que os primeiros raios de sol riscaram o chão, os dois irmãos já estavam preparados para pegar estrada.  Queriam sair antes do sol nascer, com o céu ainda salpicado de estrelas, mas não conseguiram. Só queriam encontrar o sol pelo caminho, mas mesmo assim, valeu a pena, conseguiram ver quando o sol começava a iluminar uma vasta planície, velha conhecida, e que achavam de uma beleza exuberante, que começava ali mesmo na beira da estrada, mas que parecia sem fim, até se esbarrar em algum lugar com uma montanha, que eles imaginavam existir.

                    Olhavam maravilhados aquele imenso pasto apinhado de gado branco, que não dava nem para se fazer uma estimativa da quantidade que pastava naquelas terras. Era uma propriedade a perder de vista. Nunca conseguiram ver um peão sequer, tomando conta daquela manada. Algumas vezes até pararam no acostamento tentando encontrar alguém vigiando aquele gado, mas nunca viram sinal de qualquer humano pelas redondezas. Mas o que realmente importava, era ver aquele imenso tapete branco, cobrindo o verde do pasto e brilhando sob o sol.  

                    Desde que foram para a estrada, resolveram só parar quando o cansaço estivesse chegando no limite. Nem sequer deram aquela paradinha rápida para esvaziar a bexiga, antes de completar sete horas de viagem, comendo poeira. Era claro ver o cansaço estampado na cara dos dois. Queriam ganhar tempo, mas a que preço? Sete horas direta, mas causando um imenso desgaste físico e emocional.

                  Mas não tiveram outra escolha a não ser parar. O cansaço estava acumulado por dois dias. Então, por força das circunstâncias, pararam para ir ao banheiro, almoçar e mais nada.

                  O esgotamento deles era visível. Depois do almoço, murcharam. Quim até sugeriu que dormissem um pouco, mas o irmão foi contra, mesmo sendo o que tinha dormido menos. Foi uma noite que ele mal pregou olhos. Segundo ele, a menina não saía da sua cabeça.

                 Quim acabou convencendo o irmão a parar, mesmo que fosse por meia hora. E assim foi feito. Toni preocupado colocou o seu relógio para despertar. E realmente na hora certa, já estavam de pé, mesmo com os protestos de Quim. Toni fingiu que não escutou as reclamações do irmão, ligou a carreta e foi saindo em direção à estrada. Já estavam novamente no asfalto e com a certeza, segundo Toni, que só iam parar novamente, quando a tarde começasse a se despedir do dia e encontrasse a noite.

                    Esse plano não funcionou, já que beberam muito refrigerante e tiveram que parar na beira da estrada, mais de uma vez. Mas nada de hotel ainda. Aproveitaram as paradas para esticar os músculos. Toni, então, lembrou ao irmão que para o dia seguinte, iam ter muito chão pela frente. Um dia bem puxado. Talvez mais do que esse, que findava. Quim fez um muxoxo, mas preferiu não contestar o irmão.

                   O silêncio rondou a carreta por algum tempo. Os dois pareciam que estavam sem forças até para falar. Além da parada do almoço, só pararam duas vezes para descarregar a bexiga. Coisa rápida. Na beira da estrada mesmo. De repente um olhou para o outro, parecendo que queriam dizer alguma coisa. A sintonia deles é muito grande. Aí Quim, se adiantou, sorriu e falou entre dentes, com a mão na frente da boca.

 ....Continua Semana que vem!

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Pensamento de Poeta - Saboreie os Momentos da Vida

 


Saboreie os Momentos da Vida

- José Timotheo -  

A noite escurece

Os pensamentos do dia

As dúvidas, os medos

Ganham vida

Deitam na sua cama

Participam da sua insônia

Até que você caia de cansado

Dormir, realmente não acontece

O que se materializa no sono

São as indecisões e os medos do dia

Em forma de susto

Monstros te carregam por labirintos

Te penduram em despenhadeiros

Te jogam em fossos profundos

E nem te permitem pedir socorro

Você está amordaçado pela invigilância

Por sorte nossa

Em algum momento amanhece

E isso é inevitável

É mais uma benesse divina

Então uma nesga de luz salvadora

Invade o teu quarto

E um quase moribundo

Renasce para a vida

Mas fica o alerta

Para não repetição

Do acúmulo do lixo diário de preocupações

Que te consome, normalmente, em pleno sol

Pense que a noite só é escura

Mas não deve ser medonha

Não se carrega para a cama

O lixo do dia

Somente o sono

Atenção redobrada

Pois somos um imã vivo

E as limalhas da dor nos alcança

Pesando a caminhada do dia

Ela molda os pesadelos

Deixando os sonhos serem engolidos

Por mais uma noite trevosa

Que nos soterra com o entulho

Do medo, das suspeitas

E das imaginações tenebrosas

Não se deve procurar nada

Senão, encontra

Vigiai. Vigiai sempre

Seus pensamentos podem te trair

Antecipar a dor

É deixar escapar a vida

Em pleno viver

Tudo chega na hora certa

Mas sabemos que é inevitável o fim

Enquanto isso viva

“Sem medo de ser feliz”

E... Só você é dono do seu dia

 Molda a dor ou a alegria

                                                    fim