terça-feira, 4 de março de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 45

 


Continuando...

                 Procurou silenciar os pensamentos tristes e se dirigiu até o alojamento, no setor destinado a enfermagem, e encontrou os dois amigos deitados, conversando, como se nada tivesse acontecido. Ele percebeu que eles já estavam quase recuperados da virose. Sentou-se na frente deles  e contou tudo que tinha acontecido. Acrescentou, no final do relato, que agora eram só eles três responsáveis pela fortificação. E, pela sua análise, sendo ali o lugar mais seguro, iam esperar até que viessem substituí-los. Mas eles estavam livres para fugirem na hora que quisessem. Mas deixou claro que ele ia ficar, porque lá – apontou na direção da floresta – é quase zero por cento a chance de sobrevivência. Agora fica por conta de vocês a escolha. Eu não tenho medo de ficar aqui. Aqui ainda é o lugar mais seguro, disse. Os dois soldados, aparentando muito medo, apenas balançaram as cabeças concordando com tudo que dissera. Se levantou, foi para o lado de fora, olhou o “vendaval” que passara por ali e se dirigiu até o portão derrubado. Pensou: somos três para levantar este portão e este pedaço da parede. Depois subiu para guarita, para continuar a vigiar toda a fortificação. Olhou tudo de novo e viu que nada tinha mudado.

               As pessoas circulavam e conversavam alegremente, parecendo felizes. Olhava incrédulo para àquela área isolada, devido a radiação atômica, e se perguntava se realmente tinha acontecido algum teste nuclear naquele pequeno lugarejo, dentro do nada. Colocou os cotovelos na mureta da guarita e ficou apreciando todo o movimento a alguns metros do seu nariz.

                Uma coisa não escapou aos seus olhos: as pessoas caminhavam sem tocar o chão. Já não sabia mais o que via. Esfregou os olhos e quando abriu-os novamente, não havia mais ninguém circulando naquela pequena área isolada. Só a luz continuava e mais intensa. Olhou para baixo, e o fogo tinha se apagado. Nem sombra das chamas coloridas. Pegou o seu binóculo e virou-se em direção a floresta onde os seus colegas sumiram. Vasculhou uma área grande e nem sinal de ninguém. Depois sentou-se no chão da guarita e se questionou.

              - Meu Deus. Será que eu vi alguma coisa realmente, ou foi criação da minha mente? Se foi ilusão eu sou o culpado pela morte de todos os meus amigos. Levantou-se e pensou em descer, porque achou que não tinha mais utilidade nenhuma ficar vigiando. Mal colocou o pé no primeiro degrau, viu quando o sargento acenou para ele e gritou:

              - É tudo verdade! As pessoas não morreram! Não morreram porque ninguém morre! – começou a gargalhar sem parar. Mas a sua risada estridente só era ouvida pelo soldado Oliveira, que, meio desnorteado, com as mãos tapando os ouvidos, sentou-se e, encostado na parede da guarita, adormeceu.

              Natasha abriu a porta e olhou para a câmera, e a luz vermelha estava apagada. Era 7:50 h em ponto. José Luiz saiu detrás dela e foi em direção a porta no final do corredor. Antes de abri-la, olhou para trás, deu um sorriso para Natasha e colocou a mão em cima do coração. Depois que ele atravessou a porta, e ela fez um barulho de que estava trancada, é que a câmera foi religada. Natasha então seguiu na direção do refeitório, ia passar pela mesma porta que José Antônio passara um minuto antes.      

                Como acontecia todos os dias, o café da manhã era a mesmíssima coisa. Há três anos ela bebia café com leite, comia um pão francês, um pedacinho de queijo e outro de presunto. Fazia um sanduíche. Uma vez ou outra vinha uma fruta. Uma fatia de mamão ou melão. Já estava pra lá de enjoada com aquela repetição, todo santo dia. Tomou o seu café e, pela primeira vez, largou a bandeja em cima da mesa. Mas olhou em direção de onde colocava a bandeja, pois tinha certeza que, de alguma forma, alguém estava olhando para ela. Sentiu vontade de fazer uma careta, mas se conteve. Já estava cheia daquilo tudo e saiu dali quase correndo, fazendo uma careta, sem que ninguém visse.

 ......Continua Semana que vem!

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