Continuando...
Ele não sabia a hora que saíra da estação. O tempo até o destino, não tinha a menor ideia quanto levava. Só sabia que levantava às 6 horas e o tempo que ficava aguardando na estação, até a saída do metro, não tinha mais contato com o relógio. Chegavam sempre às 12 horas, no metro de São Paulo. Acordavam com um apito. Todos se levantavam e saíam do vagão. Quanto tempo viajando? Se perguntava todas às vezes que pisava na plataforma paulista. E aquela linha do metro? Era outra incógnita, que antes não o preocupava muito, mas que agora, com as suspeitas de Natasha, apareceu no momento que pisou do lado de fora.
Ali, José Antônio, não via mais ninguém além das pessoas que embarcaram com ele. Realmente era muito estranho e suspeito aquele lugar. Já sabia de cor que a porta de saída era a mesma. E quando voltava, era por essa que entrava. Era uma linha secreta? Não sabia dizer. Ele saía distante da entrada normal do metrô. Era uma viela deserta. Nunca tinha visto ninguém passando por ali. Mas tinha sempre duas pessoas na entrada dela, e um micro ônibus a espera. Dali ia para a sua casa. Depois, nunca observou, nesses quinze dias que voltava para casa, se era vigiado por alguém quando saía à rua. Agora, não tinha jeito, ia ficar com o “desconfiometro” ligado.
Na manhã do dia seguinte, José Antônio, acordou cedo e já estava tentando montar uma estratégia para descobrir o paradeiro da enfermeira, mas a dos médicos, seria uma missão impossível, tendo em vista que não conseguira saber nada sobre a real identidade de ambos. Ia focar apenas no paradeiro da enfermeira. Se conseguisse alguma pista, já seria uma grande vitória. Deu um muxoxo ao lembrar que só tinha o nome e um sobrenome de muitos brasileiros, Silva, e a sua fisionomia, que estava gravada na sua memória e era só por aí que ia identifica-la. Seria uma questão de paciência e de muita sorte. Sabia que isso era coisa para detetive profissional. Mas não podia envolver ninguém nessa busca, só podia contar com ele mesmo, um amador. Era ele e o computador, único lugar para começar. Realmente talvez o único. Não tinha mais lugar nenhum para bisbilhotar. Depois se lembrou que Deus podia dar uma mãozinha nessa missão. Viu a sua mãe sentada na sua infância, mãe adotiva, ensinando lhe o Pai Nosso. E foi isso que fez: rezou.
Tinha conseguido o nome completo da enfermeira, com o amigo do RH, mesmo a sua ficha não existindo mais, pois fora retirada do arquivo. Ele lembrava que realmente era Carla, o seu nome verdadeiro, e o seu sobrenome também, Silva. Já as fichas dos médicos, disse que nunca existiu. Eram nomes “artísticos”, disse isso rindo. Então o seu foco não podia ser outro, a não ser Carla.
José Antônio terminou de tomar o seu café às pressas. O pão ainda nem tinha descongelado e muito menos o queijo, mas tudo por Natasha. E então a ansiedade falou mais alto. Não podia perder um segundo sequer, ia começar uma luta contra o tempo. Pensou no tempo e viu o rostinho de Natasha. Viu o seu medo e a sua dúvida de um futuro ao seu lado. Não se lembrava se tinha dito para ela que o futuro não era mais importante do que o momento que estavam vivendo naquela hora. Ela estava com medo de acabarem com a sua vida no final desses dois anos que restavam, quando encerrava o seu contrato. Dois anos era o futuro. E ninguém pode saber o que vai acontecer lá na frente. Morremos, às vezes, devido ao medo de morrer. “Não devemos antecipar o que está escrito. Até chegar o dia da morte, brindemos a vida”. Lembrou que a sua mãe sempre falava isso para ele. E ela brindou à vida até o dia da sua partida.
Enquanto pegava o seu notebook, sem perceber, os seus olhos se encheram de lágrimas. A emoção ao se lembrar da mãe, sempre brotava água nos olhos. Enxugou-o com às costas da mão e foi para a sua mesinha na varanda, para começar a sua missão. Mas antes deu uma olhada ao redor e, vendo a casa vazia, sentiu um vazio como nunca tinha sentido. Era só. O pai e mãe nunca conhecera, só tivera a mãe adotiva, que partira há dois anos. Até os dois anos, fora criando em um orfanato. Imediatamente os seus olhos encheram de lágrimas novamente, mas agora tinha que escrever uma nova história para a sua vida. Agora tinha Natasha. E era ela a responsável pelo novo capítulo da sua existência. Ia fazer tudo para as páginas não ficarem em branco. Era a sua família agora.
Ligou o computador e começou o seu trabalho. E esse seria o trabalho mais importante da sua vida. - Como começar? Se tivesse o CPF dela, seria fácil. – Pensou - Mas já que não tinha os seus dados, ia vasculhar às redes sociais. Quem sabe não encontraria alguma pista que o levasse até Carla. Mesmo com o nome completo, sabia que apareceria algumas pessoas com o mesmo nome. E logicamente vários CPFs. Ia arriscar assim mesmo. De repente conseguiria alguns endereços. Mas sem o retrato de Carla que o interessava, o seu tempo ia ser muito curto, para encontra-la e desperdiçado. Mas não deixava de ser uma esperança. Se não fosse dessa vez, seria na próxima folga. Será? Não podia decepcionar Natasha.
......Continua Semana que vem!