quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Uma Luz e Nada Mais - Parte 43

 


 Continuando...

            O sargento estava chocado e confuso com aquela visão. Há vinte anos, meses depois que acontecera o teste atômico, participara do grupo que isolara aquela área para qualquer contato com seres humanos ou qualquer outro tipo de animal. A dúvida não existia na sua cabeça. Tinha certeza que não havia qualquer sinal de pessoa viva por trás daqueles muros e de cercas eletrificadas. Como podia ver crianças correndo, sem qualquer sinal de que estavam mortas? Os seus olhos estavam arregalados. O sargento estava completamente assustado com o que via. De repente uma pequena explosão chamou sua atenção: do chão começou a brotar labaredas, de um vermelho cor de sangue, que  começaram  a circular, somente na parte externa,  da área isolada. Olhou na ânsia de ver os seus comandados. Estava um alvoroço só. Via o medo abraçar cada um daqueles soldados. Ele, sem perceber, subiu na mureta e gritou histérico.

              - É o demônio! O demônio está aqui! Os mortos se levantaram das tumbas para nos matar! É o juízo final! – e se jogou no espaço vazio, até se esborrachar no chão.

              Sem nenhum comando naquele momento, os saldados apavorados com o fogo que brotava do chão, numa correria só, se dirigiam insanos para o único ponto de fuga da fortificação, que era o  portão com mais de cinco metros de largura, com duas bandas de dois metros e meio cada uma. Devido a quantidade de soldados querendo sair ao mesmo tempo, a abertura ficou  congestionada. Parecia uma minúscula passagem para tanta gente em fuga e que  não resistindo a pressão de mãos e corpos, acabou indo ao chão, juntamente com uma parte da parede da muralha da fortificação. Com a abertura maior, parecia um estouro de gado em fuga indo em direção à floresta. Infelizmente  nem todos conseguiram chegar à  mata, já que muitos deles tombaram mortos, pisoteados pelos próprios colegas de farda, na ânsia de escaparem de um inimigo que nem sabiam quem era.

                Atravessando a área do heliporto, os soldados, já em números reduzidos, fugiam para o único lugar que pensavam ser a rota de salvação, mas sem saber que a morte já estava a espreita. Se embrenhavam na mata fechada, sem saber em que direção tomar, já que não existia mais ninguém para comandá-los, somente o medo e o desespero. E ali, onde a esperança correra mais que os pobres diabos, era, sem dúvida, o fim de um destacamento que nunca mais seria encontrado. Já que era uma missão secreta, ninguém faria qualquer busca para encontrar algum sobrevivente. O desaparecimento seria contado como num confronto com guerrilheiros que invadiram a fronteira e mataram todos os soldados do destacamento anti guerrilha. Como fora em uma área desconhecida, nenhum corpo seria resgatado. E era assim o fim de um pelotão que viajara para um destino desconhecido e que seria condecorado por bravura, soldado por soldado.  

                  Quatro deles ainda ficaram dentro da fortificação. Os dois que estavam doentes e um cabo e um soldado, que estivera na guarita, e que se atrasaram para  se certificarem se o sargento ainda estava com vida.

                  - Cabo Costa, acho que o sargento ficou tão assustado com o que viu, que acabou se desequilibrando e caiu. Ele deve ter visto mais alguma coisa que eu não tinha visto. O seu grito era de desespero. – falava o soldado que tinha ficado de vigia.

               - Soldado, pelo grito que ouvi, deve ter sido alguma coisa monstruosa. E esse fogo saindo do chão? O que é isso?

               - Cabo, nem imagino. Mas não sei o que está acontecendo comigo. Não estou com medo. O pavor que acometeu o pelotão quase todo, não aconteceu comigo.

               - Comigo também não. Senão não estaríamos aqui olhando o sargento, certo? Soldado, o que você viu lá de cima?

               O soldado Oliveira não respondeu de imediato. Ele estava tentando colocar as suas ideias em ordem. O que tinha visto, era uma coisa difícil de acreditar e explicar. Procurou as imagens, mas não sabia como apresenta-la para o amigo de farda. Aquela forte luz girando e depois o fogo saindo do chão, era ao mesmo tempo apavorante e belo. E ele dava graças a Deus por ainda estar vivo, juntamente com o cabo e os dois soldados, que estavam no alojamento.

                Os seus olhos continuavam pregados naquela misteriosa luz, agora com um tom avermelhado, misturado com verde bem claro, azul cor do céu e um amarelo ouro, cercando toda a área,  ainda com radioatividade, fruto de uma experiência atômica. E a luz girava, girava...

 .....Continua Semana que vem!

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