sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Pensamento de Poeta - Eternamente Caminhante

  


ETERNAMENTE  CAMINHANTE    

- José Timotheo -

Sou caminhante

Caminheiro errante

Mas um persistente andarilho  

Com horizonte ou não, vou em frente

A jornada é única e só minha

Interminável

E tem momento, me parece, que marco passo no meio da estrada

Mesmo caminhando sem parar

O horizonte não tem fim, sei disso

Mas não é o nunca, acredito piamente

Às vezes, até, acho sem importância a meta

Mesmo assim só paro para tomar fôlego

Isso duvidando sempre se existe um final

Mas desistir?  Não, vou sempre em frente

Andar é minha sina

E a minha busca, é apenas persistência

Monto cenas pelas estradas

Como um teatro de sonhos

Isso me dá força

Por isso o Importante é que continuo na estrada

Mesmo dando uma trégua ao próprio caminho

Pois me parece que ele precisa descansar de mim

Depois vou em frente e vez ou outra sonhando

Pés com bolhas e alma já bem calejada

Vou perseguindo um horizonte que nem sei

E continuando sem encontrá-lo

Mas isso é só para motivar a minha esperança

Sou caminhante ou não sou?

Só isso: um andarilho de vidas                 

Montando teatros

Em cada pedaço de estrada

Indo em frente sempre, com textos

Velhos textos novinhos em folha

Decorados ou não, represento sempre

Sou de um teatro itinerante, percebi

E disso me faço um eterno caminhante

                                                                    fim

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 22

 


Continuando...

                - Tem todos os órgãos iguais aos dos homens. – interferiu Dr. Walter.

            - É Walter, só o sangue que difere. Tem momentos que acho que foi uma mutação. Depois daquela explosão... – ele interrompeu e olhou para Natasha. Pela expressão não ia concluir a sua narrativa. Parece que se arrependeu de ter começado a falar de uma coisa que era quase um segredo de estado, só que o estado não sabia, e que envolvia umas poucas pessoas.  

             Natasha só estava ali para cuidar do paciente, mais nada. Desconhecia se havia experimento envolvendo aquele misterioso ser. Eles não colocaram as cartas em cima da mesa.  Nada foi mostrado claramente. E já que estava ali, não podia recuar. Então, como enfermeira formada numa universidade em São Paulo, agora trabalhava quase que como uma baba.

              Ela ouviu claramente quando ele disse, disse e se arrependeu rapidamente, que tinha havido uma explosão. Agora, explosão do quê? E onde? O Dr. Fergusson percebeu que Natasha parecia pensativa e isso o deixou com uma pulga atrás da orelha. Não querendo correr riscos, já que no meio da conversa com o outro médico pudesse escapar mais alguma coisa comprometedora, preferiu dispensar a enfermeira. Mas antes que saísse, disse para que ela voltasse dentro de meia hora.

             Com esse convite para se retirar, sem nenhuma justificativa, só fez aguçar ainda mais a curiosidade de Natasha. O fato de ter havido uma explosão em algum lugar, num tempo não determinado, e a origem dessa explosão sem explicação, fazia cocegas no cérebro da enfermeira. Devia ser alguma coisa muita séria para que o médico interrompesse o comentário e a convidasse a se retirar da sala. Em três anos, nunca havia acontecido aquilo, e ela se lembrou na hora.  Mais tarde voltaria e conversaria com Dyllon, a respeito desse comentário do Dr. Fergusson. Olhou para o relógio e marcou a hora que voltaria. Mas antes de sair, deu uma olhada discreta para os médicos, que já estavam de costas para o paciente, conversando no tom de quase cochicho.

            No mesmo instante que o Dr. Ferguson mandou Natasha sair da sala, o Dr. Walter chamou a atenção do colega.

            - Fergusson, cuidado com o que fala.

            - Mas percebi, acho que ela não pescou nada, e interrompi o comentário imediatamente. Nesses anos todos, nós nunca deixamos escapar qualquer coisa para a enfermeira. Esse descuido meu, é imperdoável. – se justificou Dr. Fergusson, meio sem jeito.

            - Não estou falando só em relação a enfermeira. Estive pensando, também, sobre o nosso enigmático paciente. Acredito, já que ele está de olhos abertos, que ele possa estar entendendo tudo que se passa ao seu redor. Não sabendo ainda o seu poder de entendimento, então toda vigilância é pouca.

           Passado o tempo, precisamente meia hora, Natasha retornou para o quarto enfermaria. Os dois médicos ainda continuavam conversando à boca miúda, mas ela não conseguia entender o que falavam, apenas ouvia alguma coisa como se fosse um zumbido. Quando perceberam a chegada da enfermeira, pararam de conversar, se viraram para Dyllon, deram uma olhadela da cabeça aos pés e se retiraram do recinto, sem ao menos olhar para Natasha.

            Com a saída deles, Natasha ainda esperou alguns minutos antes de se aproximar de Dyllon. Mal colocou a mão no seu braço, as presilhas se soltaram e ele levantou-se rapidamente. A enfermeira levou o maior susto, pois ainda não se acostumara com o fato do amigo conseguir se livrar tão rapidamente das presilhas que, para quem o via diariamente, parecia um adereço, o mantivera prisioneiro por vários anos. Ela colocou a mão na boca e conseguiu engolir o grito que já estava prestes a tomar conta da sala. Dyllon, já em pé na sua frente, apenas ria gostosamente com a cara de espanto de Natasha.

             - Meu Deus, Dyllon! Assim você me mata de susto! O meu coração está batendo aqui na boca! – colocando um dedo nos lábios - Não faz mais isso não, tá? Me avisa primeiro! Dyllon, tira esse riso da cara. Sabia que você quando ri, o rosto todo ri junto? Tá curtindo com a minha cara, Dyllon?

.....Continua Semana que vem!

 

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 21

 


Continuando...

            Dyllon, agora eu sei qual é a minha dúvida. Você passa até por dentro da parede, mas eu não. Você fica invisível, mas eu não. As câmeras não pegam você, mas a mim pegam. E tem mais: amanhã é o dia para falar com o rapaz da cabine de segurança. Que eu nem sei ainda o nome.

            - Eu agora sei. É José Antônio.

            - Como é que você sabe?

            - Escutei agora. Ele está nesse momento conversando com o chefe, de nome Juan. É um espanhol.

            - Caramba! Você escuta muito! Estão aqui fora?

            - Não, Natasha, eles estão tomando café em uma sala, depois daquela porta do final do corredor. Essa porta só é aberta com um cartão e uma senha individual. 

           - Mas eu passo por ela para ir ao restaurante. Tenho cartão e senha. Pelo menos isso, Dyllon, eu posso fazer. Além desse lugar, aqui, restrito que circulo diariamente, claro.

            - É? Então...

            Dyllon interrompeu o que estava dizendo e ficou pensativo. Depois se encaminhou para a sua cama e se deitou.  Natasha não entendeu e quando ia falar, ele pediu para que ficasse em silêncio.  De repente ela viu quando as presilhas, primeiro as dos pés e depois as das mãos, se fecharam. E por último a do pescoço. Natasha não entendeu. Dyllon olhou para ela e falou baixinho:

            - Natasha, fica sentada na sua poltrona em silêncio. Os médicos estão vindo. Estão saindo da sala agora. Vou ficar apenas de olho aberto. Não fale comigo. Ok?

            Realmente em poucos minutos os dois médicos entraram na sala. Natasha levantou-se na mesma hora. Mas eles nem sequer se dignaram a cumprimenta-la. Passaram como se ela não estivesse ali e foram direto ao leito onde estava o misterioso Dyllon. O Dr. Fergusson ficou nos pés da cama, e o Dr. Walter foi fazer um exame de rotina, apenas medindo a pressão arterial, pulsação e olhando dentro dos olhos de Dyllon, com uma lanterninha. Terminou rapidamente e em seguida sentou-se numa cadeira, no outro canto da sala, lado oposto da porta. Olhou para o colega e depois, aí sim, se dirigiu para a enfermeira.

             - Natasha, você tem dado a medicação diária?

             Natasha apenas balançou a cabeça afirmativamente.

             - Estamos pensando em prescrever mais um medicamento, mesmo que aparentemente a saúde dele esteja ótima. Já que o quadro dele não muda, temos que tentar mais alguns recursos para tentar acelerar o metabolismo do seu organismo para que volte à normalidade. Esperar mais vinte anos para ele se movimentar e falar? Isso é inviável. Vamos tentar novo tratamento. Você não notou nada diferente?

             - Não Doutor Walter. Ele continua do mesmo jeito de sempre, apenas mantém esses olhos abertos. A boca, eu é que tenho que abrir, para dar água e os medicamentos. Até que ele engole bem. Além disso, mais nada.

            - Ele pisca normalmente?

            Natasha ficou pensativa. Estava com medo de falar qualquer coisa que comprometesse Dyllon. Mas o Dr. Walter, estranhamente, ficou com o olhar perdido no nada e simplesmente demonstrou estar satisfeito com a resposta não dada por ela.  Dyllon, sem ninguém perceber, sorriu. 

             - Obrigado Natasha, pela explicação. Então o quadro é o mesmo. Mais vinte anos? Acho que não estarei mais aqui. Como uma pessoa fica vinte anos em coma, depois desse tempo todo apenas abre os olhos e... mais nada. Já tivemos alguns casos na medicina, que as pessoas ficaram até mais de vinte anos em coma, entretanto do nada voltaram ao normal. Mas esse nosso paciente, é um caso completamente diferente. Nem sabemos a origem dele. Não é da Terra. Assim concluímos. Mas de onde ele veio? O planeta de origem deve ser bem parecido com o nosso. – disse Dr. Fergusson.

.......Continua Semana que vem!

 

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 20

 


Continuando...

            Dyllon então, depois dos olhos abertos, caminhou até quase chegar à parede do quarto, a que ficava de frente para a cama, e parou. Em seguida se virou e ficou de frente para Natasha. Depois virou-se para a parede do seu lado direito e começou a se movimentar.  No primeiro passo, a sua perna  sumiu das vistas de Natasha, que arregalou os olhos e colocou a mão na boca ao ver aquele fenômeno. Dyllon deu uma paradinha, deixando apenas a cabeça aparecendo. Depois sumiu totalmente. Nesse momento Natasha achou que estava tendo uma ilusão de ótica. Aquilo não podia estar acontecendo. Pela sua cara assustada devia se sentir assistindo um filme de terror. Com muito esforço saiu daquele estado de perplexidade.

            -  Dyllon! O quê que é isso? Só posso estar sonhando! Não faz isso comigo não! Para onde você foi? Aparece e me explica isso! Pelo amor de Deus! Ah! Você é mágico! Só pode ser! Estou ficando nervosa! Estou com medo, Dyllon!

            Dyllon colocou o rosto a vista da enfermeira, mostrando-o com um sorriso. Parecia que estava achando o medo dela muito engraçado. A sensação que Natasha sentiu é que ele saía detrás de uma cortina.

            - Dyllon, como você fez isso? Estava escondido atrás de alguma coisa, não é? Isso é mágica pura. Está muito engraçadinho para o meu gosto.  

            - Natasha, precisava ver a sua cara! Pensei que você fosse ter um treco! Que mágica o quê!

             - Você me via?

             - Sim, via você normalmente, como estou vendo agora.

             - E como foi isso, Dyllon?

             - Não sei, Natasha. Agora me concentrei um pouco, para ver se ia conseguir, e deu certo. Quando fiz a primeira vez, foi sem querer. Passei pelas portas, sem nenhuma dificuldade. Andei pelo corredor. E corri também. Depois fui até a cabine onde faz o controle do sistema de segurança. Sabe que o rapaz não me viu! E o mais estranho é que continuei no corredor, apenas parado. Lá estava o meu corpo em pé. Mas era como se eu tivesse dois corpos. E você sabe que a câmera não registrou a minha presença? Nem de um corpo e nem do outro. Não sei explicar.

             - Verdade? Verdade mesmo?

             - É tudo verdade, Natasha. Por que eu ia mentir? Conseguiu perceber alguma coisa nisso tudo?

             - Não. Não sei... – coçou a nuca pensativa – Dyllon, acho que o seu espírito saiu do corpo, deixando-o em pé no corredor. Pode isso?

             - Não sei Natasha. Mas agora isso não me preocupa. O que importa mais é o que eu vi nisso tudo. E o que eu vi, foi a chance de fugirmos desse lugar perigoso, principalmente para você. Podemos, Natasha, sair daqui, sem nenhum problema. Agora mesmo, se quisermos.

              Natasha ficou pensativa, olhando para o chão. Depois caminhou em torno da cama de Dyllon, enquanto ele apenas observava os seus movimentos silenciosos. E assim o quarto ficou envolvido num silêncio quase tumular. Dyllon apenas esperava algum comentário, favorável ou não, de Natasha.

             A proposta era a solução para os seus martírios. Mas alguma coisa dizia para não se precipitar. Ela achava que tinha que falar primeiro com o rapaz do controle das câmeras. Esperava por algum comunicado dele, para o dia seguinte. E tinha mais alguma coisa que, naquele momento não sabia o que era, deixava-a em dúvida. 

             Rodou mais algumas vezes em torno da cama, ainda de cabeça baixa. De repente parou e levantou a cabeça, e olhou para Dyllon. Ele estava ansioso esperando a sua resposta, em pé no mesmo lugar onde fez a experiência de se manter invisível.

             - Natasha, qual é a sua dúvida? Não estou entendendo essa preocupação. Eu agora posso passar por qualquer lugar, sem ser visto. Se eu quiser ir embora agora, ninguém vai me impedir. Só não vou embora sozinho. Quero você do meu lado.

......Continua Semana que vem!