terça-feira, 20 de agosto de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 17

 


 Continuando...

            - Calma, Natasha. Essa ansiedade vai te atrapalhar. – disse ele sem deixar o sorriso escapar dos seus lábios.

            - Mas Dyllon, o que está havendo? Não estou entendendo esse seu riso! Fala alguma coisa! Estou ansiosa sim! Estou nervosa sim! Muito nervosa!

             - Já ouvi. Calma. Vou te contar o que escutei. O rapaz chamado William disse que vai cooperar com ele. O nome desse que você passou o bilhete é que ainda não sei. Escutei agora, ele disse para o William que vai escrever um bilhete para você explicando como vocês vão conversar. Amanhã ele vai cedo, deve ser o mesmo horário que vocês se encontraram, ver se se encontram para ele passar o bilhete.

           - Verdade? Estarei no horário! Graças a Deus! – falou Natasha emocionada, com as mãos postas erguidas para o céu.

           O dia passou para os dois de uma forma diferente. Dyllon começou a sentir algumas mudanças no seu organismo. Já era o segundo dia sem o tal medicamento que o deixava sem ânimo. Até o pensamento melhorara consideravelmente. Esse fato de “ouvir o pensamento” de um dos funcionários que comandava a segurança do local, já era simplesmente extraordinário. Agora como isso funcionava, ele não sabia. Acreditava que com o tempo poderia descobrir esse mecanismo do seu cérebro.

            Outra coisa que notou, foi a força que percebeu aumentar nas suas mãos e pernas. Já conseguia fazer pressão nas presilhas que prendiam os seus pulsos e tornozelos. De repente passou pela sua cabeça a possibilidade de se soltar. Isso fez com que deixasse escapar um sorriso de esperança. Achou essa possibilidade viável. Parecia que o sorriso não queria mais abandonar os seus lábios.

            Natasha ficou na enfermaria, se é que se podia chamar aquele quarto assim, até às 11:30 h, depois foi para o seu quarto e por lá ficou idealizando como seria o seu encontro com o rapaz. Às 12:15 foi almoçar, como sempre solitária. A comida não descia bem, mas assim mesmo foi engolindo como dava, mais devagar do que o normal. Com isso, foi ficando no refeitório mais tempo do que o de costume. Olhou para a bandeja e se deu conta que Já estava cansada de tanto fazer sozinha as refeições. Nem os médicos, de quem gerara uma antipatia crônica, sentavam com ela para tomar uma xícara de café, pelo menos. Conversar, nem pensar. O pouco que lhe dirigiam a palavra, era para informa-la dos cuidados que deveria ter com o estranho Dyllon, procedimentos que estava cansada de saber.

            Desde que Dyllon acordou, até que a sua solidão foi abrandada, pelo menos, tendo alguém para conversar, o medo de ficar muda saiu da sua cabeça. Esse medo fazia com que falasse sozinha em frente ao espelho e até com o enfermo dormindo. Já tinha até dado um nome para a sua imagem, sua companheira de infortúnio, quem ouvia as suas queixas e seus sonhos, que a esperavam fora dali, em silêncio.

             Natasha não conseguia entender como os médicos não davam a mínima importância para ela. Lembrava-se de como lutou para se formar na faculdade em enfermagem. Nascida na periferia de São Paulo, numa comunidade carente, sem horizonte nenhum, brigou pela sobrevivência para não morrer de fome e de indigência. Foram anos de invisibilidade, mas nunca esmoreceu, apostou na esperança e entrou no mundo real. Lutou e conseguiu, entretanto nunca podia imaginar que um dia estaria confinada numa base, com a dúvida de estar viva no final do contrato, de cinco anos.

           Os anos na faculdade foram de muito estudo e de sonhos sem limite. Sabia que, se formando, teria uma grande chance de sair e puxar a sua família daquele bolsão de miséria. “O futuro, pensava, vai ser de bonança, pois a tormenta está acabando”. E esse futuro chegou mais cedo do que imaginara. Se achou uma pessoa de sorte. Recém-formada, e um emprego batendo à sua porta, não é para qualquer um. Ainda mais sem ter nem estagiado. Uma fortuna que iria receber, cerca de um milhão de reais, fora o valor mensal que seria depositado na conta da sua mãe, pois ali onde estava não teria como gastar, tiraria toda a sua família da miséria. Mas isso tinha um preço. E esse preço seria se afastar da família e do mundo por cinco anos.

          A enfermeira mastigava aqueles pensamentos e se perguntava como não percebera que aquele presente, que caíra do céu, era um presente de grego. Era muito fácil aquilo tudo, para não perceber que poderia ser uma armadilha. Tinha que ter pensado e repensado muito a proposta que lhe fora apresentada, antes de entrar de corpo e alma naquela aventura. Se lembrou da sua avó materna, Dona Rosário, que dizia que rezar demais para Deus, deixa Ele com uma pulga atrás da orelha. Depois dessa lembrança, deixou escapar um sorriso tímido, mesmo não entendendo  o que aquilo queria dizer.

 ....Continua Semana que vem!

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