terça-feira, 27 de agosto de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 18

 


Continuando...

                Natasha saiu do refeitório e se dirigiu para o seu quarto.  Pensou que fosse dormir um pouco, mas não conseguiu. Os pensamentos eram muitos e atropelados, não a deixando encontrar a sua soneca diária, causada unicamente pela ansiedade que se abraçara a ela nos últimos dias. Como não tinha conseguido pregar olhos, pensou em ir para o quarto onde estava o estranho Dyllon. Mas olhou para o relógio de cabeceira e achou muito cedo, então ia, pelo menos, descansar os ossos.  Manteria o mesmo horário que vinha fazendo há anos: 14:30 h. Mesmo sabendo que não ia dormir, fechou os olhos, e deixou cair uma lágrima de tristeza.

             Depois que Natasha saiu, Dyllon percebeu que alguma coisa a mais estava acontecendo com ele. Algum tempo depois, ouviu os pensamentos da enfermeira e sentiu a sua angústia. A sua tristeza chegou até ele com uma gota de lágrima. Ficou assustado com aquele fato, que não foi só uma sensação, foi uma coisa verdadeira. O rosto de Natasha chegou até ele, e a lágrima que desceu dos seus olhos, caiu no seu rosto. Essa lágrima se misturou com a sua, que acabara de descer também.   

                     Dyllon olhou para os seus pés e como num passe de mágica as abraçadeiras se abriram. Em seguida olhou para as suas mãos e aconteceu a mesma coisa. E por último a que prendia o pescoço. Estava livre, simples assim! Agora, pensou, como aconteceu isso? E o que fez automaticamente, foi levantar o tronco e ficar sentado na cama. Depois, com um pouco de medo, achando que não conseguiria ficar de pé, saiu da cama. Arriscou e deu tudo certo. Nem parecia que estivera tanto tempo ali deitado. Caminhou pelo quarto livremente. Estava se sentindo muito bem. Nada o estava impedindo de sair dali. E foi o que fez. Só que levou um susto, ao perceber que não precisou abrir a porta, pois quando ia colocar a mão na maçaneta a porta se abriu. Só que depois dessa porta, tinha uma outra porta de segurança, gradeada, que era aberta pelo funcionário de plantão, pelos médicos ou por Natasha. Ele viu o rapaz que monitorava todo aquele setor da base. Mas o mais estranho, percebeu Dyllon, ele não o vira. Até olhou em sua direção, mas, realmente, não percebeu a sua presença. Mesmo assim o estranho paciente, fez meia volta para retornar para o quarto, só que passou por dentro da porta. E só foi perceber isso quando viu a porta fechada atrás de si. Ficou assustado, mas meteu a mão na porta e qual não foi a sua surpresa, ao ver a sua mão e uma parte do braço passar pela madeira. Ficou surpreso e ao mesmo tempo feliz, então nem quis colocar a mão na maçaneta e passou todo o corpo para fora do quarto. Em seguida passou pela porta de ferro, sem nenhuma dificuldade. Se deparou com um longo corredor. Parou e se viu olhando a tv que aparecia todas as câmeras daquele setor e de toda a base. Todos as salas que eram de trabalho, apareciam também. Cada canto tinha uma câmera de vigilância.   As pessoas e a voz de cada uma chegavam nitidamente naquele cubículo comandado pelo funcionário. Apenas os dormitórios não eram monitorados, as câmeras apenas vigiavam até a entrada do quarto. 

               O corpo de Dyllon estava no corredor, parado, enquanto outra parte dele estava dentro da cabine, olhando o monitoramento. Mirava quadro por quadro da tela da tv e via cada canto daquele lugar. Viu as pessoas se movimentando, trabalhando e ainda ouviu-as conversando. Só não apareceu a sua própria imagem. Não entendeu o que estava acontecendo. Como podia estar ali e seu corpo em pé no corredor? Coisa difícil para ele responder. E mais perguntas zanzavam na sua cabeça, como ter passado por dentro das portas e a sua invisibilidade. Isso mesmo, estava invisível para o rapaz da cabine e para as próprias câmeras. Estava assustado. O que está acontecendo com ele?  

             O misterioso paciente voltou para o corredor e deu movimento ao seu corpo. Aquilo tudo era muito interessante, ele voltar sem sair. Sentiu vontade de rir. E foi o que fez, mas dando uma gostosa gargalhada. Depois saiu correndo e pulando pelo corredor. Em cada porta que passava, ouvia o pensamento das pessoas. E uma coisa interessante que observou, era que   algumas delas falavam coisas amáveis, mas pensavam o oposto em relação ao seu colega de trabalho. De repente ficou triste com aquilo. Continuou a caminhar, mas sem pular. Atravessou portas e mais portas, até se enjoar e resolver voltar. 

...Continua Semana que vem!

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Pensamento de Poeta - Na Teia do Amor

 


NA TEIA DO AMOR

- José Timotheo -

Um vento leve

Penteou os seus cabelos

Ou os seus cabelos

Moldaram a brisa?

Balança, balança

Até que sou envolvido

No seu vendaval

Não tenho mais como sair

Nem posso me socorrer

Não há mais tempo

Acho-me nas últimas

Estou morrendo de amor

                                                     FIM




terça-feira, 20 de agosto de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 17

 


 Continuando...

            - Calma, Natasha. Essa ansiedade vai te atrapalhar. – disse ele sem deixar o sorriso escapar dos seus lábios.

            - Mas Dyllon, o que está havendo? Não estou entendendo esse seu riso! Fala alguma coisa! Estou ansiosa sim! Estou nervosa sim! Muito nervosa!

             - Já ouvi. Calma. Vou te contar o que escutei. O rapaz chamado William disse que vai cooperar com ele. O nome desse que você passou o bilhete é que ainda não sei. Escutei agora, ele disse para o William que vai escrever um bilhete para você explicando como vocês vão conversar. Amanhã ele vai cedo, deve ser o mesmo horário que vocês se encontraram, ver se se encontram para ele passar o bilhete.

           - Verdade? Estarei no horário! Graças a Deus! – falou Natasha emocionada, com as mãos postas erguidas para o céu.

           O dia passou para os dois de uma forma diferente. Dyllon começou a sentir algumas mudanças no seu organismo. Já era o segundo dia sem o tal medicamento que o deixava sem ânimo. Até o pensamento melhorara consideravelmente. Esse fato de “ouvir o pensamento” de um dos funcionários que comandava a segurança do local, já era simplesmente extraordinário. Agora como isso funcionava, ele não sabia. Acreditava que com o tempo poderia descobrir esse mecanismo do seu cérebro.

            Outra coisa que notou, foi a força que percebeu aumentar nas suas mãos e pernas. Já conseguia fazer pressão nas presilhas que prendiam os seus pulsos e tornozelos. De repente passou pela sua cabeça a possibilidade de se soltar. Isso fez com que deixasse escapar um sorriso de esperança. Achou essa possibilidade viável. Parecia que o sorriso não queria mais abandonar os seus lábios.

            Natasha ficou na enfermaria, se é que se podia chamar aquele quarto assim, até às 11:30 h, depois foi para o seu quarto e por lá ficou idealizando como seria o seu encontro com o rapaz. Às 12:15 foi almoçar, como sempre solitária. A comida não descia bem, mas assim mesmo foi engolindo como dava, mais devagar do que o normal. Com isso, foi ficando no refeitório mais tempo do que o de costume. Olhou para a bandeja e se deu conta que Já estava cansada de tanto fazer sozinha as refeições. Nem os médicos, de quem gerara uma antipatia crônica, sentavam com ela para tomar uma xícara de café, pelo menos. Conversar, nem pensar. O pouco que lhe dirigiam a palavra, era para informa-la dos cuidados que deveria ter com o estranho Dyllon, procedimentos que estava cansada de saber.

            Desde que Dyllon acordou, até que a sua solidão foi abrandada, pelo menos, tendo alguém para conversar, o medo de ficar muda saiu da sua cabeça. Esse medo fazia com que falasse sozinha em frente ao espelho e até com o enfermo dormindo. Já tinha até dado um nome para a sua imagem, sua companheira de infortúnio, quem ouvia as suas queixas e seus sonhos, que a esperavam fora dali, em silêncio.

             Natasha não conseguia entender como os médicos não davam a mínima importância para ela. Lembrava-se de como lutou para se formar na faculdade em enfermagem. Nascida na periferia de São Paulo, numa comunidade carente, sem horizonte nenhum, brigou pela sobrevivência para não morrer de fome e de indigência. Foram anos de invisibilidade, mas nunca esmoreceu, apostou na esperança e entrou no mundo real. Lutou e conseguiu, entretanto nunca podia imaginar que um dia estaria confinada numa base, com a dúvida de estar viva no final do contrato, de cinco anos.

           Os anos na faculdade foram de muito estudo e de sonhos sem limite. Sabia que, se formando, teria uma grande chance de sair e puxar a sua família daquele bolsão de miséria. “O futuro, pensava, vai ser de bonança, pois a tormenta está acabando”. E esse futuro chegou mais cedo do que imaginara. Se achou uma pessoa de sorte. Recém-formada, e um emprego batendo à sua porta, não é para qualquer um. Ainda mais sem ter nem estagiado. Uma fortuna que iria receber, cerca de um milhão de reais, fora o valor mensal que seria depositado na conta da sua mãe, pois ali onde estava não teria como gastar, tiraria toda a sua família da miséria. Mas isso tinha um preço. E esse preço seria se afastar da família e do mundo por cinco anos.

          A enfermeira mastigava aqueles pensamentos e se perguntava como não percebera que aquele presente, que caíra do céu, era um presente de grego. Era muito fácil aquilo tudo, para não perceber que poderia ser uma armadilha. Tinha que ter pensado e repensado muito a proposta que lhe fora apresentada, antes de entrar de corpo e alma naquela aventura. Se lembrou da sua avó materna, Dona Rosário, que dizia que rezar demais para Deus, deixa Ele com uma pulga atrás da orelha. Depois dessa lembrança, deixou escapar um sorriso tímido, mesmo não entendendo  o que aquilo queria dizer.

 ....Continua Semana que vem!

terça-feira, 13 de agosto de 2024

Uma Luz e Nada Mais - Parte 16

 


Continuando...

        Natasha, depois de caminhar ao redor da cama de Dyllon, já tinha perdido a conta de quantas vezes fizera isso, parou repentinamente e colocou a mão fria no braço do estranho enfermo. Esse toque fez com que Dyllon saísse da carga de pensamentos que o envolvera durante um tempo que não saberia mensurar e lembrasse da enfermeira. Foi aí que ele percebeu que ela tinha parado de andar em volta da sua cama. Respirou fundo uma, duas vezes.

            - O que houve, Natasha? – perguntou em seguida.

            - Estou pensando, só isso.

            - Mas pensando em quê, Natasha? – quis saber, já demonstrando uma grande curiosidade.

             - Dyllon, muito estranho você conseguir saber o que aquele rapaz estava pensando e não ler o meu pensamento. Acho que não acredito.

            - Você acredita que eu inventei isso? Escutei sim ele pensando, mas não sei o porquê, não consigo saber o que você pensa. Por isso me considera um mentiroso? 

            Ela parecia sem ação. Talvez não conseguisse, naquele momento, responder. Na verdade, estava envergonhada ao duvidar do que ele dissera. Como duvidar de uma pessoa que estivera vinte anos dormindo? Mesmo não o conhecendo, não era motivo para duvidar dele. Natasha deu um sorriso meio sem jeito e realmente sem graça respondeu-o.

            - Não é isso Dyllon. Desculpe. Mesmo não sabendo quem você é, não tenho o direito de questioná-lo. Puxa vida, nunca me senti tão encabulada! A minha intenção não foi magoa-lo. Você me...

            - Deixa pra lá, Natasha. – ele não esperou para ver se ela tinha mais alguma coisa para dizer, interrompendo-a. – Me diz uma coisa: o turno desse rapaz terminou ou começou, na hora que você veio para cá?

             - Terminou às sete horas. Você me desculpa?

             - Tudo bem, Natasha. Não tenho o que desculpar. Vamos ao que interessa mais nesse momento. Então o próximo turno dele vai ser amanhã às sete?   

             - Isso. O que é que você pensou?

             Dyllon ficou pensativo olhando para o teto, na verdade era o único lugar que podia olhar, além da parede a sua frente. Ainda não tinha uma solução para passar para ela. Nisso ouviu o rapaz conversando com alguma pessoa. Não conseguia entender o que eles falavam. Escutou um nome: William.

             - Natasha, quem é William? – perguntou  sem, no entanto, se desligar da conversa dos dois.

             - Não sei. – Natasha respondeu com uma ponta de tristeza.

             - Ele está conversando com alguém.

             - Quem, Dyllon?

             - Esse tal de William. Me deixa ouvir mais. A conversa não está muito clara. Mas... agora ele falou no seu nome.  

             - O que ele disse? – falou ansiosa a enfermeira.

             - Não sei. Melhorou. Ele pegou o seu bilhete. Não sei porquê, mas agora estou ouvindo melhor. Ele fala sobre o seu bilhete e pede ao colega se ele pode ajudá-lo a conversar com você. O outro lembra-o da proibição de eles não poderem manter qualquer tipo de contado com a enfermeira, no caso você.

             - Por que não podem falar comigo?

             - Ué! No seu contrato você também não é proibida de manter qualquer tipo de relacionamento com outros funcionários? Então, eles, pelo menos com você, também são proibidos de manter qualquer laço de amizade ou sei lá mais o quê.   

             - É isso mesmo. Às vezes que passei por ele, quase nem olhou para mim. Quando falava, era um bom dia, entre dentes.

             Dyllon ficou em silêncio e direcionou o seu olhar para cima, parecendo  que estava tentando saber de mais alguma coisa. Natasha o olhava insistentemente, mas ele se manteve calado, sem atender os seus apelos mudos. Absorto estava e absorto continuou, deixando claro que não ia falar nada, pelo menos naquele momento, e então cerrou os olhos.

               A enfermeira, parecendo decepcionada, fez um muxoxo e ameaçou ir senta-se na poltrona. Mesmo de olhos fechados ele percebeu a sua intenção e, antes que se virasse, deixou escapar um sorriso. Natasha viu e bateu levemente em seu braço.

......Continua Semana que vem!