terça-feira, 11 de julho de 2023

A Minha Casa Não é Essa - Parte 61

 


 Continuando...

        Mohammed perdeu o amigo de vista. Levantou-se, olhou na direção do túnel à sua frente e achou estranho a demora dos soldados. Mesmo com a dificuldade de locomoção, pois carregavam um peso extra, não justificava tanta demora. Já estava ali há algum tempo, tempo suficiente para que eles atravessassem aquela distância sem problema algum. Isso lhe causou um mau presságio. Ficou inquieto. Movimentou-se de um lado para o outro, demonstrando o quanto estava tenso. Mesmo sabendo que para arrastar o grandalhão do John não seria coisa fácil, isso não era motivo suficiente para tamanho atraso. – Alguma coisa não está cheirando bem! – pensou, deixando transparecer o seu estado de preocupação. Torceu a ponta da orelha: gesto característico quando ia tomar alguma decisão. Mirou o túnel e decidido foi em sua direção. Mas parou antes de ir em frente, pois achou que deveria avisar ao amigo Rachid da sua decisão de ir ao encontro dos soldados. Olhou para o caminho que tinha ido o amigo, na esperança de vê-lo, entretanto constatou que não havia nem sombra dele. Então resolveu gritar, pelo menos para deixa-lo a par da sua decisão, todavia abortou a sua intenção no meio da garganta, achando que ele não iria dar a mínima importância para o seu gesto. Com isso apenas acenou para ninguém e foi na direção de onde estavam os soldados.

          O menino caminhava arrastando o peso da preocupação. Até onde tinha andado, nada encontrou que mostrasse uma suposta presença deles por ali. Mas também nada justificava essa sua procura por qualquer vestígio, tendo em vista que o caminho era só aquele. A não ser que tivessem escolhido outro caminho, indo pelo outro túnel. Achava essa suposição inviável. O sargento não ia manda-los seguir aquele túnel e depois mudar assim, sem mais nem menos de direção.

          Mohammed parou e ficou pensativo. Depois calculou a extensão que já tinha andado e a que ia andar. Fez uma estimativa do comprimento, por alto, em torno de cem metros. Já tinha andado, mais ou menos, trinta metros. Então tinha setenta metros pela frente. Mal começou a andar, observou, ao iluminar o fundo do túnel, com a sua pequena lanterna inseparável, que uma névoa branca, parecendo uma serração, avançava em sua direção. Ficou assustado e gritou pelo sargento:

           - Sargento Téo! Sargento Téo! Cadê vocês?

           Não obteve nenhuma resposta ao seu chamamento. Ficou em silêncio por alguns segundos para tentar escutar alguma coisa, mas como não ouviu nada, voltou a gritar pelo nome do sargento. Chamou mais uma vez, mais outra, mais e mais, até perder a conta. O único som que chegou até ele, foi o eco, mas quase apagado. Achou até que era um som sofrido que voltou para ele. Olhou para o braço e viu que estava arrepiado e isso não era bom. Para ele era um mau sinal. Pensou então em retornar e procurar Rachid para fugirem dali o mais rápido possível. Entretanto sentiu a consciência pesar, ao pensar em fugir dali sem ao menos procura-los. Pensou na dor que poderiam estar passando, envolvidos naquele gás, que não sabia de que natureza era. Então botou o coração na frente e se colocou no lugar deles. Depois dessa breve reflexão não pensou duas vezes, decidindo por socorrê-los.  Num ato continuo, meteu a mão no bolso e tirou um lenço, que trazia bordados duas iniciais: O e H. Há alguns anos olhava aquelas letras, mas nunca conseguiu descobrir o que elas representavam. Eram duas letras que escondiam o passado. O seu misterioso passado.

          Enquanto olhava para o lenço, de repente surgiu na sua mente vários camelos, cavalos e um grupo com aproximadamente quinze pessoas. Essas pessoas estavam em volta de uma fogueira conversando e comendo alguma coisa. Depois se viu dentro de uma tenda, que na hora percebeu que aquilo era a sua prisão, pois estava com as mãos e os pés amarrados. Dali, por um rasgo da tenda, via tudo que se passava do lado de fora. Tentou escutar o que diziam, mas não conseguia ouvir nada. De vez em quando uma ou outra gargalhada atravessava a noite. E era só isso.

          Como veio, esse rasgo de pensamento se foi. Balançou a cabeça, como se quisesse botar as imagens de novo no lugar, mas a única coisa que conseguiu foi bater com a cabeça na parede da tubulação, ocasionando com isso alguma dor e a presença de várias estrelas. Ficou esfregando a cabeça no lugar que tinha dado a pancada, pensando que, com isso, os seus pensamentos pudessem voltar. Ledo engano, não conseguiu mais lembrar-se do que tinha aparecido rápido e sumido mais rápido ainda. Já nem sabia mais como tinha batido com a cabeça na parede do tubo. Mistério.

          Mohammed pegou uma garrafa de água mineral que trazia no bolso e encharcou o seu lenço com ela. Depois desenrolou um pouco o seu turbante e com a sobra, envolveu a testa e foi enrolando até o pescoço, deixando apenas os olhos de fora e as narinas. Em seguida pegou o lenço molhado e cobriu o nariz. Em um dos bolsos da sua roupa pegou uns óculos usado para natação, que era a sua companhia constante, caso houvesse alguma emergência, e esse era o caso. Estava se sentindo protegido, então encarou a fumaça esbranquiçada.

 

          Rachid continuava se distanciando do amigo. Andava rápido, resmungando alguma coisa, mas ainda com as mãos tapando o ouvido, para não escutar qualquer chamamento de Mohammed. Tinha decidido voltar somente depois que refrescasse um pouco as ideias. Andou até encontrar outro local igual ao que tinha saído. Olhou para o túnel da frente, depois para o da sua esquerda e em seguida para o da direita. Decidiu-se então por esse último. E foi em frente.

         O menino ao apontar a sua lanterna para o fundo do túnel percebeu que, mesmo sendo uma luz fraca que saia da sua lanterna, o ambiente ficara com boa luminosidade. Olhou para aquele corredor iluminado, e apagou a lanterna. Para a sua surpresa, o túnel continuou aceso. Achou estranho, mas deu de ombro e foi em frente. A alguns metros à frente viu um ponto, a sua direita, brilhar. Aquilo chamou a sua atenção, atraiu-o, fazendo com que acelerasse os passos. Chegou bem próximo e viu uma caixa, com aproximadamente 50x50 cm, presa na parede da tubulação. Observou que tinha um pequeno botão do lado direito. Como a curiosidade falou mais alto, apertou-o. Lentamente uma portinhola de duas bandas foi abrindo, deixando a amostra algumas garrafas de água mineral, pacotes contendo alguma coisa, que não identificou – biscoitos talvez - e mais outros pacotes opacos lacrados. Não aguentando a tentação, pegou um desses pacotes. Ao tirá-lo, um ponto, no fundo do pequeno armário, brilhou, chamando a sua atenção. Não pensou duas vezes e enfiou a mão até tocá-lo e em seguida apertá-lo. Como num flash, foi engolido e cuspido para o outro lado. Levantou-se assustado. O local estava em completa escuridão, mas a sua frente um pequeno ponto brilhava. Foi até ele, mas antes que encostasse o dedo, o local virou dia. Quando se virou para fazer um reconhecimento do compartimento, quase caiu do susto que tomara. O seu raciocínio ficou lento. Não conseguia atinar no que estava vendo.

 

          Na superfície, quatro bandidos ou guerrilheiros deslizavam entre os escombros. Silenciosos se aproximavam da entrada do porão. O que parecia o chefe, trazendo uma pequena lanterna com um foco de luz bem fraquinho, sinalizou para que eles parassem. Os três terroristas entenderam o código e estancaram imediatamente. Depois ele apontou a luz para o que estava por último, o que levava a bazuca, e sinalizou mandando-o recuar mais. Ele então obedeceu e foi recuando até onde o chefe sinalizou para que parasse. Como era noite de lua cheia, ele conseguia ver os movimentos dos seus amigos, mesmo não tendo uma visibilidade cem por cento

 .......Continua na Semana que vem!

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